quinta-feira, 11 de julho de 2013

A Libertadores não tem nada a ver com Deus. Mas o Galo mereceu estar na final


A mais uma vez dramática classificação do Atlético-MG, agora à final da Libertadores 2013, nos pênaltis, diante do argentino Newell's Old Boys, é mais do que justa. Pelo futebol do time (o que mais encanta no Brasil hoje), pela campanha, pela torcida apaixonada, mas principalmente pelo técnico Cuca, um cara que merece um grande título pelo trabalho que há anos vem desenvolvendo (conheço vários são-paulinos que garantem que o São Paulo campeão da Libertadores e Mundial em 2005 foi montado por ele).


Mais do que ninguém, o treinador do Galo mereceu a façanha

Porém, não posso ser cínico e dizer que torci pro Galo. Por dois motivos: 1) acredito que se o Galo caísse hoje Cuca, talvez, considerasse encerrado o ciclo no clube mineiro, e, quem sabe, olhasse para os lados do litoral paulista, onde o Santos está precisando de um treinador exatamente como ele (o próprio treinador disse recentemente que deseja um dia voltar à Vila Belmiro, onde também hoje o Santos vergonhosamente empatou pela Copa do Brasil, por 1 a 1, com um time chamado Crac - sic - de Goiás, parece que lanterna da Série C do Brasileiro!); 2) quando o Atlético eliminou o Tijuana do México graças a uma defesa de pênalti do goleiro Victor nos estertores da partida, vi jogadores do time brasileiro falarem tanto no “Senhor que nos abençoou” que me deu bode.

Jogador brasileiro não ganha jogo, quem ganha é o “Senhor que abençoa”. Fala sério. Se Deus existe, com certeza não está preocupado com futebol, até porque, pelo menos no Brasil, todo mundo reza e ficaria difícil para Ele decidir. Qual seria o critério de Deus? “Se macumba decidisse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado”. 

“De modos que” (como diria o folclórico presidente corintiano Vicente Mateus) não aguento mais jogador de futebol evangélico. Pelo menos Cuca é católico. É até engraçado, já que Minas (quem conhece sabe) é talvez o estado mais católico do Brasil, se bem que hoje em dia não se pode saber, já que o pentecostalismo já invadiu até a Bahia de Todos os Santos.

Voltando ao futebol, o Newell's Old Boys, que é um belo time, não soube aproveitar o enorme talento de Maxi Rodríguez  no meio campo e ficou apostando na considerável vantagem de 2 a 0 que trouxe da Argentina. Defendeu demais para um time que sabe tocar a bola e poderia ter sido mais ousado.

O Galo quase morreu pela boca graças ao nervosismo do time, que se irradiou pelas arquibancadas e impediu que produzisse o mesmo futebol de alto nível que o levou até a semifinal e, agora, à final da Libertadores. Na verdade, há um terceiro motivo para eu não ter torcido para o time de Minas hoje: é que eu nunca torço para time brasileiro na Libertadores, a não ser para o meu time (os corintianos, no ano passado, mesmo os que me conhecem, não entenderam isso). 

Enfim, a final, Atlético-MG x Olímpia, não tem favorito. É o futebol mais envolvente e bonito da equipe de Belo Horizonte contra o jogo mais pragmático, e traiçoeiro, dos paraguaios. O Galo nunca ganhou uma Libertadores. O Olímpia tem algo que pode pesar muito, a tradição, pois é tricampeão da Libertadores (1979, 1990 e 2002). Os maiores inimigos do Galo, porém, são a ansiedade e os nervos, do time e da torcida.

7 comentários:

Felipe Cabañas da Silva disse...

Eu costumo torcer para outros brasileiros quando o Corinthians está fora da libertadores sim. Os únicos para quem me recuso a torcer são Palmeiras e São Paulo. Até para o Santos já torci em liberta, como em 2011, porque achava que aquele time de marcação, marcação e marcação do Peñarol não merecia ganhar de um time que tinha Neymar. Em 2006, torci histéricamente para o Inter contra o São Paulo. Em 2008, torci para o Flu contra a LDU, e em 2009, para o Cruzeiro contra o Estudiantes. Só em 2007 não torci para o Grêmio contra o Boca, porque aquele time do Grêmio, convenhamos, era bem medíocre e não merecia nem ter chegado à final - fora que não simpatizo com o time nem um pouco. Enfim, embora eu esteja meio revoltado com libertadores esse ano, afinal meu time foi garfado e tinha elenco e bola para ter disputado essa semifinal com o Galo ontem, prefiro que o Atlético ganhe. E não é ufanismo patritórico, não. É pelo futebol mesmo. Mas, o Galo agora tem uma tarefa da pesada, quase tão pesada quanto a do Corinthians no ano passado. Vai pegar um time que chega à sua sétima decisão de libertadores, é tricampeão, uma potência do futebol sulamericano. Esses times quando chegam são difíceis de derrubar. Fora que o Olimpia joga muito mais bola que Tijuana e Newell's, adversários que o Atlético teve dificuldade para eliminar. Acho que a libertadores desse ano ainda reserva muitas emoções...

Eduardo Maretti disse...

Vi muito pouco o Olimpia jogar, só o segundo tempo contra o Santa Fé esta semana, quando perdeu por 1 a 0 (segurando o resultado) mas foi à final. Então não posso falar se é mais time que o Newell's. Mas este é um belo time. Acho que ontem ficou segurando muito o resultado, se tivesse sido mais ousado, tinha levado e deixado o Galo na saudade.

O Olímpia de fato tem tradição. Vamos ver. Parada dura e indefinida.

abraços

fredi disse...

Camarada Maretti compartilho certo asco a atribuir tudo a Deus, também acho que se existir tem coisa mais importante para fazer, mas a fé das pessoas tem de ser respeitada.

O Galo chegou à final pela qualidade do time, mas se as pessoas têm fé e isso as ajuda, fazer o quê?

Quanto a torcer contra o Galo, continue assim, está dando certo.

Abraço

Frédi

Eduardo Maretti disse...

Caro Fredi, devo esclarecer que até o jogo anterior torci muito para o Galo, cheguei a vibrar com a defesa de Victor do pênalti contra o Tijuana.

Ontem, porém, meu sentimento (torcida) mudou, pelos fatores expostos no post. Mas nada radical. Vocês merecem o título.

abs

Felipe Cabañas da Silva disse...

Eu acho que talvez também tenha um outro fator para o "bode" do Edu...rs, que eu senti um pouco. É que virou senso comum e caiu nas graças dos narradores globais. Eu gosto muito mais do Cléber Machado que do Galvão Bueno, acho um profissional mais equilibrado, sensato e ético, mas a torcida histérica dele pelo Galo ontem me deu nos nervos. E ele, como o Galvão, costuma assumir também essa postura de "tal time é Brasil", enfiando pela goela abaixo, formadores de opinião que são, o time pelo qual as pessoas têm que torcer. Como o Edu sabe, eu moro num reduto de palmeirense, e tem um boteco bem perto do meu prédio, de onde ouço os gritos quando o pessoal assiste o jogo do Parmera. Pois ontem os parmerenses do bar comemoraram a vitória do Galo. Será que é só coincidência? De todo modo, esse senso comum midiático em torno dos times que estão por cima da carne seca me dá nos nervos e me desestimula a torcer, mas ainda assim procuro os meus próprios motivos e os meus próprios sentimentos para escolher a torcida. E detesto esse senso comum besta até mesmo quando ele gira em torno do Corinthians. O ano passado o Corinthians "foi Brasil", mas eu não queria ser Brasil naquele momento, queria ser Corinthians...

Eduardo Maretti disse...

É tudo verdade, Felipe. Esse senso comum midiático (exemplo: "o Galo [Corinthians, Santos...] é Brasiiil na Libertadores") é de encher qualquer saco.

Paulo M disse...

Também não conheço esse grupo do Olímpia. Sei que vou torcer pros paraguaios. A demagogia antiprofissional de narrar um jogo de futebol torcendo pros brasileiros me dá náusea. O Sportv não teve a competência de pôr seu maldito tira-teima mostrando se o gol anulado do Old Boys ontem estava mesmo impedido ou não. Simplesmente ignoraram um lance capital porque 'é Brasil, e o negócio é sambá'. No dia seguinte (hoje), tiveram que mostrar em pleno SPTV as pessoas protestando na Berrini contra a TV Globo, e ainda explicar, ao vivo, que o povo estava reivindicando a democratização do sistema televisivo no Brasil. A Globo está acuada. Chupa, TV Globo!

Os dois times, Galo e Olímpia, estão com sorte de campeão. Talvez o Atlético tenha mais time, mas o Olímpia é meio místico. Quem viu os lances do time contra o Santa Fe entende. A conferir.