sábado, 15 de junho de 2013

Isolar Haddad é um erro da esquerda paulistana


Tenho lido nas redes sociais, principalmente no Facebook, algumas manifestações apaixonadas sobre o que está acontecendo em São Paulo e no país, e que poderia ser midiaticamente rotulado como Occupy São Paulo, Occupy Rio de Janeiro etc. 

Li, por exemplo: “Já são 10 anos e os caras se perderam. Ou renasce uma oposição ou nós perderemos juntos”.

A referência (“os caras” que “se perderam”) é ao governo popular eleito pelo povo brasileiro, principalmente os nordestinos, em 2002, 2006 e 2010?

Não sou petista. Nunca me filiei a nenhum partido. Mas me parece óbvio – e a história é farta em exemplos – que um dos maiores erros que se podem cometer na política é fazer julgamentos precipitados sobre fatos que só futuramente serão história. No Brasil, esse equívoco se repetiu várias vezes. Talvez o golpe de 1964 fosse inexorável, pelos superpoderosos interesses norte-americanos que por fim acabaram vencendo e instalando as ditaduras nos principais países da América do Sul ao longo das décadas de 60 e 70 do século passado. Mas, com certeza, a divisão da esquerda facilitou o trabalho dos golpistas de derrubar João Goulart. Em suma, a paixão não é o melhor instrumento para se pensar a história.

Em 1989, a esquerda novamente se dividiu, entre Lula e Brizola, e Fernando Collor de Mello foi eleito presidente da República Federativa do Brasil. O que custou muito caro ao Brasil. E também a mim, na minha carreira profissional e na minha vida como cidadão.

Estamos no primeiro mandato de Dilma Rousseff após dois mandatos do metalúrgico Lula, depois de dois mandatos de FHC e, daí para trás, após Itamar Franco, Collor, Sarney, João Baptista Figueiredo e a ditadura. 

Digo tudo isso para falar sobre estratégia. Acho equivocado, do ponto de vista da esquerda, isolar o prefeito Fernando Haddad na atual conjuntura. Não estou nem considerando proselitismos políticos baratos como o de Plínio de Arruda Sampaio, por exemplo.

Se não me engano foi em 2003, ano do primeiro mandato de Lula, que o cearense Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, então ministro da Integração Nacional, disse à revista Fórum que a esquerda precisava entender que, se se dividisse mais uma vez, naquele momento, e não entendesse o significado da eleição de Lula, poderia levar mais 30 anos para voltar ao poder. 

Quando explodiu o escândalo do “mensalão”, em 2005, e muitos petistas de “alta plumagem”, como o gaúcho Tarso Genro, defendiam a “refundação” do PT, o não petista Ciro Gomes deu a cara a tapa e defendeu o governo Lula. Nos intestinos do Partido dos Trabalhadores, Valter Pomar, por exemplo, escrevia artigos para manifestar sua discordância da visão de petistas conformistas como Tarso Genro (e uso o termo "conformista" como referência do cinema, a referência de Bernardo Bertolucci).

No momento é importante saber quem está e quem não está a favor do diálogo. 

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