"Por que essa ofensiva diante de um projeto, de um governo que o tempo todo tentou conciliar, desde 2003 até agora, e jamais apostou na ruptura e no enfrentamento?" (André Singer, em debate na USP - 13/04/2016)
Lula ter ido à ONU denunciar abuso de poder e violação da
Convenção Internacional de Direitos Políticos e Civis, na "condução da Operação Lava Jato pelo juiz Sérgio Moro e os
procuradores da investigação", nas palavras da CartaCapital, foi um fato
político relevante. Mais simbolicamente do que na prática, já que, como se
sabe, a ONU é uma espécie de "rainha da Inglaterra".
A ONU nada faz de concreto, a partir de sua sede (não por acaso) em Nova
York. A destruição e a tragédia da Síria, que era talvez o mais laico e com
certeza o mais belo país árabe do Oriente Médio, são a prova definitiva de que
a ONU não serve para nada.
Mas, ONU à parte, aqui no Brasil a ofensiva segue na mesma toada,
como mostra a capa da Folha deste sábado. Decisões judiciais alimentam manchetes,
que por sua vez dão o tom de "verdade" às decisões judiciais, que
citam as reportagens em seus arrazoados, e assim sucessivamente. O objetivo é
óbvio: seja como for, tirar Lula da disputa pela presidência da República em
2018. A priori, a estratégia talvez não seja prendê-lo, o que poderia ser um tiro no pé.
Mas, voltando à manchete da Folha que ilustra este post, paradoxalmente, a própria Folha de S. Paulo publicou um
texto que foi muito reproduzido pelo pessoal de esquerda nas redes sociais. No
artigo do dia 26, intitulado "Escracho", a repórter especial do jornal Eleonora de Lucena escreveu:
" O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos.
" O impeachment trouxe a galope e sem filtro a velha pauta ultraconservadora e entreguista, perseguida nos anos FHC e derrotada nas últimas quatro eleições. Privatizações, cortes profundos em educação e saúde, desmanche de conquistas trabalhistas, ataque a direitos.
"O objetivo é elevar a extração de mais valia, esmagar
os pobres, derrubar empresas nacionais, extinguir ideias de independência. Em
suma, transferir riqueza da sociedade para poucos, numa regressão fulminante.
Previdência, Petrobras, SUS, tudo é implodido com a conversa de que não há
dinheiro. Para os juros, contudo, sempre há."
O texto da articulista é um dos melhores sobre o golpe, porque
não fica apenas no episódio em si, mas resume de maneira cirúrgica o percurso
golpista da elite brasileira desde 1932. É um texto precioso (leia a íntegra aqui).
Fico a me perguntar (como diria Mino Carta, cá com meus botões):
como pode, um jornal que poderia desempenhar papel importante na defesa dos
direitos constitucionais, mais uma vez embarcar num golpe oligárquico e mesquinho?
A elite brasileira e, particularmente, a paulista, poderia apresentar uma proposta de governo a partir da qual pudesse debater com a esquerda. Mas o que eles querem na verdade é só a destruição e o entreguismo.
A elite brasileira e, particularmente, a paulista, poderia apresentar uma proposta de governo a partir da qual pudesse debater com a esquerda. Mas o que eles querem na verdade é só a destruição e o entreguismo.
O velho Claudio Abramo já escrevia, na antiga página 2 da
própria Folha, que a burguesia brasileira é burra a ponto de não entender que um
povo desenvolvido, esclarecido e inserido no mercado de consumo seria muito bom
para o crescimento de todos, inclusive e principalmente do capital.
A perseguição a Lula é absurda. Lula nem mesmo tentou
rompimentos. Ele propôs justamente e apenas uma aliança com o capital. Mas nem isso eles entenderam. O objetivo de Lula era superar a miséria para que todos crescêssemos, como mostra André
Singer no livro Os sentidos do lulismo, que não chegou a abranger o primeiro mandato de Dilma, já que foi publicado em 2012, mas obviamente escrito antes.
O fato é que a aliança proposta por Lula não deu certo porque o capital (a indústria e o mercado financeiro) rompeu o acordo unilateralmente, traiu Lula e Dilma e deu o golpe. E mais nada. Como a reacionária UDN faria. Triste
país, o nosso.
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