quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Jogo entre forças golpistas e estado de direito está empatado





A semana que a deputada Maria do Rosário previu que não seria "para covardes" vai chegando ao fim com um empate entre as forças golpistas e aquelas que defendem o estado democrático de direito. Mas um empate preocupante.

O ato político promovido na Faculdade de Direito nesta quarta-feira por inúmeros intelectuais, professores, estudantes, cidadãos e jornalistas contra o golpe; as derrotas de Eduardo Cunha no Conselho de Ética e ao ver Rodrigo Janot pedir, finalmente, seu afastamento no STF; e a manifestação que levou certamente mais de 100 mil pessoas às ruas de São Paulo hoje são os pontos a favor das forças democráticas.

Mas o julgamento do STF do rito do impeachment nesse agitado dia 16 não começou como se previa, o que tem um peso suficiente para empatar o jogo. Não se pode sequer chamar de neutro o voto do relator Luiz Fachin.

Fachin negou pedidos fundamentais da ação do PCdoB, a saber: a necessidade de defesa prévia do presidente da República, mas principalmente a vedação ao voto secreto para a formação da comissão especial "avulsa", que Cunha impôs com seu tacão na semana passada. O julgamento será retomado nesta quinta-feira (17).

Diz-se que Fachin sucumbiu à pressão midiática e preferiu não se "intrometer" na competência do Legislativo, mas isso foi nada mais, nada menos, do que referendar as posições de Cunha, pelo menos momentaneamente. O que equivale a chancelar o achincalhe e a desfaçatez cínica do homem que faz o que quer com a República sem que, até agora, ninguém possa contra ele.

Na Faculdade de Direito, no ato dos professores (veja falas de Marilena Chaui e Luiz Carlos Bresser Pereira), André Singer me disse sobre o que espera do julgamento do STF: “Minha expectativa é de que haja uma sinalização clara de que a sociedade brasileira pode contar com o STF para barrar manobras no Legislativo que ferem a constituição”.

Ontem, Dalmo Dallari afirmou em conversa comigo: “O processo do impeachment está chegando ao fim. Apesar das tentativas claramente político-eleitorais de levar adiante, ele está se esvaziando”. Hoje, no ato da Faculdade de Direito, ele disse: "Tenho absoluta tranquilidade em afirmar que nenhuma proposta de impeachment tem fundamento jurídico”.

Claro, não se esperava (Dallari também não) que o Supremo entrasse no mérito, na questão do impeachment, mas tampouco que o voto do relator, que havia suspendido o processo na Câmara, fosse tão ao estilo de Pôncio Pilatos como foi.

O jurista Fábio Konder Comparato, com quem também conversei no Largo São Francisco, me pareceu mais precavido ou cético do que Dallari. Seu tom e também as entrelinhas do que me disse era o de quem vê a situação muito complicada na Câmara. "Não há nenhum fundamento constitucional para o impeachment. [Mas] A presidente teria que ser julgada pelo Senado. A manobra está sendo feita a partir do presidente da Câmara. E no Senado – que pode suscitar o recurso ao Supremo –  a conversa é outra.”

Saindo do Direito, vamos para a visão mais apocalíptica da filósofa Marilena Chaui, que disse o seguinte no ato da Faculdade de Direito: "Se o golpe vier, teremos, por causa de toda a discussão em torno do terrorismo internacional, uma ditadura que nos fará imaginar que a de 1964 foi pão doce com bolacha”.

No mesmo ato, afirmou Luiz Carlos Bresser-Pereira: “Tenho dito que não vai haver impeachment porque a democracia está consolidada. O Brasil não é o Paraguai. É uma minoria que quer o impeachment, como os liberais que são democratas só quando lhes interessa.”

E Fernando Haddad, conciliador: “Independentemente da coloração partidária, há pessoas aqui que podem ser oposição ao governo, mas entendem que é o momento de defender as instituições que levamos tanto tempo para consolidar”.

Enfim, só podemos esperar.

Abaixo, as falas de Marilena Chaui e Luiz Carlos Bresser-Pereira no ato político da Faculdade de Direito - 16 de dezembro de 2015, publicadas por Artur Scavone.








4 comentários:

Daniel disse...

Que a politica é como um jogo de xadrez, todos sabemos. Sabe aquela jogada em que seu oponente lhe oferece a rainha de "bandeja"? e ai você sabedor que esta é uma clássica armadilha a despreza e parte para outra reação, sendo que talvez, seu oponente estaria "rateando" mesmo, pois é, como saber?, só pagando pra ver, ops!!, ai pulei pro poker (outro jogo de estratégia). Tal vez (e quero acreditar) o ministro Fachin, ao querer se preservar e mostrar uma imagem mais isenta, confirma as manobras do Cunha e define que, se aprovado pela camara, o impeachment vai pro Senado apenas para ser carimbado (já que, não poderia ser arquivado por essa casa, apenas pelos deputados) com isto estaria botando pressão no Senado já que, é sabido que a maioria nessa casa é contra o impeachmant, então o Senado ao ver que estaria fazendo um mero papel secundario e virando fantoche do Cunha teria que reagir pressiaonando por sua vez seus correligionarios da Camara dos deputados, para que o processo nem sequer chegue a casa maior e seja arquivado logo no seu inicio, com isto o STF manten-se isento e a sua vez o Senado não se suja (pelo menos nesta questão) e se livra de ser cumplice coobrigado, num processo que não compactua e que nasceu das artimanhas e falcatruas de alguem que pode levar pra a lama, neste momento, todo e qualquer um que com ele compactuar.
Sei que, pode parecer teoria da conspiração mas; por uma acaso isto tudo não é uma conspiração, contra a democracia e principalmente contra o povô, sobre tudo o mais necessitado?.....en fim, como eu já dise acima "é pagar para ver"
abs!!!

Eduardo Maretti disse...

Vamos ver, Daniel, vamos ver. A conspiração é grande e o final do jogo, me parece, imprevisível...
abraço

marco antonio ferreira disse...

Cambia todo caambia...(Mercedes Sosa). Ontem tive raiva do Fachin hoje me dá pena. Acachapante sua derrota. Imagina ficar só com Toffoli e Mendes? Nossa tadim d'ele! Não é ironia, tô mesmo com dó. De maneira que hj não estamos empatados, aliás não ví empate também ontem, ontem ganhamos, e hoje definimos.Agora vem janeiro e fevereiro pra direita se organizar, graças ao stf que foi tão rápido com Delcídio e lentinho com Cunha.
Mais três anos de briga pela frente, isso não tem fim a briga não acaba. Não se elimina um adversário ou inimigo, apenas se controla, é como pragas, baratas, pulgas, direita, etc. Mas Dilma não cai, e o Brasil não vai pra direita, mas quem quiser advinhar o que vem por aí... tá doido ou tem algum produto, sic.

Eduardo Maretti disse...

Concordo em parte com você, Marco.
"Cambia todo caambia...(Mercedes Sosa). Ontem tive raiva do Fachin hoje me dá pena. Acachapante sua derrota. Imagina ficar só com Toffoli e Mendes? Nossa tadim d'ele! Não é ironia, tô mesmo com dó. De maneira que hj não estamos empatados"

Concordo também: "Dilma não cai, e o Brasil não vai pra direita, mas quem quiser advinhar o que vem por aí".

Depois já relativizo. "Agora vem janeiro e fevereiro pra direita se organizar, graças ao stf que foi tão rápido com Delcídio e lentinho com Cunha." Isso aí é discutível.

Mas já pus outro post. Porque "Cambia todo caambia"!!
Abraço