sábado, 15 de maio de 2010

A missão ousada e arriscada de Lula no Oriente

O protagonismo do Brasil cresce ainda mais no tabuleiro geopolítico mundial, com a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estes dias, à Rússia. Ele estará hoje, sábado, no Catar e domingo no Irã, onde se encontra com o presidente Mahmoud Ahmadinejad.

A missão do presidente brasileiro recebeu apoio incondicional da Rússia, como “talvez a última oportunidade antes da adoção das medidas que todos conhecemos no marco do Conselho de Segurança das Nações Unidas", nas palavras do presidente russo Dmitri Medvedev nesta sexta-feira, 14, em entrevista coletiva no Kremlin.

Lula e Medvedev, no Kremlin
Os EUA pressionam para que as sanções contra o Irã sejam aprovadas no Conselho de Segurança da ONU, no qual apenas cinco países, os membros permanentes, têm poder de veto: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China.

Lula e seu chanceler, Celso Amorim, defendem a tese de que as sanções exigidas pelo governo Obama só agravariam o conflito, que ainda se mantém no âmbito diplomático. Quanto a Obama, na questão iraniana suas posições não diferem do governo Bush, é triste admitir. Pelo menos na retórica, é justo ressalvar. Os EUA continuam a agir como o eterno ventríloquo de Israel, e não o contrário.

O The New York Times abordou o tema, hoje (sexta-feira), enfatizando o óbvio: que a posição brasileira é a de que sanções provavelmente intensificariam o conflito. Mas o mais importante diário dos EUA, sem perder uma espécie de elegância na abordagem, usa o depoimento de fontes para criticar duramente a posição brasileira, na pessoa de Lula.

O NYT menciona preocupações no Brasil de que um fracasso na tentativa de Lula dialogar com Teerã colocaria “Mr. da Silva” como um “amador” em seu intento de conseguir um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança. “Críticos no Brasil questionam por que ‘Mr. da Silva’ abraçou o Irã nos últimos meses sob o risco de se indispor com os Estados Unidos”, diz o jornal.

Finalmente, cita uma fonte, que é Michael Shifter, presidente da Inter-American Dialogue, de Washington, especializada em política exterior. “Há uma sensação em Washington que parte disso é uma tremenda autoconfiança de Lula, que ele acredita ser um mágico que pode operar milagres e conseguir o que outros tentaram e não conseguiram.” O diário estadunidense ironiza, dizendo que, enquanto Lula afirma acreditar que suas chances de êxito no encontro com Ahmadinejad são de 99%, o colega russo Medvedev diz serem de 30%.

Enfim, o New York Times expressa a posição de Washington. Que muitas vezes não precisamos nem traduzir, porque está nas páginas de nossos próprios jornais, como se pôde constatar quando da visita de Lula ao Oriente Médio.

O atual lance do presidente do Brasil no tabuleiro do xadrez mundial é ousado, mas arriscado. Porque ele desafia interesses políticos de Titãs.

O Brasil nunca chegou a tal protagonismo na cena internacional, em que, historicamente, sempre partilhou do princípio nefasto segundo o qual “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”.

Princípio que, envernizado e recoberto de enfeites light, corremos o risco de voltar a viver se José Serra ganhar a eleição. Mas esse já é outro assunto.

Leia a matéria do New York times aqui. (Lógico, se quiser).

3 comentários:

Paulo M disse...

Os EUA estão é morrendo de medo de que a intervenção de Lula dê certo. Em primeiro lugar porque qualquer intervenção, de quem quer que seja, que faça o Irã recuar vai ser mal vinda, os gringos certamente tiram muito bom proveito desse papo com o Irã pra manter uma política dominante na ONU (tô viajando?). Segundo, levariam um rapa do Brasil, e acho que nem imaginavam que o Lula, um torneiro mecânico, fosse ter apoio da Rússia, que ainda é rival deles por causa de petróleo no Oriente Médio e por causa tb das instalações de mísseis americanos na Polônia e na República Tcheca. De uns anos pra cá as relações entre Rússia e EUA andam meio estremecidas pela primeira vez depois da guerra fria. Mas esses americanos vivem taxando nossos produtos. Gosto do Obama, mas ele não tem como fugir à política da cultura americana de sempre dominar todo mundo. A única ressalva que faço à viagem do Lula é em relação à sensação de novidade que me causa, como brasileiro, ver o Brasil envolvido diretamente com questões do Oriente Médio. Aquilo é uma polvorosa só e já temos muitos problemas aqui. Talvez o Brasil se lance definitivamente e como interventor direto na política internacional, ou talvez seja uma roubada.

Paulo M disse...

Do Uol "Dinheiro"

"Brasil e Irã estudam parceria no setor de petróleo, diz ANP
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FERNANDO EXMAN
da Reuters, em Teerã

Brasil e Irã devem assinar um memorando de entendimento que poderá viabilizar a participação de empresas brasileiras na modernização do setor de petróleo da República Islâmica, afirmou neste sábado o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Haroldo Lima.

Em contrapartida, os iranianos ofereceram ao Brasil sondas para a exploração da commodity, revelou."

Eduardo Maretti disse...

E, pelo menos segundo informação da agência Reuters, um acordo foi feito. Mas não há detalhes

16/05/2010 - 18h28

Irã, Turquia e Brasil chegam a acordo, diz chanceler turco
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da Reuters
colaboração para a Folha

O ministro de Relações Exteriores da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse neste domingo que foi alcançado um acordo entre Irã, Turquia e Brasil sobre a troca de combustíveis nucleares, decisão que pode por fim à disputa com o Ocidente sobre o programa nuclear do Irã. Quando questionado por jornalistas em Teerã se haveria um acordo sobre a troca de combustível, ele respondeu: "Sim, isso foi alcançado após quase 18 horas de negociações".

se quiser lero link e esse: Irã, Turquia e Brasil chegam a acordo