terça-feira, 8 de julho de 2014

Alemães fulminam futebol brasileiro e colocam em xeque a dinastia da CBF

Resenha da Copa do Mundo [13 - terça-feira, 8 de julho]


Marcello Casal/Agência Brasil
Miroslav Klose é o maior artilheiro das Copas do Mundo

Não sou o primeiro nem serei o último a dizer que a derrota histórica do Brasil para a Alemanha por 7 a 1 no Mineirão hoje, pela semifinal da Copa do Mundo, tem um significado muito importante. É uma derrota do autoritarismo que comanda a CBF desde 1970, uma derrota da CBF de Felipão, de Parreira, de José Maria Marin, de Marco Polo Del Nero, desse esquema invulnerável que faz com que a gente questione: por que tudo muda no mundo, menos a CBF?

Durante o massacre alemão, conversei por telefone com amigos e pessoas íntimas que, de cabeça quente, vieram com as mais bizarras teorias da conspiração, que nem vou recontar porque cansa. Alguns não viram nada demais no time da Alemanha, um time “normal”, disseram, que só ganhou do Brasil de Luiz Felipe Scolari porque este errou, marcou bobeira, entregou a rapadura.

Legal foi a narrativa do meu pai, seu Oswaldo. Segundo ele, quando a Alemanha fez 2 a 0, ele foi cuidar de outras coisas. Meu pai é daqueles que dissimulam o nervosismo. Nervoso, me contou que, "fazendo outras coisas", começou a ouvir gols, e que achava que eram replays, mas não eram replays. "Eram gols mesmo!", disse, espantado.

“Isso não existe”, dizia um amigo. “Estou sonhando”, dizia outro. Outro ainda viu sintomas de um golpe de direita perpetrado pelo conluio de forças supranacionais (quiçá extraterrestres) que fizeram tudo certo para que o desfecho fosse essa tragédia. O que é cômico. Inclusive porque é arrogante, e ignora a superioridade (no caso dessa semifinal) esmagadora do adversário. Minha gente, a dinastia do futebol brasileiro acabou! Vocês não perceberam?

Em post deste blog em 7 de maio, quando Scolari convocou seus 23 jogadores, escrevi aqui: “De resto, o goleiro titular [Júlio César] e outros jogadores da ‘família Felipão’ formam um grupo de jogadores sem brilho e inexperientes em Copa, alguns dos quais eu nem conheço (...) É um time que, se Neymar não brilhar (e ele será duramente marcado), não tem muita chance (...) Sei não. Não quero secar, mas essa seleção não tem nem líder nem pinta de campeã”.

Em outros momentos, escrevi que a esse time faltavam jogadores que qualquer treinador de seleção do mundo queria ter em seu time, e citei especificamente Kaká, Robinho e Ganso, mas que Felipão, com a postura típica do autoritarismo da CBF, preteriu por nomes de sua “família”. Exemplos: o anão Bernard; o bisonho Jô; o envelhecido e lamentável Fred; o inútil Willian, que, nesta Copa, além de fazer propaganda da Guaraná Antarctica e desfilar com sua cabeleira black power, chamou a atenção por perder um pênalti na decisão contra o Chile nas oitavas; e ainda os cinco volantes convocados: Fernandinho, Luiz Gustavo, Hernanes, Paulinho e Ramires. A seleção de 1970 tinha um volante entre os 11 titulares: Clodoaldo, camisa 5, que não foi nem escalado por Zagallo, mas por Pelé, Carlos Alberto e Gerson, conta a lenda.

Pergunto: entre todos os medíocres convocados citados acima para a Copa por Felipão, não dava pra três (só três deles) darem lugar a Robinho, Kaká e Ganso? “Robinho é um mau caráter”, me disse um amigo; “Kaká não tá jogando”, me disse outro; “Ganso?”, questionou ainda outro, como se eu estivesse falando merda.

Então fomos com Neymar e mais ... Bernard, Willian, Jô, Fred, Maxwell (sabia que Maxwell era reserva de Marcelo, leitor amigo?) e mais um monte de volantes, e Felipão no comando, um técnico ultrapassado, ignorantão e paizão, coisa que não cabe mais no futebol. Enquanto estamos nessa política do século passado, a Alemanha está trabalhando faz tempo. Gosto muito do Gerd Wenzel (o velho e bom comentarista alemão da ESPN), que disse após o jogo: “A história recente do futebol alemão começou com a derrota para o Brasil na final de 2002”.

Essa administração amadora e “oligárquica” da CBF contrasta com a da seleção alemã, que é organizada, cheia de talentos e com um esquema tático espetacular, que esmagou um Brasil atônito a partir de um jogo brilhante baseado na blitzkrieg. Vejamos o que significa blitzkrieg segundo a Wikipédia: “termo alemão para guerra-relâmpago, foi uma doutrina militar em nível operacional que consistia em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de organizar a defesa”.

Achei que foi isso. E isso é ótimo, porque futebol é uma metáfora para a guerra, e ainda bem que existe uma guerra metafórica ou poética, que o futebol incorpora.

Futebol, e futebol (o alemão) com uma eficiência tática e técnica impressionante, bonita de ver, espetacular mesmo. Méritos e palmas aos alemães.

Aos meus amigos, compadres, comensais e queridos de qualquer forma, só tenho a dizer que acho meio bobinhas as teorias da conspiração.

Aos teórico-conspiratórios, aos incrédulos, aos inconformados e aos céticos, eu digo: o esporte (e o futebol é o mais belo dos esportes) tem isso: surpreende, bate recordes, choca, estabelece novas marcas e novos marcos que daqui a décadas continuarão sendo comentados. O esporte é irônico. Perdemos do Uruguai em 1950, e da Alemanha em 2014.

A derrota humilhante e histórica do Brasil hoje para a Alemanha foi política e futebolisticamente merecida. Talvez sirva para alguma coisa. Felipão, arrogante como a CBF que manda no futebol brasileiro, não teve a dignidade de se demitir como fez o italiano Cesare Prandelli, que pediu demissão ao vivo, em plena entrevista coletiva, após a derrota para o Uruguai por 1 a 0 e a desclassificação de seu time da Copa do Mundo.

Vamos ver até quando esses caras da CBF e da Fifa, acusados de todo tipo de corrupção, vão resistir. Estão caindo pouco a pouco. É só observar o noticiário.

E, pra finalizar, palmas a Klose, o jogador que fez mais gols na história das Copas. Foram 16, contra 15 de Ronaldo.

E palmas a Neymar. Que além de ser a estrela do Brasil, de ter marcado 4 gols, tem um anjo da guarda muito forte que o impediu de estar em campo na tragédia do Mineirão. 

8 comentários:

Paulo M disse...

Não quero bater no Brasil. Até porque não há time de futebol, seleção ou clube, que não tenha experimentado uma porrada dessas pelo menos uma vez na vida, e não é a nossa primeira. Mas vamos lá.

No bolão da editora onde trabalho, pus 1 a 1, e por mais descoordenado que possa parecer, pensei em optar por um 4 a 1 pra Alemanha, mas meu sentimento inconsciente de culpa pela idéia de trair um otimismo nacional obrigatório me fez escolher a primeira alternativa, e ainda justificar que o Brasil faria o segundo gol aos 12 do segundo tempo da prorrogação. Mas o Paulo pagão estava certo. Ou, melhor, estava mais perto do que viria a acontecer: 5 a 0 aos 26 minutos do primeiro tempo de jogo. Deu vontade de chorar, porque a coisa prometia descambar pra um 8 ou 10 a 0, o que poderia ter ocorrido facilmente não existisse a tradicional tirada de pé entre ‘amigos’ ou rivais nesses casos. Não sei se minha decepção maior era pela frustração como brasileiro ou se por estar sentado na poltrona pra ver um jogaço e não estar sequer vendo jogo algum. Foi um massacre. A Alemanha jogou barbaridade, e o Brasil foi obrigado, pela fé na história da seleção, a apostar que a camisa amarela com as cinco estrelas faria o papel de uma varinha mágica.

Uma derrota assim era iminente. O time nunca esteve tão longe do povo. Quem são Willian e Marcelo? Eu não conhecia esses caras até serem convocados pela primeira vez. As seleções brasileiras campeãs tinham estrelas, ídolos da galera, que jogaram e fizeram suas histórias nas competições nacionais antes de mais nada. Hoje tem Neymar, este sim uma estrela solitária. De resto, sobram estrelas anãs marrons do tipo Bernard e Jô. A camisa canarinho não é pra qualquer Fred. Por que Felipão não experimentou tirá-lo do time em nenhum momento se o cara não estava jogando nada o tempo todo? Por que o Flamengo tinha de treinar com a seleção da Austrália, o Fluminense fazer amistoso com a seleção italiana e o sub-20 do mesmo Fluminense, que está na série A do Brasileiro de favor, tinha de ser o sparring da seleção brasileira nos treinos desde o início da Copa? E por que o Felipão tinha de ficar dando entrevistas exclusivas pro Jornal Nacional? Então, que o Cristo Redentor agora ajude essa corja. Ou, em breve, o Brasil vai deixar de ser o único no mundo a participar de todas as Copas.

Eduardo Maretti disse...


Paulo, é engraçado isso, mas vou repetir sua frase só mudando os números: No bolão da editora onde trabalho, pus 2 a 1 (pro Brasil), e por mais descoordenado que possa parecer, pensei em optar por um 2 a 1 pra Alemanha, mas meu sentimento inconsciente de culpa pela idéia de trair um otimismo nacional obrigatório me fez escolher o segundo palpite.

No post anterior, sobre as semifinais, eu palpitei que a final seria Brasil x Holanda, pelo mesmo motivo. A razão dizia que daria Alemanha, mas apostei no coração. Perdi.

E tem mais uma coisa, como escrevi no Facebook. Alguns jogadores brasileiros ajoelhados e rezando (orando pra que deus?) e apontando pro céu mostra bem a cabecinha deles, cabecinha de evangélicos ignorantes. Uma cabecinha que alemães, argentinos e holandeses não têm. O nível intelectual dos jogadores brasileiros é deplorável.

marco antonio ferreira disse...

Edu, eu não fLei que Robinho é mau carater, disse, Covarde. Pode parecer igual mas não é! No mais concordo, e quem sabe dessa vez a CBF muda, sera?

Carlos Nederland disse...

Uma seleção em que jogadores medíocres acreditam mais em orações, em que Deus está sempre com eles e não com os outros, que entram em campo como criancinhad do jardim de infância ou como imbecis, com as mãozinhas nos ombros uns dos outros, em que a cabeça está nos milhões dos anunciantes, etc... Vai dar sempre nisso.

Roseli Costa disse...

Nossa, amei ler tudo aqui. É verdade. Peças da mesma engrenagem de pessimismo e desafinidade crescente com o elenco imbecil, imaturo, ruim de bola da seleção. Depois de sexta, senti-me esvaziada do entusiasmo pelo Brasil na Copa e, por mais que me animassem, não consegui entrar no clima. Nem por isso deixou de doer: adoro futebol e temo pelas associações que o povo possa fazer entre seleção e governo federal. Gostei do que o Paulo escreveu, texto lindo e completo. Gostei do que o Carlos disse: que acham que Deus está com eles (evangélicos) e não com os outros...

Eduardo Maretti disse...

E sabe o pior, Marco? "Quem sabe dessa vez a CBF muda, sera?", você questiona. Vai ser difícil essa corja sair da CBF. Já tem dirigente da CBF detonando Felipão como se ele fosse o único culpado. É, sim, culpado, mas não o único e nem o principal, já que foi colocado lá por esses cartolas escrotos. Já se fala em Tite pra assumir a seleção.

E, voltando ao jogo, pra quem gosta, interessante a análise no link abaixo feita para explicar o jogo sob o ponto de vista tático:

http://impedimento.org/futebol-e-tatica-aceitem/

carmem disse...

Adoro os ditados populares. Antes desse jogo me veio à lembrança: esse jogo vai separar os homens dos meninos.

Alexandre disse...

Estou em choque!!