Assim o jornal
britânico The Guardian classifica, em editorial, como mostra a imagem acima, o processo de impeachment no Brasil: "Uma tragédia e um escândalo". A
vergonhosa farsa do impeachment comandada pelo presidente da Câmara dos
Deputados -- que, segundo o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), é um "gângster"
cuja cadeira é sustentada por algo que "cheira a enxofre" -- é notícia
no mundo todo. "Nada é claro na obscura crise política do Brasil, exceto
que o país vai sofrer as consequências por um longo tempo", acrescenta The Guardian .
Como diz Laymert Garcia dos Santos, em entrevista que vai ao
ar nesta terça-feira (19) na RBA: "Não é à toa que na Europa, nos países,
digamos, democráticos, que não são nenhuma maravilha, eles estão entre
horrorizados e estupefatos com o nível de baixaria que é o Parlamento
brasileiro.”
O jornal britânico faz um histórico da ascensão do PT e Lula
ao poder, a partir da seguinte avaliação: "Desde que Stefan Zweig, em
texto de 1941, o chamou de 'o país do futuro', o Brasil tem sido comentado por falhar
em viver de acordo com a promessa que a sua dimensão, os seus recursos e seu
isolamento das guerras e problemas que afetam outras partes do mundo parecia
suportar".
Continua o Guardian dizendo ter havido momentos "em que
a promessa parecia à beira de se tornar uma realidade, mas essas esperanças
foram repetidamente frustradas". A mais recente teve início com a ascensão
ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003.
Por fim, a história chega a Dilma, prossegue o The Guardian,
com "convincentes vitórias em 2010 e 2014, e desde então a história tem
evoluído cada vez mais na escuridão, até que chegou a um lúgubre e mais baixo
nível no domingo, quando a Câmara votou pelo impeachment dela".
O jornal afirma que um dos motivos pelos quais as coisas
deram tão errado é que "a Constituição do Brasil é uma receita para o
conflito".
Lembra ainda o que todos nós sabemos, que enquanto "Lula
era um mestre na gestão" de contradições políticas, Dilma é "ineficaz
e inconsistente e não tem suas habilidades".
Como muitos sabem, muitos ignoram e (com a licença de Jean
Wyllys) muitos canalhas sabem, o jornal da civilizada Grã Bretanha lembra que
"a presidente mesma não foi implicada no escândalo Petrobras". "O
pretexto para o seu impeachment é que ela manipulou os fundos estatais antes da
última eleição - não muito mais do que uma contravenção para os padrões
brasileiros. Mas quase todos os envolvidos no impeachment são suspeitos de
corrupção, incluindo Eduardo Cunha, o presidente da Câmara".
E assim, meus amigos, conclui The Guardian: "Agora,
muitos temem que a campanha anti-corrupção vai desaparecer, além de uma
concentração final de fogo contra Lula. Michel Temer, o vice-presidente, terá
de enfrentar os mesmos problemas que derrotaram Dilma Rousseff, e suas chances
de lidar com eles de forma eficaz devem ser classificadas como baixas. A
oposição desacreditada vai assumir a partir de um PT desacreditado. É difícil
imaginar um cenário mais sombrio para o Brasil".
O Brasil é motivo de vergonha. O Brasil e sua face podre
correm o mundo em forma de notícia.
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A íntegra do editorial do The Guardian (em inglês): The Guardian view on Dilma Rousseff’s impeachment: a tragedy and a scandal
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A íntegra do editorial do The Guardian (em inglês): The Guardian view on Dilma Rousseff’s impeachment: a tragedy and a scandal
9 comentários:
Mas o Brasil tem seu povo e sua cultura...não sei se essa farsa toda vai resistir muito....é preciso que a política mundial esteja confabulada para as trevas...aí sim vai ser pesado.
Mas a política mundial, leia-se Estados Unidos, está confabulada para as "trevas"! As trevas do Brasil e do Brics. Quem está por trás desse golpe? O que estamos vivendo senão trevas? Não acho que vai ser pesado. Já É muito pesado, mais do que isso impossível.
Veja esses dois textos:
https://theintercept.com/2016/04/18/porque-o-sen-aloysio-nunes-foi-a-washington-um-dia-depois-da-votacao-do-impeachment/
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/04/pais-vive-regressao-a-casa-grande-e-a-senzala-diz-laymert-garcia-dos-santos-1669.html
Quanto à cultura e ao povo, bem, humildemente acho que a cultura não tem nada a ver com isso e grande parte do povo é cúmplice do golpe.
Assistir a subserviência de muitos deputados ao Cunha na votação para a abertura do processo de impeachment (ops, golpe!), além de seus discursos nos quais evocavam a Deus, esquecidos de suas alianças com o diabo, é para ruborizar de vergonha até os mais lascivos. A comemoração que se deu imediatamente após o resultado da votação (buzinaço, fogos de artifício, gritarias, etc.) aqui nas imediações de casa, deixou-me desalentada e a pensar: Que gente é essa? Essas pessoas estão comemorando a vitória da corrupção! (pois Cunha e etc. vão deitar e rolar), da hipocrisia! da incoerência! (pois democracia e golpe são incompatíveis). É isto mesmo? Sim, é isto mesmo, mas suspeito que essa gente nem saiba. É como se, desatentos, achassem que se tratasse de uma disputa de futebol onde ganhar ou perder não traz nenhuma consequência prática à vida do torcedor. Não há outra explicação... É a demonstração da total incapacidade de avaliar os desdobramentos de uma ação. Só rindo, chorando ou cuspindo, a critério dos ânimos.
Essas pessoas aparentemente tolas, Tania, se inserem entre aquelas que o deputado Jean Wyllys chamou de canalhas, ladrões, vendidos, como é bom registrar, no link abaixo, já que é um dos melhores votos daquele dia trágico. Se acham que era algo como "uma disputa de futebol onde ganhar ou perder não traz nenhuma consequência prática à vida do torcedor", eu espero que a todas essas pessoas e seus deputados a história reserve um destino coerente com seu caráter. Meu sentimento por elas é puramente ódio, embora eu preferisse o desprezo.
http://tv.r7.com/record-play/videos/deputado-jean-wyllys-chama-apoiadores-do-impeachment-de-canalhas-17042016
São indignantes, miseráveis e torpes, pra dizer o mínimo, os meios pelos quais a direita, se é que isso se pode chamar sequer de direita, pretende retomar o poder no Brasil. Depois de tudo, Michel Temer vai construindo, peça a peça, a céu aberto, o governo imaginário pós-golpe.
Creio que é hora de o PT, as instituições democráticas e principalmente o governo federal entenderem que o momento é de guerra política aberta contra uma conspiração mafiosa, que já lança ataques fervorosos e fanáticos ao discurso antigolpe que Dilma vai fazer na ONU.
Discursos éticos não convencem mais.
É preciso usar instrumentos de comunicação e informação disponíveis (por exemplo, pronunciamento nacional em rede de rádio e televisão, em horário nobre) para denunciar não apenas o golpe, mas o crime organizado. E de requerer, publicamente, por meios legítimos, a investigação dos desmandos desse demônio Eduardo Cunha, de FHC, de Gilmar Mendes, da revista Veja, da Folha de S. Paulo, do Estadão, da Rede Globo... O PT não pode permitir que os depoimentos da Miriam Dutra (link abaixo) passem em branco, que as barbaridades do governo Geraldo Alckmin passem em branco, que os escândalos da Petrobras no governo FHC passem em branco (link abaixo).
Quem lamenta consente. Não se pode deixar escapar a oportunidade, eles estão com medo também. Vamos sair da defesa.
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/03/mirian-dutra-afirma-que-fhc-e-dono-mesmo-do-apartamento-de-paris-2633.html
http://www.conversaafiada.com.br/politica/2014/11/21/nunca-se-roubou-tao-pouco-menos-hipocrisia
Infelizmente o Governo Federal é de uma timidez exasperante. Tirante os que buscam informações em outros veículos, um grande número da população tem seus ouvidos apenas bombardeados pela versão da mídia golpista. Questionada sobre o papel da Globo no golpe, a presidenta Dilma ainda usa o argumento do livre direito à expressão e blá, blá, blá, com que aliás concordamos, embora o direito deva ser sempre bilateral e precise ser exercido contínua e efusivamente. Para enfrentar os fortes é realmente preciso diversificar as armas ou ao menos usar as que estão disponíveis, coisa que minimamente o Governo tem feito. O fato é que o tom pastel do Governo não combina com a situação atual que exige cores bem mais vibrantes.
Concordo com Paulo e Tania aí acima. "Timidez exasperante"; "Vamos sair da defesa".
O Fernando Morais disse o seguinte no facebook (ele tem essa mania que virou moda de escrever tudo com letras minúsculas, que é um saco, mas eu não vou corrigir, que enche mais o saco ainda, mas reproduzo porque tem tudo a ver com o que vocês comentaram):
"aos que defendem o discurso fosco, recatado, da dilma na onu, alegando que lá não é o lugar adequado para fazer denúncias dessa natureza, recomendo que vejam (tem na internet) os discursos de fidel, arafat, che guevara, hugo chávez e, claro, o de kruschev, que silenciou o plenário dando sapatadas na tribuna"
Dilma, Dilma....Legal , Tania, Infelizmente o Governo Federal é de uma timidez exasperante." é irritante mesmo....assim fica difícil até com 52 milhões aliados. O discurso da Dilma foi a contento, da oposição, claro. Faltou um refresco em plena conferência. A gente aqui quase em guerra e a Dilma com protocolo? Cara, na boa, vai tomar no cu,... "Não se pode deixar escapar a oportunidade, eles estão com medo também. Vamos sair da defesa"....e ela deixou escapar mais uma.
Quero deixar claro que não estou malhando a Dilma, mas ela não tá colaborando.
Guerra é guerra. Tem que usar todos os recursos.
Acho que ainda não é um período de trevas como o fascismo nas décadas de 20, 30, 40....acho que o que eu quis dizer foi a materialização de um novo sistema econômico capitalista em curso, mas que ainda não se materializou, está sendo organizado, e um dos objetivos é o desmantelamento do BRIcs. O pensamento neofascista se aflora nessas condições propícias.
Lutar contra essa força Invisível sem a união necessária dos Brics, por exemplo, contra esse processo, fica muito difícil sobreviver. (http://www.redebrasilatual.com.br/mundo/2016/04/o-201cgoverno-invisivel201d-dos-estados-unidos-e-sua-influencia-no-golpe-em-marcha-no-brasil-8948.html) - excelente testo.
excelente texto o que está entre parênteses, da RBA...mas esse post também tá muito bom..
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