quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Moniz Bandeira: "a Sra. Marina Silva joga o PSB na lixeira"


Inúmeros sites publicaram a carta do historiador e cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, que dispensa apresentações, ao presidente do PSB, Roberto Amaral, sobre o partido ter permitido que Marina Silva "entrasse" na legenda. Não sei onde a carta foi publicada primeiro. Mas é um documento contundente que deve ser registrado e reproduzido. Na carta, Moniz Bandeira recomenda a Roberto Amaral "que renuncie à presidência do PSB" e afirma que "a Sra. Marina Silva joga e afunda (o PSB) na lixeira".

Reprodução/Youtube/Café na Política


Estimado colega, Prof. Dr. Roberto Amaral
Presidente do PSB,

A Srª Marina Silva tinha um percentual de intenções de voto bem maior do que o do governador Eduardo Campos, mas não conseguiu registrar seu partido – Rede Sustentabilidade – e sair com sua própria candidatura à presidência da República.

O governador Eduardo Campos permitiu que ela entrasse no PSB e se tornasse candidata a vice na sua chapa. Imaginou que seu percentual de intenções de voto lhe seria transferido.

Nada lhe transferiu e ele não saiu de um percentual entre 8% e 10%. Trágico equívoco.

Para mim era evidente que Sra. Marina Silva não entrou no PSB, com maior percentual de intenções de voto que o candidato à presidência, para ser apenas vice.

A cabeça de chapa teria de ser ela própria. Era certamente seu objetivo e dos interesses que representa, como o demonstram as declarações que fez, contrárias às diretrizes ideológicas do PSB e às linhas da soberana política exterior do Brasil.

Agourei que algum revés poderia ocorrer e levá-la à cabeça da chapa, como candidata do PSB à Presidência.

Antes de que ela fosse admitida no PSB e se tornasse a candidata a vice, comentei essa premonição com grande advogado Durval de Noronha Goyos, meu querido amigo, e ele transmitiu ao governador Eduardo Campos minha advertência.

Seria um perigo se a Sra. Marina Silva, com percentual de intenções de voto bem maior do que o dele, fosse candidata a vice. Ela jamais se conformaria, nem os interesses que a produziram e lhe promoveram o nome, através da mídia, com uma posição subalterna, secundária, na chapa de um candidato com menor peso nas pesquisas.

O governador Eduardo Campos não acreditou. Mas infelizmente minha premonição se realizou, sob a forma de um desastre de avião. Pode, por favor, confirmar o que escrevo com o Dr. Durval de Noronha Goyos, que era amigo do governador Eduardo Campos.

Uma vez que há muitos anos estou a pesquisar sobre as shadow wars e seus métodos e técnicas de regime change, de nada duvido. E o fato foi que conveio um acidente e apagou a vida do governador Eduardo Campos. E assim se abriu o caminho para a Sra. Marina Silva tornar-se a candidata à presidência do Brasil. 

Afigura-me bastante estranho que ela se recuse a revelar, como noticiou a Folha de S.Paulo, o nome das entidades que pagaram conferências, num total (que foi, declarado) de R$1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), desde 2011, durante três anos em que não trabalhou. Alegou a exigência de confidencialidade. Por que a confidencialidade? É compreensível porque talvez sejam fontes escusas. O segredo pode significar confirmação. 

Fui membro do PSB, antes de 1964, ao tempo do notável jurista João Mangabeira. Porém, agora, é triste assistir que a Sra. Marina Silva joga e afunda na lixeira a tradicional sigla, cuja história escrevi tanto em um prólogo à 8ª edição do meu livro O Governo João Goulart, publicado pela Editora UNESP, quanto em O Ano Vermelho, a ser reeditado (4a edição), pela Civilização Brasileira, no próximo ano.

As declarações da Sra. Marina Silva contra o Mercosul, a favor do subordinação e alinhamento com os Estados Unidos, contra o direito de Cuba à autodeterminação, e outras, feitas em vários lugares e na entrevista ao Latin Post, de 18 de setembro, enxovalham ainda mais a sigla do PSB, um respeitado partido que foi, mas do qual, desastrosamente, agora ela é candidata à presidência do Brasil.

Lamento muitíssimo expressar-lhe, aberta e francamente, o que sinto e penso a respeito da posição do PSB, ao aceitar e manter a Sra. Marina Silva como candidata à Presidência do Brasil.

Aos 78 anos, não estou filiado ao PSB nem a qualquer outro partido. Sou apenas cientista político e historiador, um livre pensador, independente. Mas por ser o senhor um homem digno e honrado, e em função do respeito que lhe tenho, permita-me recomendar-lhe que renuncie à presidência do PSB, antes da reunião da Executiva, convocada para sexta-feira, 27 de setembro. Se não o fizer – mais uma vez, por favor, me perdoe dizer-lhe – estará imolando seu próprio nome juntamente com a sigla.

As declarações da Sra. Marina Silva são radicalmente incompatíveis com as linhas tradicionais do PSB. Revelam, desde já, que ela pretende voltar aos tempos da ditadura do general Humberto Castelo Branco e proclamar a dependência do Brasil, como o general Juracy Magalhães, embaixador em Washington, que declarou: “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.”

Cordialmente,

Prof. Dr. Dres. h.c. Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira

6 comentários:

Gabriel M. disse...

É, cara, continuo com a hipótese de que Campos não morreu por acaso.
Sobre a carta, me parece que o PSB tentou dar um passo maior que a perna e pisou em casca de banana, porque quando a Marina entrou, evidentemente com a intenção de ganhar as eleições, em detrimento da ideologia do partido, aí as exigências começaram: "muda aqui, muda ali, senão não tem negócio", porque a esquerda já está aliada ao PT e o PSB não tem força para ganhar sem alianças nefastas. Ou o PSB teria que apoiar o PT já no primeiro turno, o que também o faria ser retaliado pelos fascistas, porque descaracterizaria toda a oposição, que vai de PSDB a PSOL. Enfim, a situação da direita tá complicada. E tá um pouco difícil de entender em quem a direita está se apoiando. Isso é bom, mas sabemos que esses caras não têm dó de ninguém. Será que não vão aprontar mais?

Eduardo Maretti disse...

Até que a eleição esteja decidida, podem aprontar, sempre podem.

Pelo que se diz por aí, Eduardo Campos sabia que não se elegeria, e nem era isso o que queria, mas se fortalecer e fortalecer o partido dele para 2018, quando, dizem alguns aqui e ali, poderia ter o apoio do próprio Lula. Justamente por isso (dizem que ele era um negociador habilíssimo), Eduardo jamais, acredito, teria ido para a direita com tamanha desenvoltura como foi Marinática sonhática ("Sonhática uma ova", diria Luciana Genro).

Mas agora essa, Eduardo Campos em 2018, talvez com Lula, é uma hipótese morta. Pena, porque 2018, se Lula não for candidato, se não estiver bem (vai fazer 69 anos dia 27), vai ser foda. Isso vai.

Gabriel Megracko disse...

Mas boto fé que essa gestão da Dilma vai ser de arrasar. Então ela mesma apoiaria um candidato e o elegeria. Por isso que acho que é um momento muito chave e por isso mesmo é difícil. Fronteira. Mas tô começando a desconfiar que a direita tá um pouco perdida e que se a Dilma se reeleger, ela vai acabar ganhando, por força maior, algumas alianças importantes que antes eram alianças à direita. Enfim, tô otimista, como sempre.

Eduardo Maretti disse...

Também acho que a direita tá meio perdida, como escrevi lá no post "A 12 dias da eleição, pesquisas indicam cenário que a oposição e a direita não previram". Apostaram na Marina e parece que o barco furou, e agora é difícil recuperar Aécio. Incrível, a direita errou a estratégia e se dividiu!

Mas ainda é cedo pra cantar vitória. Precisamos ganhar todos os votos possíveis! Não se sabe o que ainda está por vir...

Lourival Sakiyama disse...


Caros Eduardo e leitores,

A questão é saber qual será a posição do PSB em 2015. Ganhando a eleição com Marina, será o partido da situação, com base parlamentar modesta e sem um grande articulador político. Contar com a mediocridade de um Walter Feldman e a "nova governabilidade" é mergulhar o país numa crise política, onde haverá acordos piores e mais nefastos do que ocorrem hoje. A fatura $erá alta demais.
Perdendo a eleição, o PSB será oposição? Duvido! Infelizmente o desaparecimento de Eduardo Campos desarranjou o PSB de tal maneira que hoje se vê na iminência de votar contra si próprio e sua história. Pode inclusive seguir o mesmo caminho da irrelevância tal qual PSDB.
Definida as eleições de 2014, começa a campanha para 2018. Não tenho dúvidas que ganhando agora Dilma fará um governo melhor que Lula sendo ela, em 2018, o coringa para a sucessão, apontando seu sucessor. E nomes estarão aí: Aloísio Mercadante, Fernando Haddad, Tereza Campello, Alexandre Padilha e quem sabe, Lula. Espero que o adversário seja o Alckmim. Alguém prestou a atenção no que ocorreu em Itú esses dias!!!????

Eduardo Maretti disse...

Desses nomes pra 2018, se não for Lula, sou mais Fernando Haddad.

Sobre a crise da água em Itu, os confrontos etc., a questão é que o fornecimento de água é diferente de São Paulo, não sei exatamente como é... mas parece que é municipal/concessão.