sexta-feira, 10 de abril de 2015

Pensamento para sexta-feira [57] – Estado laico, Obama e o Brasil





Não se trata aqui de reverenciar o presidente do país mais imperialista da Terra desde Roma. Trata-se apenas de ouvir ou ler um discurso que pode se enquadrar perfeitamente como conceituação do estado laico, que parece cada dia mais distante do nosso país. Hoje, no Brasil, ao contrário do que se poderia esperar na segunda metade do século XXI de algo parecido ao que entendemos vagamente por "evolução histórica", estamos assistindo à ascensão obscurantista de poderes que usurpam a representação parlamentar em nome de Deus.

Caso emblemático é a PEC 171/1993, proposta de 22 anos atrás, que diminui a maioridade penal de 18 para 16 anos, aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na semana passada, que ao invés de trazer em suas “justificativas” dados técnicos, cita personagens do Antigo Testamento da Bíblia para argumentar a favor da tese de encarcerar os jovens. “O  profeta Ezequiel nos dá a perfeita dimensão do que seja a responsabilidade pessoal. Não se cogita nem sequer de idade: ‘A alma que pecar, essa morrerá’”, escreveu na justificativa o então deputado Benedito Domingos (PP), que depois virou deputado distrital e foi condenado a 5 anos, 8 meses e 10 dias de detenção em regime semiaberto por fraude em licitação, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

Destaco do discurso de Obama, acima, essas passagens:

"O que quer tenhamos sido,  não somo mais uma nação cristã. Pelo menos não somente."

"Que passagem das escrituras deveriam instruir as nossas políticas públicas? Deveríamos escolher o Levítico, que sugere que a escravidão é aceitável?"

"...se qualquer um de nós visse Abraão no telhado de um prédio levantando sua faca, nós iríamos, no mínimo, chamar a polícia, e esperaríamos que o Departamento de Serviços às Crianças e à Família tirasse a guarda de Isaac de Abraão."

"As pessoas estão cansadas de ver a fé ser utilizada como ferramenta de ataque."

4 comentários:

carmem disse...

Quando vi esse vídeo fui tomada de assombro. Como bem diz o Edu Maretti, não se trata de reverenciar o presidente do país mais imperialista da Terra desde Roma.

Se trata de perceber o que interessa aos EUA como nação. O RESTO do mundo que se lixe, mas eles, como povo norteamericano, são construtores de seu destino da forma mais benéfica pra si mesmos.

Enquanto isso no Brasil... caminhamos a passos largos para o obscurantismo medieval.

Da 'máxima': se é bom para os EUA é bom para o Brasil só estamos ficando com a parte podre.

Intolerantes de todas as espécies, por favor, entendam essa fala!!!

Eduardo Maretti disse...

Acho que é exatamente isso: "Se trata de perceber o que interessa aos EUA como nação. O RESTO do mundo que se lixe, mas eles, como povo, são construtores de seu destino da forma mais benéfica pra si mesmos".

Tania Lima disse...

É um belo discurso, bem diferente dos discursos de nosso políticos, tão vazios e contraditórios, e não raro ditos sem qualquer embasamento, aos berros e sem brilhantismo. Do lado de cá, seguimos na contramão da evolução. Ter um Estado laico é o mínimo a se esperar. A relação com o que tomamos por divino dever ser íntima, a prece precisa ser solitária e silenciosa, de outra forma sempre incomodará e só poderá ter um resultado desagregador. Essa “invasão” de evangélicos no Estado, para não generalizar, do nível que vemos em nosso congresso, será por muito tempo o nosso inferno.

Anônimo disse...

Hoje justamente pensava nisso...
lembrando da historia de Timbuktu...o fundamentalismo religioso está em todas as religiões monoteístas e está acabando com as culturas na África, no Oriente Médio, na Ásia, na América do Sul, em todo lado. As religiões viviam em paz nesses continentes, ou pelo menos tinham seus mecanismos de tensão e fluxo, até a metade do século XX, embora alguns sob domínio colonial. Mas o fundamentalismo foi cultivado para dobrar o espírito dos povos. A religião é a forma mais radical de chantagem. temos que cuidar nossa sociedade sim, é uma doença de espírito, curiosamente, agravada pelo discurso religioso doente. Podemos estar facilmente na entrada de 1473, numa inquisição que durou séculos.