sábado, 8 de agosto de 2015

O que está por trás da atitude da Globo?



Cadu Gomes/Fotos Públicas


A pergunta que muitos se fazem após o editorial do jornal O Globo desta sexta-feira (7) e a edição do Jornal Nacional do mesmo dia é: o que está por trás da atitude da Globo?

Pergunta-se: a Globo está desembarcando do golpe ou está tramando algo sinistro, como pretendem os teóricos da conspiração? Não pretendo aqui e agora ser profeta e me apressar a responder essa questão.

Mas, aos fatos. No editorial d’O Globo intitulado “Manipulação do Congresso ultrapassa limites” (leia aqui), o jornal faz pesada crítica a Eduardo Cunha. “Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato”, diz o editorial, que questiona, em alusão explícita a Cunha: “vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país?”

O diário continua, acrescentando a ironia ao se referir ao posicionamento do PSDB: “Até há pouco, o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros (AL), igualmente investigado na Lava-Jato, agia na mesma direção, sempre com o apoio jovial e inconsequente dos tucanos. Porém, na terça, antes de almoço com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Renan declarou não ser governista, mas também não atuar como oposicionista (...) e descartou a aprovação desses projetos-bomba pelo Congresso”.

Mas o posicionamento estranho (e de fato surpreendente) da família Marinho não para por aí. Chego em casa e, pelo facebook do camarada Felipe Cabañas, vou ao site Pragmatismo Político, que informa que o Jornal Nacional desta sexta “dedicou mais de 3 minutos veiculando sonoras de Dilma Rousseff rebatendo críticas durante um discurso e sendo aplaudida por populares”. Diz o site que o JN “mostrou um protesto que reuniu centenas de manifestantes contra o ataque a bomba que atingiu o Instituto Lula na última semana” e que “houve, ainda [no JN], matéria a respeito do aeroporto de Claudio, de Aécio Neves, e críticas ao suposto atropelo de Eduardo Cunha por colocar em votação a aprovação das contas dos ex-presidentes Itamar, FHC e Lula”. (Veja a edição do JN  aqui.)

(Nota deste blog: a pressa em aprovar as contas de Itamar, FHC e Lula se deve à pressa que Eduardo Cunha tem em julgar as contas de Dilma, o que obviamente não pode ser feito antes de “limpar a pauta” que já está criando teias de aranha na Câmara.)

"O que teria levado a família Marinho a cravar posição contra o impeachment da presidente e chamar de irresponsáveis os que querem tirá-la do cargo para o qual foi eleita até 2018?", pergunta Pragmatismo Político.

Não é mera coincidência que a Fiesp e sua congênere do Rio de Janeiro, a Fierj, tenham divulgado nesta mesma sexta uma nota conjunta pedindo diálogo em nome da “estabilidade institucional do Brasil”.

“Para Fiesp e Firjan, é o momento de ‘colocar de lado ambições pessoais ou partidárias’ e mirar os interesses do país. E os representantes escolhidos pelo povo devem ‘agir em nome dos que os elegeram para defender pleitos legítimos e fundados no melhor interesse da Nação’", informa nota da Rede Brasil Atual.

Ao que parece, o presidente da Câmara está cercado e se consolidou o entendimento de que ele deve cair. Eduardo Cunha está no fim de seus lamentáveis 15 minutos de (sórdida) fama.

Outras questões envolvem o enorme destaque que a mídia (inclusive de esquerda) tem dado aos movimentos do vice-presidente Michel Temer. Não se pode tirar conclusões no atual e movediço cenário. Mas os fatos autorizam uma suposição: a de que Temer pode ser o nome que está sendo preparado por amplos setores não para substituir Dilma após um golpe, que não virá, mas para suceder Dilma na eleição de 2018.

A semana que vem promete.

Como cantou Chico Buarque: "O que será que será/ Que andam suspirando pelas alcovas?"

Nenhum comentário: