Fotos: Reprodução
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| O lindo bem-te-vi e o passarinho histérico |
Um dos maiores poetas do ocidente e fundador da poesia moderna, o francês Charles Baudelaire introduziu uma questão interessante que pode ser discutida até hoje: a natureza não é apenas a vida, mas também a morte. Óbvio. O que é difícil de aceitar.
Mas digo isso para apenas perguntar: você gosta de passarinhos? Eu gosto, mas alguns me agradam e outros me irritam profundamente. O canto do bem-te vi nunca é incômodo; já a histérica maritaca, quando chega em bando e começa a berrar embaixo da sua janela, você pode desistir de tudo: do filme que você está vendo, da soneca que está tirando, de qualquer coisa. É um bichinho realmente chato.
O bem-te-vi encanta. Ele é tão bonito fisicamente como seu canto é encantador e agradável. Ele canta logo que o dia amanhece, e também no fim da tarde. Seu canto não provoca insônia. Como que se mistura aos sons da natureza e do mundo. Parece que está aí desde sempre.
Já a maritaca (que eu prefiro chamar de baitaca) é o oposto. É um bichinho extremamente irritante. Em bandos, esses passarinhos predominantemente verdes ocupam enormes espaços no pouco verde que há na cidade, e você tem a impressão de que eles são tantos que nada mais pode cantar ou se manifestar na natureza urbana - se é que se pode admitir esse termo paradoxal, natureza urbana.
Por quê? Porque (sejamos racionais) para esses bandos de passarinhos verdes histéricos faltam predadores. Simples assim. Não existem gatos suficientes para abater uma parte dessa espécie insuportavelmente chata. E então ela vai tomando conta de tudo, quase como uma praga urbana. Como pequeninas pombas verdes.
É incrível a diferença entre a natureza de uma espécie agradável (o bem-te-vi) e uma espécie irritante (a maritaca). É o que sinteticamente mostram os curtos vídeos abaixo.
O canto do bem-te-vi:
A histeria da baitaca:
7 comentários:
Definitivamente, os pássaros, de qualquer espécie, façam a algazarra que fizerem podem levar-me a um mínimo grau de irritação. Irrita-me, sim, aquela espécie de viventes que transitam em veículos ruidosos, com motores desregulados, escapamentos furados e buzinas nervosas, oferecendo-nos, sem a alternativa de recusa, suas preferências musicais e em volume ensurdecedor. Outros, apeados de seus veículos, nos brindam nos finais de semana com seus churrascos intermináveis, tornando impossível meditar sobre a vida, impossível assistir a um filme nacional, ainda que com legenda, impossível a concentração necessária para a leitura e entendimento de um livro, impossível cair na tentação de acionar o síndico, indispor-se com a administração do condomínio, tudo repetidamente inútil, pois o churrasco seguirá até o último naco de carne. É possível que as maritacas (ou periquitinhos, como os prefiro chamar) também se irritem com essa espécie humana. Melhor seria não alimentarmos irritações desnecessárias e por razões mal dimensionadas. O alarido dos periquitinhos é fulgaz e a visão da beleza de suas cores vivas, da delicadeza de suas formas e contornos compensa o que poderia talvez ser o barulho não muito aprazível aos ouvidos, com a vantagem adicional de que a sua passagem dura bem menos que um churrasco nos finais de semana nos condomínios espalhados pela cidade. O estado de irritação que tanto nos acomete, muitas vezes não se dá por agentes externos, ele é predominantemente uma predisposição que pode e deve ser debelada. Vivamos em paz!
Tania, "aquela espécie de viventes que transitam em veículos ruidosos, com motores desregulados, escapamentos furados e buzinas nervosas, oferecendo-nos, sem a alternativa de recusa, suas preferências musicais e em volume ensurdecedor" e outras manifestações de estupidez que você cita, de fato, são insuportáveis.
Uma vez até escrevi sobre poluição sonora >> http://fatosetc.blogspot.com.br/2010/05/mazela-da-poluicao-sonora.html
Nesse post acima faltou incluir várias afrontas ao sossego, as que você cita e outras, perto das quais o periquitinho histérico soa quase como música... hehe. Mas que me irrita, me irrita. Mas vou procurar me irritar menos com eles. Não sei se vou conseguir...rss.
O que acho impressionante é que não se combate a tal poluição sonora, que é comprovadamente muito prejudicial à saúde. Todo mundo faz o que quer e fica por isso mesmo...
Não convivo, aqui em São Bernardo do Campo, muito com as tias (digo, tais) maritacas. Acho elas meio desagradáveis, sim, mas se todo o problema de todos os barulhos incômodos fosse esse, já poderíamos nos livrar do ladrar dos cachorros que roubam nosso silêncio a todo instante, o que já seria um avanço sem medidas. Só para não perder o ponto da política, pois em tudo ela está presente, lembro que a Erundina, em sua gestão na prefeitura de São Paulo, criou um projeto (que deu certo) para atrair passarinhos para a cidade de São Paulo. De fato, na época, a cidade ficou mais colorida e cantante. Um dos cantos mais bonitos era o do corruíra, muito leve e distante, que me fazia ter a sensação de estar no meio do mato. De qualquer maneira, "o estado de irritação que tanto nos acomete, muitas vezes não se dá por agentes externos, ele é predominantemente uma predisposição que pode e deve ser debelada". Não é fácil, não, mas deve ser possível.
Pior é quando cachorros roubam nosso silêncio durante à noite. Aqui onde moro tenho um relativo silêncio, não sofro problemas de poluição sonora à noite, a não ser quando algum alarme dispara (o que é outro absurdo) ou quando algum cachorro desembesta a latir, como na noite passada.
Eu não sabia, ou pelo menos não me lembrava, que a Erundina em sua gestão passada havia criado um projeto para atrair passarinhos para São Paulo. Muito bom. Ela acaba de ganhar minha simpatia. Embora haja muito cachorro aqui no condomínio, há também muitos gatos (há moradores que deixam alimentos pelo condomínio o que tem favorecido a proliferação de gatos), que quando resolvem fazer barulho é um Deus nos acuda! Os sons emitidos pelas gatas (imagino que sejam as fêmeas no cio) não me irrita, mas deixa-me num estado de aflição tremenda, pois parece um pedido de socorro, algo bem desesperador. Quanto aos cachorros, quando desembestam a latir, é culpa de seus donos. Edu, se você se empenhar, envidando seus melhores esforços para não mais se irritar com os “periquitinhos histéricos”, estou segura e confiante de que você logrará êxito! Paulo, fiquei curiosa e fui buscar no google o canto do corruíra (https://www.youtube.com/watch?v=1REQNejvLFM). É encantador.
Encantador, Tania. Boa definição.
Então, Tania. Todo mundo diz isso, que "é culpa de seus donos" os cachorros latirem. Mas, francamente, um animal que late desse jeito é muito idiota. A personagem Lúcia, do meu livro Drácula, faz um comentário com o qual concordo: "...dizem que a Terra é um planeta inferior, que existem outros mundos mais adiantados onde estão criaturas mais evoluídas. Acredito! Uma das coisas mais simples que demonstram isso e ao mesmo tempo mais sintomáticas da pobreza deste nosso mundo é essa doença humana que se manifesta nos cachorros".
Gosto da frase "doença humana que se manifesta nos cachorros". É a Lúcia quem diz, não eu!
Então, juntemos humanos boçais com animais estúpidos, dá nisso. Cachorros latindo a noite toda, como bestas irrefreáveis. Lógico que há cães legais, mas...
Aí vem o curruíra. De repente, tem um passarinho como esse, que tem esse canto doce e encantador. E tem outros que... bem, digamos que são histéricos e chatos. Enfim, c'est la vie!
Pra terminar, o livro mais belo que já li sobre animais se chama "Caninos Brancos", de Jack London. Se você puder comprar, vale a pena. Se não, te empresto quando nos encontrarmos. É lindo. É a biografia de um lobo. Já até escrevi sobre >> http://fatosetc.blogspot.com.br/2010/04/natureza-selvagem-segundo-jack-london.html
Aí fica claro o que é um animal magnífico em comparação com o outro...
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