sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pensamento para sexta-feira [51] – O cu do mundo


Uma homenagem justa ao Brasil


3 comentários:

Paulo M disse...

Maravilhosa essa música. O som de "U", o tempo todo, dá um colorido menos colorido, mais poético, sinistro e genial ao texto. Depois, a estrofe "A mais triste nação..." sai desse contexto sonoro como se alguém de fora se expressasse sobre a descrição do mundo. Muito belo. Concordo em termos com o depoimento. "Não sou daquela turma que considera que somos apenas vítimas dos países que se deram bem." Perfeito. Também não sou. Mas é histórico que os países que se deram bem suplantaram os sonhos de povos antes subdesenvolvidos, hoje em desenvolvimento, como se seu desenvolvimento estivesse a caminho. Aí vai entrar aquele debate sobre se somos ou não responsáveis por nosso destino. Mas o Haiti, massacrado pela França e pelos EUA, responde a isso de certa forma. Ao contrário de Caetano, não gosto dos Estados Unidos e de sua arrogância histórica manchada de sangue, espionagem e interesses sempre escondidos atrás de hipóteses e suposições falseadas. Têm lá sua parte na cereja do bolo, sim. Mas não é tão simples. Isso serve de mote para um longo debate. Senti na Argentina uma capacidade enorme de seu povo em ter autonomia, uma consciência nobre, e no entanto dependente de condições econômicas adversas. Acho um desperdício, uma grande pena, enfim.

E que a Vida dê longa vida a Caetano Veloso.

Eduardo Maretti disse...

Acho, Paulo, que Caetano fala de um ponto de vista mais filosófico, filosofia política.

Os EUA nos deram tantas coisas, o blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen, Jim Jarmusch, John Lurie, Laurie Anderson, Hollywood, Bob Dylan, rimas!...

O que é invejável nos norte-americanos é a capacidade que eles têm de se unirem quando o interesse nacional, dos EUA mesmo, está em jogo. Apenas como comparação: acho um absurdo a população brasileira vaiar a Dilma Rousseff nos estádios da Copa do Mundo. Eu acharia esse tipo de atitude do "povo" condenável mesmo se o presidente fosse Fernando Henrique. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos, país cujo nome já é suficientemente simbólico.

O Brasil é um país que vaia sua presidente pro mundo inteiro ouvir, quando nós, o "país do futebol", estamos recebendo a Copa do Mundo. Você lembra de algum país onde se tivesse trabalhado tanto pra uma Copa do Mundo não dar certo como aqui? Que país dividido que é o nosso!

Um povo que promove linchamentos como se fazia na Idade Média, ou como se faz ainda hoje em países que toleram a barbárie!

Não é possível mais tolerar a barbárie!

E acho tb que Caetano expressa em sua fala uma coisa, sartreana, irrefutável: "não há vítimas inocentes".

Paulo M disse...

Concordo com boa parte do que você afirma. E essa é a fatia da cereja do bolo a que me refiro: "O blues, o jazz, Edgar Allan Poe, a parte americana do rock'n'roll, Nova York, Paul Auster, Michael Jordan, Woody Allen..." Mas criar é inerente a qualquer grande civilização que se ergueu ao longo de séculos no Ocidente ou no Oriente. Não se pode esquecer que também aprendemos com eles uma cultura geral massificada, alienante, totalitária e aduladora de uma elite igualmente ignorante. Acho também absurdo o comportamento de vaiar a Dilma em estádios da Copa, mas, como eu disse no primeiro comentário, não são todos os povos do sul que se expressam contra si mesmos. Talvez o lindíssimo "Hino Nacional" (abaixo), do Drummond, "explique" o que quero dizer. Não sei se Caetano foi mais filosófico, acho interpretativo. Como separar filosofia e sociedade nessa bagunça de conceitos do século 21? Quanto ao "Não existem vítimas inocentes", não posso opinar. Tudo o que sei de Sartre é a metade que li da "Idade da Razão". Mas, dita a frase isoladamente no contexto social de um morro carioca, por exemplo, não acho que carrega a mesma pertinência do universo francês sartreano. Acho que os Estados Unidos (pensei ontem ao escrever o comentário, mas não escrevi isso) nos ensinaram até a inserir a cultura negra, pelo jazz, pelo blues e pelo Harlem, em nossa cultura branca. Só que, pesando os fatos, pesa a balança pro lado errado. Eu iria a Nova York com o maior prazer, e certamente adoraria Nova York, mas não gosto dos EUA.

O poema do Drummond:

http://drummond.memoriaviva.com.br/alguma-poesia/hino-nacional/