quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dilma e Aécio no debate do segundo turno da Band: a gestora e o príncipe




Fotos: Ichiro Guerra e Marcos Fernandes


O debate inaugural do segundo turno, na Band, foi dividido em duas partes:

- na primeira, Aécio Neves, o neto de Tancredo (ministro de Getúlio Vargas), Aécio o Purificador, saiu na frente atacando, e Dilma perdeu essa parte em que prevaleceu o espírito udenista de Carlos Lacerda incorporado em Aécio, um golpista clássico (falta a Dilma um certo espírito brizolista para desconstruir a mentira de maneira eficaz);

- na segunda parte, confrontado com a realidade (Lei Maria da Penha, direitos dos trabalhadores, inflação, FHC versus Lula/Dilma, políticas sociais, redistribuição de renda, a história, Armínio Fraga etc.), me parece que Aécio ficou muito nervoso e acabou sendo batido "por pontos", como se diria no boxe, mas incontestavelmente. Há quem ache que foi nocaute, mas eu não acho que tenha sido nocaute devido à ignorância do povo brasileiro e à mesquinhez das elites ou dos que, coitados, pensam que são elite e cotidianamente agridem direitos ou apoiam a agressão a direitos.

Aécio Neves é um político mais eficiente do que Dilma Rousseff. Mas Aécio representa exatamente o oposto da "nova política" e da "mudança".

Significativo que o nome de Marina Silva só tenha sido pronunciado, por Aécio, no fim do debate, nas considerações finais. Dilma não pronunciou a palavra Marina. É uma constatação interessante.

A decisão de Marina de apoiar Aécio desmentiu a própria história de Marina e rachou, pra não dizer implodiu, a Rede Sustentabilidade.

O ex-governador de Minas Gerais não conseguiu responder por que perdeu a eleição em seu quintal no primeiro turno. Ele, que começou atacando na questão da Petrobras, que fez um discurso muito claro como ventríloquo do mercado financeiro, não conseguiu responder sobre o aeroporto cujas chaves seu governo deu a seu tio para guardar.

Aécio começou confiante e acabou ficando muito tempo na defesa, na segunda parte do debate.

Na minha opinião Dilma atuou como o que é, uma gestora. Aécio, também como o que é: um político tradicional. Um coronel, ou um príncipe, segundo a narrativa de Maquiavel.

3 comentários:

Lourival Sakiyama disse...


Caro Eduardo e Leitores,

Aecinho entrou no debate de salto alto, sorriso irônico e ataques desnecessários. Deselegante e viril não enxergou que a sua frente estavam o eleitor e a oponente presidenta e mulher.
Porém, quando confrontado com questões da realidade desfigurou-se. Lei Maria da Penha (Valeu Juca!), impunidade no governo FHC, nepotismo, improbidade administrativa, economia, entre outros, não consegue articular um pensamento lógico e tenta explicar o inexplicável. Fluente mas inconsistente.
Dilma estava segura e centrada em destruir a imagem de bom mocismo, probidade e competência de Aecinho. Esta dando certo! Só acho que faltou um pouco de emoção no seu discurso, e isto conta bastante. A peleja está difícil, mas o jogo está virando. Nesta quinta tem mais!

Paulo M disse...

Aécio foi bem no início e se perdeu do meio pro fim porque seu repertório de argumentos é decorado e não aguenta muito tempo de debate. A Dilma estava tensa no início, mas se recuperou depois. Foi importante pra ela conhecer o campo do adversário e derrubá-lo nos próximos debates. Foi o primeiro round. O problema é, como diz o blog, saber como o povão interpreta isso. Lembro de um debate na Globo, em 2004, em que a Marta detonou o Serra e perdeu as eleições pra prefeito. Me sinto como andando num lugar escuro que não conheço, não dá pra confiar em pesquisas. Vamos conhecer nosso destino dia 26.

Eduardo Maretti disse...

Concordo com ambas avaliações. Só acho que Dilma demorou muito pra reagir aos ataques canalhas do tucano. Demorou também para lembrar que ele perdeu a eleição no primeiro turno em Minas. Quase que deixa passar batido.

Depois ela relaxou, deixou a raiva conduzir um pouco as coisas e foi atacar o cara no campo dele.

Quanto à falta de emoção, é o estilo de Dilma. Ela é durona mesmo. Não tem como mudar. Mas tem que destruir essa imagem mentirosa do adversário e desconstruir suas mentiras cínicas impiedosamente.

PS: hoje a Bovespa fechou com baixa relevante de 3,24%. Como o mercado financeiro e aplicadores sempre sabem das coisas e torcem desesperadamente pelo tucano, pode ser que saibam mais do que mostram as pesquisas. Com certeza se Aécio estivesse na dianteira a bolsa teria subido.

Meu Deus, como tá difícil de esses dias passarem logo.

abs