sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Saída de Alessandro Molon do PT é um gesto isolado ou indica uma tendência?



Gustavo Lima/Câmara dos Deputados


Péssima notícia, para o PT, o anúncio de desfiliação do deputado Alessandro Molon, do Rio de Janeiro. Ele deixa o partido para se filiar à Rede Sustentabilidade, que obteve esta semana o registro no TSE e agora é oficialmente um partido.

A notícia, que pegou muita gente de surpresa, indica estar correta a avaliação da cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), com quem conversei ontem para uma matéria para a Rede Brasil Atual sobre os novos partidos que obtiveram registro no TSE (a própria Rede e o Partido Novo – agremiação de direita assumida cujo ideário não tem nada de novo – mas isso não vem ao caso aqui).

Para Maria do Socorro, a estratégia da Rede Sustentabilidade, sob o comando de Marina Silva, é tentar ocupar um espaço à esquerda. Esse espaço que está aberto com a atual crise de representação e com a rejeição de grande parte da população a partidos como os conhecemos. “Existe um espaço a ocupar à esquerda. Esse espaço, PSTU e PSOL não conseguiram ocupar, não conseguiram a envergadura de um PT quando o partido de Lula começou a crescer nos anos 1990”, diz a professora.

O "passe" de Alessandro Molon dá à Rede no Rio de Janeiro um quadro combativo cuja perda o PT tem (ou deveria ter) muito a lamentar.

No Congresso Nacional, assim como Maria do Rosário, do PT gaúcho, Molon era um dos que seguravam os embates mais ferrenhos na defesa de princípios históricos de um tempo em que a pragmática não era exatamente a principal conselheira do partido de Lula e Dilma Rousseff.

As informações que circulam no Rio de Janeiro são de que Molon estava muito contrariado com a aproximação entre o PT e o PMDB no estado. Não custa lembrar que o manda-chuva no PMDB no Rio de Janeiro é ninguém menos do que Eduardo Cunha. Há duas semanas, o agora ex-petista declarou que "o PT do Rio está se rendendo ao PMDB e virando refém".

Nas polêmicas votações do financiamento privado de campanhas eleitorais e da maioridade penal, levadas a cabo com o tacão de ferro de Eduardo Cunha, Molon foi um dos que promoveram os debates mais acalorados contra as manobras de Cunha. “No Parlamento está se gerando instabilidade institucional e hipertrofia dos poderes de alguns em detrimento do poder de todos”, me disse Molon em entrevista à RBA.

No Rio, o que se diz é que o PT, presidido por Washington Quaquá (francamente, isso é nome de presidente de partido?), deve apoiar o candidato do PMDB à prefeitura. É uma situação de fato insustentável para um quadro como Molon. Mas, saindo do PT, ele abre novos horizontes a seus próprios projetos, já que tem todas as condições de ser ele mesmo o candidato da Rede à prefeitura.

Em entrevista que fiz em março com o cientista político André Singer, ele fez a seguinte análise (claro que bem mais simples do que a desenvolvida no seu livro Os sentidos do lulismo): “Na medida em que o PT foi estabelecendo um padrão de alianças indiscriminadas, alianças eleitorais, acho que o PT começa a perder a sua cara própria e começa, justamente, a predominar aquilo que chamo de segunda alma. De 2002 para a frente, mudou. Aqueles que representavam a primeira alma do PT ficaram no partido, mas ela não predomina mais no PT”.

A questão, portanto, é saber se o emblemático gesto de Molon de sair do PT é isolado ou se pode significar uma tendência dos grupos mais à esquerda do partido, os representantes do que Singer chama de “primeira alma” do partido. Se a saída de Molon for um indício de que essa alma está de fato abandonando a legenda, isso representaria o fatal esvaziamento de tudo o que o PT representou desde sua fundação. 

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