Ato III, Cena I, de Hamlet (Shakespeare) – trecho
Ser ou não
ser – eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e
flechadas do destino feroz
Ou pegar em
armas contra um mar de angústias –
E,
combatendo, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E
com o sono – dizem – extinguir
Dores do
coração e as mil mazelas naturais
A que a
carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente
desejável. Morrer – dormir –
Dormir!
Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos
que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam
a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à
desventura uma vida tão longa.
Pois quem
suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do
opressor, o desdém do orgulho,
As pontadas
do amor humilhado, as delongas da lei,
A potência
do mando, e o achincalhe
Que o mérito
paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele
próprio, encontrar seu repouso
Com um
simples punhal? Quem aguentaria fardos,
Gemendo e
suando numa vida servil,
Se não
porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não
descoberto, de cujos confins
Jamais
voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz
preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos para outros que desconhecemos?
A fugirmos para outros que desconhecemos?
5 comentários:
É bonito e profundo o trecho. Mas, nesse momento, não sinto eco na voz sábia e desiludida do bardo inglês. Nesse momento, de desastres cívicos em SP, sinto mais o eco do passado, dos passados, em que nas ruas se ouvia "No pasarán'!!!
Vou publicar mais tarde um depoimento sobre os "desastres cívicos em SP", embora a profundidade existencial de que fala o bardo seja a meu ver muito mais importante, porque atravessa os séculos.
A voz das ruas tb atravessa os séculos...
Traduz nossa existência (parca). Fabuloso.
Acho que a voz das ruas e do bardo se completam, nesse momento. Mesmo pque as batalhas e guerras soam forte na cultura britânica. Já o Brasil ainda engatinha, rumo à uma crise econômica considerável. Passeata contra o aumento das passagens é só um motivo. Na verdade, isso faz parte de uma crise econômina, o que motiva essa desordem.
Ser ou não ser parece ser uma questão eterna.
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