quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A 12 dias da eleição, pesquisas indicam cenário que a oposição e a direita não previram




A menos de duas semanas do primeiro turno e 40 dias depois da morte de Eduardo Campos, tragédia que alavancou a candidatura de Marina Silva, a "fotografia" do momento mostra um cenário que as forças conservadoras do país não previam. 

Na pesquisa Vox Populi divulgada no início da noite de hoje, a presidente Dilma Rousseff aparece com 40% das intenções de voto, 4 pontos percentuais acima do levantamento da semana passada. Marina Silva tem 22%, tendo despencado 5 pontos em uma semana, enquanto o tucano Aécio Neves tem 17%, dois a mais do que há uma semana. Segundo o Vox Populi, os indecisos são 12%.

Já o Ibope também mostra Dilma ascendente, com 38% (36% na pesquisa anterior), à frente de Marina, com 29% (30% na semana passada), e de Aécio com os mesmos 19%. O Ibope diz que os indecisos são 5%.

Ignoremos as “projeções” para o segundo turno, que, francamente, são conversa pra boi dormir ou assunto para manchetes garrafais quando a candidata do PT aparecia atrás da ex-seringueira, ex-senadora, ex-ministra do Meio Ambiente, ex-PV, ex (e talvez futura)-Rede e atual candidata do PSB, Marina Silva, a divulgadora da “nova política”.

Chamam a atenção nas pesquisas duas coisas.

A primeira: ambas mostram Dilma subindo, embora no Ibope apenas dois pontos (de 36% a 38%), enquanto no Vox ela subiu o dobro, e chegou a 40%. Curiosamente, no Ibope Marina apenas “oscila” de 30% para 29%, enquanto no Vox tem uma queda de 5% (27% a 22%).

A segunda coisa que chama a atenção é o número de indecisos: 12% no Vox Populi e apenas 5%, menos da metade, no Ibope. Interprete essa discrepância quem interpretar possa.

Mas o que portanto parece certo é que Dilma está crescendo na reta final, faltando 12 dias para o pleito, enquanto Marina mostra tendência de queda e Aécio de ficar estagnado ou “oscilar” um pouco para cima.

Ao que parece, se não houver fatos novos e muito significativos, a eleição levará Dilma ao segundo turno contra Marina ou Aécio. Insisto no que disse num post de 28 de agosto, 26 dias atrás: “Acho que vai ter segundo turno nas eleições de outubro, mas não considero Aécio já derrotado, apesar de a mídia (acrescento aqui: exceto o Estadão) aparentemente já ter tomado a decisão de apoiar Marina”.

Só que, com 12 dias pela frente, se Marina continuar caindo, seus votos vão para quem? Supondo, hipoteticamente, que se dividam entre Dilma e Aécio mais ou menos igualitariamente, a candidata do PSB pode realmente nem ir para o segundo turno, se Aécio conseguir tirar dela 3 pontos no Vox Populi ou 5 no Ibope (lembrando matemática: se, por exemplo no Ibope, a diferença entre o tucano e a pessebista é 10 pontos, Aécio tirar 5 de Marina significa que ele ganha também 5 e estariam então empatados).

O ex-tucano Walter Feldman, coordenador-geral da campanha de Marina, disse hoje que sua candidata vai, sim, dialogar com a “velha política”. Na semana passada, o vice da ex-ministra, Beto Albuquerque, dizia que não dá para governar sem o PMDB. Estão tentando estancar a sangria. Quem ouve esses acenos à velha política de sempre (e, de resto, é a política que temos e só mudará com uma reforma política), quem escolhia Marina por ver nela algo novo, deve estar agora bastante decepcionado. Pudera. Depois de voltar atrás em pontos específicos do seu programa de governo por pressão de Malafaias da vida, de empresários do agronegócio e outras forças, agora a questão já é voltar atrás no conceito por trás do qual se forjou a candidatura. Muita gente que apostou nela, a essa altura, já deve estar arrependida.

Enquanto isso, Dilma Rousseff discursa amanhã na abertura da Assembleia Geral da ONU.

E Aécio Neves deve continuar sua desesperada cruzada para convencer o eleitorado de que votar em Marina e em Dilma é a mesma coisa, “é votar no PT”, como dizia um cartaz de sua campanha que vi hoje no centro da cidade.

Por incrível que pareça, a direita parece ter errado a estratégia, se dividiu e até mesmo no primeiro turno a eleição pode se decidir, embora seja ainda difícil. Mas não impossível.


* Publicado originalmente 23/09/14 às 23:37 de Brasília

7 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Ótima análise. Muito lúcida.
Creio que se for para o segundo turno vai ser voto a voto. Com Aécio ou Marina, está claro para mim que haverá uma união das duas candidaturas (declarada ou velada, tanto faz), no estilo "todos contra Dilma". Acredito que para ambos o cálculo de derrotado deverá ser o mesmo: vai ser mais fácil derrotar um presidente que não seja do PT, ainda com um sólido apoio popular, daqui a quatro anos.

Lourival Sakiyama disse...


Caro Eduardo e leitores,

Sempre nos brindando com perspicácia e simplicidade. Acrescento em relação aos números aferidos pelas pesquisas, um dado no mínimo curioso: os índices de aprovação ao governo progressista/petista coincidem numericamente ao percentual de intenções de voto em Dilma. Ora, pesquisa é uma ciência exata mas que reflete uma perspectiva ou intenção, o que leva a crer que aqueles que consideram o governo regular não cedem um voto a mais para a candidata Dilma. Dos que desaprovam, índice abaixo de 30%, não há sentido em votar 13. Mas e os quê acham regular?
Quanto à Marina, ou Marina Vai Com as Outras, deixamos claro em comentário anterior que política é jogo jagado, pois enquanto desfrutava da comoção e do impacto gerado pela tragédia com Eduardo campos os eleitores acompanharam como que por osmose o processo de adesão à sua candidatura.
Passado o luto, a verdadeira Marina surge como um poço de contradições (Vide Mino Carta desta semana), mal acompanhada e, sobretudo, carregada de ranço e ódio.
Quanto ao Aécinho!!!O que dizer de alguém que mal consegue sair do terceiro lugar no próprio reduto eleitoral e muito menos ajudar a eleger um correligionário nas Minas gerais!

Abraços

Eduardo Maretti disse...


É verdade, Lourival. Bem observado. É realmente muito estranho que cerca de um terço do eleitorado ache o governo "regular" e praticamente nada desse contingente apareça nas intenções de voto a Dilma...

A questão de no segundo turno, se houver, serem "todos contra Dilma", Felipe, talvez possa ser relativizada. Isso porque creio que os eleitores de Aécio vão votar maciçamente em Marina se ela passar, porque é um eleitorado mais ideológico e mais anti-PT. Entre os eleitores de Marina, há muitos votos oscilantes, não-ideológicos, até de centro esquerda e tb do chamado povão que vota no Tiririca. Por isso concordo com as análises segundo as quais bater Aécio no segundo turno é menos difícil do que bater Marina. Mas isso são apenas conjecturas...

Abraços

Paulo M disse...

Tem duas coisas que eu, particularmente, não estou entendendo bem nestas eleições. Uma: os debates entre candidatos estão com horário muito alterado em relação ao que víamos em eleições passadas, a divulgação é pouca, e eles têm sido transmitidos por veículos em geral menos acessíveis ao público. Outra: as pesquisas também têm sido mal divulgadas. Dilma está, segundo o Datafolha, bem à frente da Marina em simulação para o segundo turno: 47 a 43%. Vi isso hoje numa matéria do Terra do dia 26. E mais: se ela tem 40% no primeiro turno, dificilmente teria só 47 no segundo, como aponta essa pesquisa do Data. Sou péssimo em Estratégias de Marketing e pior ainda em Matemática. Mas a Globo parece mais interessada no Brasileirão. Ou será que estou mal informado ou 'variando'?

Eduardo Maretti disse...


Paulo, dá uma lida nesses dois textos...

http://www.hildegardangel.com.br/?p=41969

http://www.brasil247.com/+7l5x4

Paulo M disse...

Lindo esse texto da Hildegard
Angel. O do Valter Pomar é interessante também, embora, creio eu, muito pessimista. Não acho que todos os votos "do lado de lá", no primeiro turno, podem ficar do lado de lá no segundo. O sinal de alerta, lembrando outros pleitos, é importante, sim. Mas vamos ficar com a Marina (Lima): "Você me abre seus braços/E a gente faz um país." Tenho certeza de que essa corrente vai dar o fruto esperado.

Eduardo Maretti disse...

Também 'não acho que todos os votos "do lado de lá", no primeiro turno, podem ficar do lado de lá no segundo', concordo mesmo.

Acho que o lance do Valter é como quem diz: "Gente, vamos ficar alertas até o fim". Faz sentido.

Na semana da eleição tradicionalmente a coisa cresce, e na hora de votar muita gente vota 13... Vamu vê!