De Covas a Alckmin, o mesmo esquema |
Muitas pessoas que se manifestaram nas ruas em junho contra
a corrupção e os políticos, empunharam cartazes contra a PEC 37, que ficou
conhecida equivocadamente como “PEC da impunidade”.
A PEC 37, estigmatizada pelo Ministério Público e por muitos
cidadãos que nem sabiam do que estavam falando, não fazia nada mais do que
deixar clara uma determinação que já está na Constituição de 1988: as entidades
responsáveis pelas investigações criminais são a Polícia Federal e a Polícia
Civil, e ao Ministério Público incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, e suas funções
são promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos. Tudo isso é a Constituição quem diz.
Pois bem, após o escândalo divulgado pela revista IstoÉ
sobre o propinoduto tucano de desvio de R$ 400 milhões (valor que é uma
ficção, porque na realidade é muito mais) pelo esquema do cartel de
multinacionais, que trocavam (e trocam) contratos de obras e projetos do Metrô
e da CPTM por propinas a políticos tucanos desde o governo Mário Covas, a
questão do Ministério Público volta à tona. O PT tem 15 representações junto ao
MP desde 2008, pedindo apuração das denúncias de propinas pagas pela Alstom a
tucanos ligados ao governo estadual, das quais 13 estão sob sigilo e duas não
têm resposta até hoje.
Onde estão, no caso da corrupção tucana, a celeridade e poder de investigação do Ministério Público?
Esta semana, o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT)
disse à Rádio Brasil Atual que o MP de São Paulo está demorando muito a agir. “A
impressão é que foi montada uma estrutura de corrupção entre a empresa Siemens
e a Alstom, que é outra empresa que opera no Metrô e CPTM, inclusive com
repasses a executivos importantes do Estado. Viemos fazendo denúncias desde
2008 de irregularidades em contratos e não apuradas pelo MP estadual ou pelo
Tribunal de Contas do Estado”, disse Marcolino.
Na semana passada, o deputado petista João Paulo Rillo (PT),
que entrevistei para a RBA, protocolou pedido de apuração de denúncias de
desvios de recursos públicos do Metrô e da CPTM ao procurador-geral de Justiça
do Estado de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa. Disse o deputado Rillo: “Espero
que depois de tanto debate sobre a necessidade da liberdade de investigação do
Ministério Público e de se garantir suas funções, elas sejam realmente aplicadas
neste caso também”. O petista acrescentou: “É o que eu espero, para não ficar
com a impressão de que o Ministério Público é seletivo e tem mais vontade de
investigar coisas contra o governo federal do que contra o estadual”.
Pois é. A PEC 37 foi arquivada, o MP ganhou e estamos
esperando resultados das investigações sobre os escândalos que começaram no
governo de Mário Covas, governador do Estado de São Paulo de 1995 a 2001,
quando morreu e foi sucedido pelo então vice Geraldo Alckmin, hoje governador. Um
verdadeira roda viva sem fim.
O esquema denunciado pela Siemens ao Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) vem de longa data e envolve gigantes como Alstom,
Bombardier, CAF, Siemens, TTrans e Mitsui, entre outras empresas.
O Ministério Público está com a palavra. Até agora, e já faz
anos, está mudo.
A íntegra da primeira matéria da IstoÉ sobre o escândalo está aqui: O esquema que saiu dos trilhos
A íntegra da primeira matéria da IstoÉ sobre o escândalo está aqui: O esquema que saiu dos trilhos
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