Publicada originalmente na RBA
O desembarque do PMDB do governo, oficializado na tarde de hoje (29), e todo o processo que culminou com esse ato, mostra, acima de tudo, que o sistema político brasileiro faliu, segundo analistas. O partido do vice-presidente da República, Michel Temer, que agora de fato assume a posição oposicionista já conhecida dos corredores e articulações, assumiu a posição concreta de apostar na crise e saciar seu interminável apetite pelo poder. O grande problema é que não há perspectivas de fim da crise.
"Tudo isso mostra que é o nosso sistema
político-partidário que está falido. Ele foi corrompido pela mercantilização
que tomou conta das campanhas eleitorais", diz Cândido Grzybowski, diretor
do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
"O que acho é que está se criando uma outra forma de crise, a crise dentro
da crise, cujo desfecho é mais crise, e assim o país vai indo."
Para Grzybowski, não é novidade que o PMDB se tornou um
partido que mantém o poder pelo poder e não é mais nem sombra da legenda de
Ulysses Guimarães, que subsistiu até a Constituição de 1988. A crise
ganhou, com a decisão do PMDB de sair do governo, um novo ingrediente: a
presidente Dilma Rousseff tem agora um vice de oposição. A Constituição prevê
esse quadro. Determina a Carta Magna: Temer continua no posto sendo parte do
governo ou oposição.
O grande problema do governo Dilma, que hoje, no Congresso,
principalmente com o desembarque do PMDB, enfrenta um processo de impeachment
cada vez mais possível, tem um nome: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da
Câmara dos Deputados.
"O maior erro de articulação política do governo foi
ter lançado candidato do próprio PT (Arlindo Chinaglia), em fevereiro de 2015.
Está pagando um preço caríssimo por ter Eduardo Cunha na presidência da Câmara.
Ele é um das figuras mais estranhas que já existiram na política brasileira,
apesar de ser um político bem comum. Mas é o presidente da Câmara, eleito pelos
pares", avalia o cientista político Humberto Dantas, coordenador do curso de pós-graduação da Fundação Escola de Sociologia e Política (Fespsp).
A aliança do governo com o PMDB, fechada ainda pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para conseguir governar no
presidencialismo de coalizão, é considerada por muitos o erro primordial dos
governos petistas. Mas, para Cândido Grzybowski, o problema ainda é o sistema
político do país. "Na nossa realidade política não tinha outra saída. Mas
o sistema transformou as campanhas políticas em campanhas de imagem, de disputa
de mercado, de marqueteiros, com dinheiro dos quem não querem perder
nada."
Para ele, esse quadro permite criar partido "às pencas,
por quem quiser, mas não acabou com o cerne do sistema eleitoral criado por
João Figueiredo, no fim da ditadura".
A íntegra da matéria da RBA está aqui.
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