Roberto Stuckert Filho/ PR
Ainda há setores da esquerda que, data venia, ingenuamente, continuam a achar que as manifestações de 2013 foram um show de espontaneidade e democracia jovem.
Mas não param de surgir novas manifestações de pessoas
insuspeitas, por sua posição ou conhecimento, que mencionam as estranhas
coincidências, as quais permitem uma fácil associação entre, por exemplo, o que ocorreu no
Brasil e a chamada Primavera Árabe, ou Revolução Colorida, como preferem alguns.
Desta vez foi ninguém menos do que a própria presidente Dilma Rousseff.
Na entrevista a Luis Nassif que foi ao ar ontem na TV Brasil,
Dilma fez a seguinte observação sobre a “virada” que se deu a partir de
determinado momento em que sua tentativa de baixar a taxa de juros Selic
desafiou setores muito poderosos do capital financeiro mundial. Lembremos que a
taxa Selic era de 7,25% em abril de 2013, mas já estava a 10% no final do mesmo
ano. Dilma disse: "Tem um grau de financeirização na economia brasileira
em que todos os setores têm interesse na rentabilidade financeira. Havia uma
grande resistência à queda da taxa de juros. Agora, se você me perguntar como é
que vira, vira num momento muito estranho, porque se combina com as
manifestações de junho de 2013."
Em abril, conversei com Analúcia Danilevicz Pereira,
professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), que fez a seguinte análise: não é por acaso que a oposição, que
desencadeou um bombardeio desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma, tenha
conseguido "virar o jogo", que estava a favor do governo,
coincidentemente a partir das manifestações de 2013. Notem: a professora usa o
mesmo termo que Dilma: “virar”.
"Sim, este interesse (de que o governo Dilma chegue ao
fim) existe. Abriu-se espaço para que a oposição, que estava extremamente
fragilizada, conseguisse rapidamente um espaço de atuação. Se considerarmos o
momento em que todas essas coisas acontecem, mais claramente a partir de 2013,
em três anos a oposição virou o jogo no Brasil", disse Analúcia. Sobre
essa e outras questões, ela usou a expressão: “Eu não acredito em coincidências”. (Leia a entrevista na íntegra: "Não acredito em coincidências", diz analista sobre interesse dos EUA na queda de Dilma).
Outro de quem ouvi análise semelhante foi o professor de Ciência
Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Armando Boito. Segundo ele,
"as manifestações de junho de 2013 foram confiscadas pela
direita para fortalecer o campo neoliberal ortodoxo".
Mais um, de quem li um artigo muito interessante, F. William
Engdahl, engenheiro (Princeton), pós-graduado em economia comparativa
(Estocolmo), pesquisador de economia, geopolítica e geologia, escreveu o
seguinte, como já registrei neste blog: "Dilma Rousseff tinha uma taxa de
popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Joe Biden
ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado
chamado 'Movimento Passe Livre', relativos a um aumento nominal de 10 por cento
nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se
tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica
'Revolução Colorida', ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden
por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu
para 30 por cento." Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, veio
ao Brasil em maio de 2013. O post com a análise de Engdahl está aqui: Dilma Rousseff, Getúlio Vargas e as coincidências.
De maneira, meus amigos, que basta um mínimo de bom senso para ver que não se
trata de impertinência deste blogueiro, conforme já me acusaram. Quem tiver
ouvidos para ouvir, que ouça (Mateus – 13:9).
2 comentários:
Só hoje leio seu post. O legal que ela deu a entrevista pro Nassif, que apesar de ser tremendo jornalista, comeu esse papo das, livres manifestações de junho 2013. E por sinal onde o anda o MPL?
Onde o anda o MPL? O gato comeu...
Postar um comentário