Independentemente de se atribuir aos Evangelhos um caráter sagrado, histórico ou literário, o fato é que O Sermão da Montanha é uma das mais belas passagens do Novo Testamento.
Consta (dir-se-á um dia, talvez daqui a séculos: conta a tradição) que Mahatma Gandhi afirmou: “Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse O Sermão da Montanha, nada se teria perdido.”
Abaixo segue apenas um pequeno trecho do capítulo 5, extraído da longa passagem que abrange os capítulos 5 a 7 do Evangelho de Mateus:
Mateus (5, 1-12)
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como, ao sentar-se, dele se aproximassem seus discípulos, ele se pôs a ensiná-los, dizendo:
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados sois quando vos caluniarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Regozijai-vos e exultai, porque será grande vossa recompensa nos céus; pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
2 comentários:
Bem, o que conheço do Sermão da Montanha é exatamente o que está aqui. Não li mais. Mas sobre o que está aqui no blog penso o seguinte (e acho que é assunto pra lá de uma noite inteira):
São belíssimos os versos bíblicos. Literários. Independentemente de sua mensagem (subliminar ou não), nos remetem ao sonho de que um mundo além deste (este que, no texto, tem a injustiça e a corrupção como paradigmas) vai nos premiar e nos tornar próximos do divino, ou do impossível: os justos e humildes verão a Deus e herdarão a Terra (como num sonho). Por que não herdar a Terra agora? Por que ter de esperar pelo modelo perfeito?
Se formos fazer uma análise como críticos de um texto literário, vamos ver que os Bem-aventurados possuem sempre características de submissão: são os humildes, os mansos, os que choram, os que têm fome de justiça (mas serão saciados somente no plano divino)...
É uma maneira pessimista (e talvez existencialista e nietzschiana) a minha de interpretar esse texto, mas acho muito ideológico.
Me lembro das imagens que vi agora há pouco na TV de professores estaduais levando borrachada da tropa de choque da PM, e aí me vêm os versos de Drummond, parodiando Jesus, que certa vez recitei a minha mãe e a fizeram emocionar-se: "Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco?"
Paulo, respeito muito sua opinião, como vocês sabe. A leitura que você faz tem isso de existencialista sim, com um viés nietzschiano - mas também umas nuances iluministas inegáveis! - hehe.
No entanto acho possível ler de outra forma, de maneira que "serão saciados somente no plano divino" não seja necessariamente o que foi a história, a dos primeiros cristãos, quero dizer.
"Não pensei que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada." Essa frase atribuída a Jesus (Mateus 10,34) faz pensar que a saciedade não está condicionada ao plano divino, e nem os humildes, os mansos, os que choram e os que têm fome de justiça são necessariamente submissos.
Pasolini, aliás, em Il vangelo secondo Mateo, sublinha muito bem essa visão de um Jesus histórico muito mais inquietante do que a imagem que a igreja vendeu aos longo dos séculos.
Hoje se sabe, por exemplo, que Maria Madalena não foi simplesmente uma puta que Jesus perdoou, mas sim uma das figuras mais atuantes de seu círculo, e muito provavelmente sua mulher...
abraços
Postar um comentário