Maravilhosa essa música. O som de "U", o tempo todo, dá um colorido menos colorido, mais poético, sinistro e genial ao texto. Depois, a estrofe "A mais triste nação..." sai desse contexto sonoro como se alguém de fora se expressasse sobre a descrição do mundo. Muito belo. Concordo em termos com o depoimento. "Não sou daquela turma que considera que somos apenas vítimas dos países que se deram bem." Perfeito. Também não sou. Mas é histórico que os países que se deram bem suplantaram os sonhos de povos antes subdesenvolvidos, hoje em desenvolvimento, como se seu desenvolvimento estivesse a caminho. Aí vai entrar aquele debate sobre se somos ou não responsáveis por nosso destino. Mas o Haiti, massacrado pela França e pelos EUA, responde a isso de certa forma. Ao contrário de Caetano, não gosto dos Estados Unidos e de sua arrogância histórica manchada de sangue, espionagem e interesses sempre escondidos atrás de hipóteses e suposições falseadas. Têm lá sua parte na cereja do bolo, sim. Mas não é tão simples. Isso serve de mote para um longo debate. Senti na Argentina uma capacidade enorme de seu povo em ter autonomia, uma consciência nobre, e no entanto dependente de condições econômicas adversas. Acho um desperdício, uma grande pena, enfim.
Acho, Paulo, que Caetano fala de um ponto de vista mais filosófico, filosofia política.
Os EUA nos deram tantas coisas, o blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen, Jim Jarmusch, John Lurie, Laurie Anderson, Hollywood, Bob Dylan, rimas!...
O que é invejável nos norte-americanos é a capacidade que eles têm de se unirem quando o interesse nacional, dos EUA mesmo, está em jogo. Apenas como comparação: acho um absurdo a população brasileira vaiar a Dilma Rousseff nos estádios da Copa do Mundo. Eu acharia esse tipo de atitude do "povo" condenável mesmo se o presidente fosse Fernando Henrique. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos, país cujo nome já é suficientemente simbólico.
O Brasil é um país que vaia sua presidente pro mundo inteiro ouvir, quando nós, o "país do futebol", estamos recebendo a Copa do Mundo. Você lembra de algum país onde se tivesse trabalhado tanto pra uma Copa do Mundo não dar certo como aqui? Que país dividido que é o nosso!
Um povo que promove linchamentos como se fazia na Idade Média, ou como se faz ainda hoje em países que toleram a barbárie!
Não é possível mais tolerar a barbárie!
E acho tb que Caetano expressa em sua fala uma coisa, sartreana, irrefutável: "não há vítimas inocentes".
Concordo com boa parte do que você afirma. E essa é a fatia da cereja do bolo a que me refiro: "O blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen..." Mas criar é inerente a qualquer grande civilização que se ergueu ao longo de séculos no Ocidente ou no Oriente. Não se pode esquecer que também aprendemos com eles uma cultura geral massificada, alienante, totalitária e aduladora de uma elite igualmente ignorante. Acho também absurdo o comportamento de vaiar a Dilma em estádios da Copa, mas, como eu disse no primeiro comentário, não são todos os povos do sul que se expressam contra si mesmos. Talvez o lindíssimo "Hino Nacional" (abaixo), do Drummond, "explique" o que quero dizer. Não sei se Caetano foi mais filosófico, acho interpretativo. Como separar filosofia e sociedade nessa bagunça de conceitos do século 21? Quanto ao "Não existem vítimas inocentes", não posso opinar. Tudo o que sei de Sartre é a metade que li da "Idade da Razão". Mas, dita a frase isoladamente no contexto social de um morro carioca, por exemplo, não acho que carrega a mesma pertinência do universo francês sartreano. Acho que os Estados Unidos (pensei ontem ao escrever o comentário, mas não escrevi isso) nos ensinaram até a inserir a cultura negra, pelo jazz, pelo blues e pelo Harlem, em nossa cultura branca. Só que, pesando os fatos, pesa a balança pro lado errado. Eu iria a Nova York com o maior prazer, e certamente adoraria Nova York, mas não gosto dos EUA.
3 comentários:
Maravilhosa essa música. O som de "U", o tempo todo, dá um colorido menos colorido, mais poético, sinistro e genial ao texto. Depois, a estrofe "A mais triste nação..." sai desse contexto sonoro como se alguém de fora se expressasse sobre a descrição do mundo. Muito belo. Concordo em termos com o depoimento. "Não sou daquela turma que considera que somos apenas vítimas dos países que se deram bem." Perfeito. Também não sou. Mas é histórico que os países que se deram bem suplantaram os sonhos de povos antes subdesenvolvidos, hoje em desenvolvimento, como se seu desenvolvimento estivesse a caminho. Aí vai entrar aquele debate sobre se somos ou não responsáveis por nosso destino. Mas o Haiti, massacrado pela França e pelos EUA, responde a isso de certa forma. Ao contrário de Caetano, não gosto dos Estados Unidos e de sua arrogância histórica manchada de sangue, espionagem e interesses sempre escondidos atrás de hipóteses e suposições falseadas. Têm lá sua parte na cereja do bolo, sim. Mas não é tão simples. Isso serve de mote para um longo debate. Senti na Argentina uma capacidade enorme de seu povo em ter autonomia, uma consciência nobre, e no entanto dependente de condições econômicas adversas. Acho um desperdício, uma grande pena, enfim.
E que a Vida dê longa vida a Caetano Veloso.
Acho, Paulo, que Caetano fala de um ponto de vista mais filosófico, filosofia política.
Os EUA nos deram tantas coisas, o blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen, Jim Jarmusch, John Lurie, Laurie Anderson, Hollywood, Bob Dylan, rimas!...
O que é invejável nos norte-americanos é a capacidade que eles têm de se unirem quando o interesse nacional, dos EUA mesmo, está em jogo. Apenas como comparação: acho um absurdo a população brasileira vaiar a Dilma Rousseff nos estádios da Copa do Mundo. Eu acharia esse tipo de atitude do "povo" condenável mesmo se o presidente fosse Fernando Henrique. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos, país cujo nome já é suficientemente simbólico.
O Brasil é um país que vaia sua presidente pro mundo inteiro ouvir, quando nós, o "país do futebol", estamos recebendo a Copa do Mundo. Você lembra de algum país onde se tivesse trabalhado tanto pra uma Copa do Mundo não dar certo como aqui? Que país dividido que é o nosso!
Um povo que promove linchamentos como se fazia na Idade Média, ou como se faz ainda hoje em países que toleram a barbárie!
Não é possível mais tolerar a barbárie!
E acho tb que Caetano expressa em sua fala uma coisa, sartreana, irrefutável: "não há vítimas inocentes".
Concordo com boa parte do que você afirma. E essa é a fatia da cereja do bolo a que me refiro: "O blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen..." Mas criar é inerente a qualquer grande civilização que se ergueu ao longo de séculos no Ocidente ou no Oriente. Não se pode esquecer que também aprendemos com eles uma cultura geral massificada, alienante, totalitária e aduladora de uma elite igualmente ignorante. Acho também absurdo o comportamento de vaiar a Dilma em estádios da Copa, mas, como eu disse no primeiro comentário, não são todos os povos do sul que se expressam contra si mesmos. Talvez o lindíssimo "Hino Nacional" (abaixo), do Drummond, "explique" o que quero dizer. Não sei se Caetano foi mais filosófico, acho interpretativo. Como separar filosofia e sociedade nessa bagunça de conceitos do século 21? Quanto ao "Não existem vítimas inocentes", não posso opinar. Tudo o que sei de Sartre é a metade que li da "Idade da Razão". Mas, dita a frase isoladamente no contexto social de um morro carioca, por exemplo, não acho que carrega a mesma pertinência do universo francês sartreano. Acho que os Estados Unidos (pensei ontem ao escrever o comentário, mas não escrevi isso) nos ensinaram até a inserir a cultura negra, pelo jazz, pelo blues e pelo Harlem, em nossa cultura branca. Só que, pesando os fatos, pesa a balança pro lado errado. Eu iria a Nova York com o maior prazer, e certamente adoraria Nova York, mas não gosto dos EUA.
O poema do Drummond:
http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/hino-nacional/
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