sexta-feira, 10 de junho de 2016

Dilma: virada contra seu governo "combina com as manifestações de junho de 2013"



Roberto Stuckert Filho/ PR


Ainda há setores da esquerda que, data venia, ingenuamente, continuam a achar que as manifestações de 2013 foram um show de espontaneidade e democracia jovem.

Mas não param de surgir novas manifestações de pessoas insuspeitas, por sua posição ou conhecimento, que mencionam as estranhas coincidências, as quais permitem uma fácil associação entre, por exemplo, o que ocorreu no Brasil e a chamada Primavera Árabe, ou Revolução Colorida, como preferem alguns. Desta vez foi ninguém menos do que a própria presidente Dilma Rousseff.

Na entrevista a Luis Nassif que foi ao ar ontem na TV Brasil, Dilma fez a seguinte observação sobre a “virada” que se deu a partir de determinado momento em que sua tentativa de baixar a taxa de juros Selic desafiou setores muito poderosos do capital financeiro mundial. Lembremos que a taxa Selic era de 7,25% em abril de 2013, mas já estava a 10% no final do mesmo ano. Dilma disse: "Tem um grau de financeirização na economia brasileira em que todos os setores têm interesse na rentabilidade financeira. Havia uma grande resistência à queda da taxa de juros. Agora, se você me perguntar como é que vira, vira num momento muito estranho, porque se combina com as manifestações de junho de 2013."

Em abril, conversei com Analúcia Danilevicz Pereira, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que fez a seguinte análise: não é por acaso que a oposição, que desencadeou um bombardeio desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma, tenha conseguido "virar o jogo", que estava a favor do governo, coincidentemente a partir das manifestações de 2013. Notem: a professora usa o mesmo termo que Dilma: “virar”. 

"Sim, este interesse (de que o governo Dilma chegue ao fim) existe. Abriu-se espaço para que a oposição, que estava extremamente fragilizada, conseguisse rapidamente um espaço de atuação. Se considerarmos o momento em que todas essas coisas acontecem, mais claramente a partir de 2013, em três anos a oposição virou o jogo no Brasil", disse Analúcia. Sobre essa e outras questões, ela usou a expressão: “Eu não acredito em coincidências”. (Leia a entrevista na íntegra: "Não acredito em coincidências", diz analista sobre interesse dos EUA na queda de Dilma).

Outro de quem ouvi análise semelhante foi o professor de Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Armando Boito. Segundo ele, "as manifestações de junho de 2013 foram confiscadas pela direita para fortalecer o campo neoliberal ortodoxo".

Mais um, de quem li um artigo muito interessante, F. William Engdahl, engenheiro (Princeton), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo), pesquisador de economia, geopolítica e geologia, escreveu o seguinte, como já registrei neste blog: "Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Joe Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado chamado 'Movimento Passe Livre', relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica 'Revolução Colorida', ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento." Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, veio ao Brasil em maio de 2013. O post  com a análise de Engdahl está aqui: Dilma Rousseff, Getúlio Vargas e as coincidências.

De maneira, meus amigos, que basta um mínimo de bom senso para ver que não se trata de impertinência deste blogueiro, conforme já me acusaram. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça (Mateus – 13:9).


2 comentários:

marco antonio ferreira disse...

Só hoje leio seu post. O legal que ela deu a entrevista pro Nassif, que apesar de ser tremendo jornalista, comeu esse papo das, livres manifestações de junho 2013. E por sinal onde o anda o MPL?

Eduardo Maretti disse...

Onde o anda o MPL? O gato comeu...