quinta-feira, 30 de junho de 2016

A derrota de Messi e a demagogia sentimentalista



Reprodução/Youtube


A perda da Copa América pela Argentina no último domingo, mas principalmente a derrota de Messi, o herói, deu margem a todo tipo de dramatizações. Algumas sinceras, outras demagogas e midiáticas; umas emocionadas, outras calculistas (em busca de audiência), outras ainda simplesmente tolas.

Faço este breve comentário com tranquilidade, pois estou muito longe de alimentar em mim mesmo a rivalidade globeleza e falsa entre Brasil e Argentina, que embala o canal de televisão patrocinador do golpe no Brasil.

Adoro o futebol argentino, que, para mim, junto com o outrora (e hoje degradado e horrível) futebol brasileiro e o italiano, sempre formaram a tríade do melhor futebol do mundo -- como tradição e escola, e não apenas como fruto de fenômenos episódicos, do tipo Hungria de 1954 e Holanda de 1974.

Mas, mais do que de seu futebol, adoro a Argentina, país onde é sempre um prazer estar, nem que seja para simplesmente caminhar pela inigualável avenida de Mayo. Julio Cortázar, embora morasse em Paris, certa vez disse que caminhar por Buenos Aires era o maior ou um dos maiores prazeres de sua vida. Conheço vários argentinos e argentinas agradabilíssimos.

Mas voltemos a Messi. Até mesmo eu fiquei um pouco condoído pela dor do craque com a perda do pênalti que custou a derrota para o Chile. Porque a derrota é de fato triste. Mas a pieguice que embalou muitos e o oportunismo mancheteiro que motivou outros, sinceramente, é da dar tédio, ou raiva, dependendo do momento. 

Para mim, "A tristeza de Messi é a tristeza do futebol", como escreveu Mário Magalhães em seu blog no Uol, francamente, superou tudo em tolice, inclusive o sentimentalismo piegas dos amigos ou amigas que se emocionaram a não mais poder com a imagem de uma mulher enxugando as lágrimas de Messi.

Só para ficar no futebol: e a alegria do Chile, construída com talento e aplicação, um time taticamente impressionante, a seleção de Alexis Sánchez e Arturo Vidal, não conta? Conta só o que dá ibope? O triunfo chileno e "tudo isso é importante, mas a tristeza do Messi é mais", escreveu o blogueiro. Ora, por quê? 

Por acaso, quando Roberto Baggio, um dos maiores craques do futebol italiano, e portanto do futebol mundial, em 1994, perdeu o pênalti contra o Brasil não foi "a tristeza do futebol" também, só porque o vencedor foi a seleção pragmática e covarde de Carlos Alberto Parreira venerada por Galvão Bueno?

Ou, voltando um pouco mais, quando Zico, um dos maiores que vi jogar (para mim mais jogador do que Messi) perdeu o pênalti contra a França em 1986, não foi "a tristeza do futebol" também, só porque perdemos, e então o sentimento tinha de ser outro que não o da pena? "A decepção da seleção de Zico", pode-se achar facilmente hoje numa busca no Google sobre o tema.

Messi perdeu. O esporte é assim. Perde-se. Até Pelé perdeu. Aliás, não foi nem a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Messi perdeu um título junto com a Argentina. Messi, um dos maiores craques do século 21, nunca ganhou nada por seu país, onde, diga-se, nunca jogou profissionalmente, já que saiu dos infantis do Newell's Old Boys aos 13 anos para alçar a glória no Barcelona.

A mídia precisa de heróis, para vender manchetes. Mas Messi não chega ao maravilhoso pé esquerdo de Maradona, que ganhou sozinho a Copa do Mundo de 1986 para seu país, num dos momentos épicos e inigualáveis da história do futebol.

Messi hoje é um herói, há anos é o queridinho da mídia, esta semana virou o símbolo da tristeza e vende muitas manchetes. Por isso mesmo, porque o mundo precisa de manchetes e de quem as compre, virão outros.

Podem ficar tranquilos. O craque nascido em Rosario que perdeu o pênalti no domingo continuará feliz lá na Catalunha. E os chilenos, outrora menosprezados por seus próprios compatriotas, estão muito felizes com o bicampeonato. É muito justo.


Um comentário:

Alexandre Maretti disse...

Acho que o Brasil passa por uma situação tão lamentável, logicamente também no futebol, que senti gosto de ver os jogos(os que pude)da Euro e da Copa América. Sempre têm jogos ruins em todos os torneios,. mas de uma forma geral, há seleções que se destacam..e a vontade de vencer é um fator comum entre as seleções. Na C.América, o Chile que é o Bi Campeão, muito bom time, deu lição de muita raça e técnica também...pode dar trabalho na Copa, mas aí são outros quinhentos. Acho Messi um grande jogador, não gosto muito do jeito dele, ele é arrogante e estranho, mas já ficou na história, assim como Zico. Quando acabou o jogo da decisão Argentina x Chile, no intervalo para a prorrogação, o goleiro do Chile, Claudio Bravo, aliás ótimo goleiro, num gesto de camaradagem, companheiro de profissão, cumprimentou o Messi e esse se quer olhou na cara do Goleiro. Achei isso um desfeito incrível, não sei se era nervoso, desprezo, mas achei desrespeito. Pagou caro por isso.
Maradona, Romário, Pelé, Zidane, esses caras não tremeram, apesar de que ter medo faz parte, etc..Pelé não conta, espécie de Deus do futebol encarnado, mais ou menos por aí.

Concordo que a seleção de 1994 era pragmática, mas tinha time. Se não tivesse jogado o genial Romário no ataque com Bebeto na linha de frente, o Brasil não teria ganhado essa copa. Branco na lateral esquerda, Jorginho, Zinho, um time compacto, eficiente...adorava ver essa dupla jogar, eu queria assistir, não via a hora de jogar o Brasil pra ver Romário e Bebeto....

Na Euro, a Itália é um grande destaque. Me agradou muito ver l'Azzurra. O Brasil parece que não se deu conta de que não é mais o MELHOR. Precisa mudar a estrutura, o pensamento...pegar a galerinha daqui, que dá valor pra vida e luta por ela. Esses 'brasileiros' que jogam na Europa, na maioria, esqueceram do espírito brasileiro, são europeus, não jogam futebol brasileiro, além disso são mercenários....os tempos mudaram, tempos em que empresários mandam mais, os empresários são os papais também.

O Tite parece ser uma figura mais humilde, levando em conta o excelente técnico que é, apesar d'eu não gostar do estilo de jogo dele, pode dar certo. Mas as condições que a CBF lhe dará, nada se pode prever. O brasileiro tá carente de ídolos. Nesses tempos me parece não ter ninguém genial que represente o Brasil, ou parece mesmo que ninguém está motivado, em nenhuma modalidade.