sexta-feira, 7 de junho de 2013

Coisas que não podem acabar


Como todo mundo sabe, ou deveria saber, estamos numa época em que as coisas são descartáveis e nada que é “velho” faz sentido, porque o bom é consumir, consumir e consumir. Não apenas consumir, aliás, e sim consumir loucamente produtos novos, modernos e bonitinhos por fora, mas quase sempre indecentes no conteúdo.

Por isso me ocorre esse pensamento nostálgico, meio bobo, em coisas que não podem acabar.

Uma coisa que nunca pode acabar é o Chocolate do Padre. Que hoje é da poderosa Nestlé, mas foi fabricado a partir de 1921 por uma fábrica chamada Chocolate Gardano S.A. (foto), que foi comprada pela atual proprietária em 1957.

Realmente, não dá para viver sem o chocolate do padre. Tomar chocolate quente com leite com os horrorosos “achocolatados” que têm mais açúcar do que chocolate afronta um paladar minimamente exigente como o meu. E também ofende quem acha que comer alimentos saudáveis é o mínimo que se pode querer num mundo onde a gente se alimenta de lixo e ainda acha gostoso.

E as cozinheiras que gostam de fazer doce? Como vão fazer bolos e outras guloseimas de chocolate sem o chocolate do padre? Impensável. Até existem produtos similares, mas nada se iguala ao tradicional e eterno chocolate do padre.

Obra do pintor Alessandro Sani
Agora, o interessante é que a imagem dos padres degustando algo muito saboroso é de um quadro do pintor italiano Alessandro Sani (1856-1927). E o mais engraçado é que, na obra pintada pelo artista, o que eles experimentam e se vê ao lado deles, numa travessa, é um frango ensopado. Nada a ver com chocolate! Se você observar ao comprar uma caixa no supermercado, verá que a atual dona da marca inverteu a imagem. Na ilustração da Nestlé, o padre da esquerda está na direita e vice-versa.



Uma vez, há muitos anos, perguntaram ao Gilberto Gil, numa daquelas entrevistas fúteis que cadernos de “variedades” adoram, o que ele usa como desodorante. “Talco Granado”, ele respondeu. Esse é mesmo um produto que não pode acabar. Serve para um monte de coisas, não apenas para você usar no lugar desses horríveis desodorantes que disfarçam o odor do corpo e deixam você fedendo perfume ultrabarato. "Polvilho Antisséptico Granado – Pharmácias – Desde 1870", pode-se ler na embalagem.

Serve para frieiras, como desodorante, alguns tipos de micoses simples, para assadura de bebês e sei lá mais o quê. Como imaginar o mundo sem ele?


A manteiga Aviação é outro produto muito caro a quem gosta, no caso, de uma manteiga que tem gosto. E é gordurosa. Porque esse negócio de hoje em dia tudo ter versão light é um pé no saco.

Às vezes acontece de você entrar no supermercado e não consegue encontrar numa gôndola um requeijão ou uma manteiga que não seja light. Se eu fosse presidente do mundo por um dia, eu proibia produtos light.


O Catupiry, entre as coisas que não podem acabar, é controverso. Tem gente que adora e tem gente que odeia. Eu gosto dele pra passar no pão, como alternativa à insubstituível manteiga quando você quer dar uma variada.

Mas concordo que a obsessão por Catupiry pode ser prejudicial à tradição. Hoje em dia, tudo tem que ter Catupiry. É um negócio que irrita. A velha e boa coxinha, você chega numa padaria metida a chique, pede uma coxinha, e o cara responde perguntando: "com Catupiry ou sem Catupiry?". Ou seja, o tradicional requeijão é melhor do que qualquer outro, na minha opinião, não pode acabar, mas sem exageros. Como dizia minha avó, "tudo o que é demais enjoa".

Maizena é outro produto que me provoca profunda simpatia e eu acho que não deveria acabar. O gozado é que, embora goste de cozinhar, eu na verdade nunca usei e não sei o que fazer com Maizena, que nada mais é do que amido.

Numa rápida pesquisa, descubro que com ela se pode fazer torta, bolinhos, pizza, bolos, molhos e uma infinidade de coisas gostosas. Leio na Wikipedia que para significar amido de milho “usa-se também a palavra maisena, derivada do taíno (língua indígena das Antilhas), maís, pelo espanhol maíz, significando ‘milho graúdo’”. “Amido de milho é o nome que se dá à farinha feita do milho, e usada na culinária como substituto da farinha de trigo ou para o preparo de cremes, como espessante.”

Palavra que vou passar a tentar usar a velha e boa Maisena em algumas receitas.

E como não citar o insubstituível Lysoform, que agora há pouco coloquei na máquina de lavar para bater umas calças jeans? Hoje em dia você vai num supermercado e tem tantos produtos de limpeza e tantas cores e utilidades específicas que eu realmente não consigo comprar. Fico perdido.

Lysoform eu compro, mas geralmente na farmácia. Serve para limpar e desinfetar roupas, e não precisa usar os tais amaciantes com aquele cheiro enjoado de sabonete Gessy.

O Lysoform serve também para lavar banheiro, se não quiser usar cândida (que é como a gente chamava antigamente a água sanitária).

Aliás, por falar em farmácia, lembro do Neutrox, “referência em tratamento capilar há 38 anos e que oferece tecnologia e uma excelente relação custo-benefício”, como li num site.

Aquele “creme rinse”, como a gente falava, era sensacional. Ou ainda é? Não sei, outro dia procurei na farmácia e achei a “linha reformulada”, com um monte de produtos, uma gama de soluções para todo tipo de problemas e cabelos e situações.

Fiquei triste, pois o velho e bom Neutrox tradicional, com aquela embalagem cilíndrica amarelinha, e o produto igualmente amarelinho que você punha no cabelo depois de lavar, esse não achei. Terá sido lamentável se tiverem acabado com o Neutrox básico, que me lembra a infância na praia. Era um remédio perfeito contra o mal que a água do mar e o sol faziam para o cabelo.

E a pomada Minancora, quem nunca usou contra espinhas? A pomada fiel à família brasileira desde 1915, composta de óxido de zinco (0,200g/g), cloreto de benzalcônio (0,005g/g) e cânfora (0,050g/g). A não ser a cânfora, não tenho a menor ideia do que sejam os outros compostos. Mas para espinha na cara adolescente, servia, e como. Usava-se para perebas em geral, para assadura de bebê e um monte de coisa, até para herpes. Leio no site do produto que “é indicada para o tratamento de doenças de pele, como espinhas, frieiras (desidroses) e escaras”.

Não sei se ainda existe. Vou procurar a Minancora numa farmácia, faz muitos e muitos anos que não compro.

Já a Água de Rosas, essa eu nunca usei. Mas diz que é muito útil e antiga. É muito utilizada para limpeza de pele e “é produzida pelo povo árabe desde o século IX. Alguns pesquisadores acreditam que foram os indianos os criadores do produto, já outros pensam que surgiu ao mesmo tempo na Índia, Bulgária e mundo árabe.”

Vou procurar na farmácia também.




*Publicado originalmente à 01:26 de 6 de junho de 2013

7 comentários:

Fernando Augusto disse...

Nossa, já usei ou uso todos esses produtos.

Mas a manteiga Aviação precisou ser vetada mesmo em uma família como a minha, com histórico de problemas cardíacos.

Comprei minancora há pouco tempo e sinto dizer que já existem remédios mais eficazes contra espinhas. Nem tudo piora Maretti rsss

Abraço

Eduardo Maretti disse...

Você não tá me chamando de antiquado não, né? - rs.

Mas a propósito, tem outra coisa bastante eficaz contra espinhas também, que é pomada de própolis...

Mayra disse...

Ah, muito bom seu post! Finalmente encontrei alguém q me entende! Eu tenho uma outra lista, é das coisas q não podem acabar qdo a revolução chegar. Por exemplo, Coca-cola e alfajor Havana!!!

Eduardo Maretti disse...

Muito boa essa ideia da lista de coisas que não podem acabar qdo a revolução chegar! Vou cobrar...

Paulo M disse...

Uma coisa que temo que acabe com o avanço da tecnologia é o bom e velho micro (computador). Digo porque o meu está meio bichado, e tenho de escrever este comentário num lap top, o que não me agrada nem um pouco.

Não gosto da manteiga Aviação. Que eu saiba, só se vende a versão salgada, e tenho sentido muita dificuldade de achar manteiga sem sal por aí. Prefiro a Paulista, que, dizem, vendeu a fórmula pra Batavo, que manteve a ótima receita.

Concordo com a Mayra quanto à Coca-cola. Discordo quanto à revolução. As revoluções acabaram (exceto pela primavera árabe e onde não há interesse midiático em divulgá-las, como no Congo). O "oficialismo democrático" ocidental, a meu ver, asfixiou a ideia de revolução, ou pelo menos como a concebíamos nas décadas de 60 e 70, quando não havia satélites sofisticados e aviões "invisíveis" a serviço da elite política. Não é mais o caminho (se entendo bem). Fico tentando imaginar guerrilheiros investindo contra um mundo de espionagem cibernética.

A revolução agora também é um produto de mercado.

Alexandre disse...

Pois é, a próxima revolução mesmo acho que vai ficar por conta dos asteróides e cometas...tá tudo dominado..
Chá mate também não pode acabar. Muito bom um chazinho mate leão com bolachas cream cracker.

Unknown disse...

Concordo com tudo dessa lista. Tenho saudade da embalagem antiga do talco granado tubo de cartão e ferro nas extremidades tampinha de rosca dourada com estrelinha. Acho mais fácil de reciclar que a atual de plástico e menos nociva ao ambiente quando incorretamente descartada. Bom pelo visto não mudaram a fórmula a meu ver extremamente eficaz acaba milagrosamente com o mau cheiro dos pés não sei como não é comercializado na Europa não tem coisa melhor pó milagroso