Reprodução
Há três anos e meio publiquei neste blog o post linkado
abaixo (ou aqui). Na época, poucos estavam interessados no que acontecia na
Síria, um dos países mais importantes do Oriente Médio, e consequentemente do
mundo. Sua capital, Damasco, além de ser historicamente riquíssima, sempre foi talvez
a mais laica e culta daquela região. Damasco ainda permanece de pé e se mantém
como bunker do presidente Bashar al-Assad. É como se a capital estivesse sendo
preservada enquanto o resto do corpo (o país) vai sendo consumido pela doença.
A Síria é um ponto geopoliticamente estratégico do planeta,
como qualquer pessoa minimamente informada pode entender vendo o mapa aqui
publicado.
Era óbvio em 2012, na verdade desde o início do conflito, em
2011, o interesse na destruição da Síria como país, pois sua simples presença era
uma ameaça à hegemonia israelense e estadunidense na região. A Síria era uma
nação militar, cultural e politicamente incômoda. Uma ameaça tênue, é verdade,
pois não poderia ameaçar de fato o maior império da Terra e seu preposto
sionista. Mas, tênue ou não, uma ameaça não pode ser tolerada pelo império
americano e sionista.
Mas ninguém falava nada. Na época, havia um silêncio quase
unânime sobre a tragédia anunciada. O silêncio e a indiferença estavam na
mídia, no jornalismo "alternativo", nas reuniões de amigos.
O jornalista Pepe Escobar era um dos únicos que rompiam essa
indiferença diante da catástrofe anunciada da Síria. No meu post de 2012, eu
citava uma análise do jornalista:
A crise síria “está fazendo aumentar os temores, no mundo em
desenvolvimento, de uma insurreição armada apoiada pelo Ocidente, para tentar
recriar, na Síria, o caos criado na Líbia. Segundo Escobar, o governo Assad não
cai porque mais da metade da população síria ainda o apoia". O texto mencionado de Pepe Escobar, de 2012, está aqui.
Assad ainda não caiu, mas seu governo é hoje como uma alma
sem corpo. O Departamento de Estado dos Estados Unidos defende que o presidente
sírio renuncie para “facilitar” a luta contra o Estado Islâmico (EI – ou ISIS
na sigla em inglês). É o cinismo habitual do país de John Wayne.
E agora, depois de anos de indiferença, agora que apareceu o
corpo de uma criança morta numa praia da Europa, todo mundo ficou indignado.
Todo o mundo parece ter acordado de um sono indigno. Muitos manifestam
sentimentos verdadeiros, mas isso tudo seria piegas, se não estivéssemos
falando de uma tragédia planetária e histórica. Mas estamos.
Meu coração está partido pela Síria, mas não é porque agora
apareceu aquela criança morta. Eu já estava triste antes.
A tristeza do mundo já deveria ter batido antes, a indignação precisaria ter se manifestado antes. Muitas crianças já morreram antes. Agora é tarde. A indignação agora é tardia e hipócrita.
Ainda: A violência em Homs, minha história e o que importa ao mundo: qual o futuro da Síria?
A tristeza do mundo já deveria ter batido antes, a indignação precisaria ter se manifestado antes. Muitas crianças já morreram antes. Agora é tarde. A indignação agora é tardia e hipócrita.
Ainda: A violência em Homs, minha história e o que importa ao mundo: qual o futuro da Síria?
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