Fernando Frazão/Agência Brasil
Da RBA
A sambista Beth Carvalho deu literalmente o tom no ato que
reuniu artistas e intelectuais hoje (11), no bairro da Lapa, região central do
Rio de Janeiro. Ela encerrou as falas com uma sugestão: “Proponho construir uma
rede democrática de comunicação em defesa da legalidade tal como fez o
inesquecível (Leonel) Brizola em 1961”. A cantora defendeu que essa rede tenha,
como “cabeça”, a EBC, TV Brasil, Rádio Nacional, TVT, TVs educativas, rádios
comunitárias “e todos os que quiserem participar e quiserem ajudar a derrotar
esse golpe”.
“Essa ferramenta faria contraponto para mobilizar o povão que não tem alternativa de informação”, acrescentou Beth
Carvalho, que entoou um samba recém-composto: "Não vai ter golpe de novo/
reage, reage meu povo”.
O cantor e compositor Nelson Sargento, de 91 anos, saudado
pela comunidade artística no palco, declarou: “Eu não ia dormir sossegado se
não tivesse vindo aqui hoje”. Recebeu um beijo do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que não discursou.
Como sempre muito esperado e aplaudido desde o início do
evento, o cantor e compositor Chico Buarque falou três frases. “Não teria muito
mais coisas a dizer do que já disse no Largo da Carioca (no dia 31). Já que
cheguei aqui e fiquei besta quando vocês começaram a dizer ‘Chico eu te amo’,
nós também amamos todos vocês e essa energia. Estaremos juntos em defesa da
democracia. Não vai ter golpe”, disse Chico.
Também muito aplaudido, o teólogo Leonardo Boff usou bom
humor: “É muito bom eu falar por último, para fazer o sepultamento do
impeachment”, afirmou. “Eles também (os golpistas) falam em democracia. A
democracia dos ricos. Democracia para os ricos nós não queremos. Queremos uma
democracia social inaugurada por Lula e Dilma. Queremos uma democracia
participativa, que enriqueça a democracia representativa, que vem de baixo,
onde os movimentos sociais contam. A crise trouxe a pergunta: que Brasil nós
queremos? As ruas estão mostrando.”
O cineasta Luiz Carlos Barreto, o Barretão, declarou que
“não é uma passeata de 3 milhões de pessoas que vai anular o voto de 53
milhões”. Ele disse também que o impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff
está sendo desencadeado pelos sonegadores de impostos do país. “Em 2015, a
sonegação chegou a 415 bilhões de reais. São dez programas Minha Casa, Minha
Vida que ficaram nos bolsos de quem sonega.”
Segundo Barreto, a tentativa de golpe contra Dilma precede
“um segundo golpe que pretende impedir que o presidente Lula concorra nas
eleições de 2018”. O cineasta pediu que as mobilizações não parem mesmo após os
movimentos em defesa da democracia vencerem a “batalha do impeachment”.
Em um dos depoimentos mais emocionantes, o cantor e
compositor de rap, funk, hip hop Flavio Renegado declamou um poema e afirmou:
“A periferia está organizada. As comunidades nunca se calaram. O Brasil nunca
ouviu as comunidades. Nós sempre sobrevivemos a tudo e vamos sobreviver ao
golpe”.
Reprodução
Renegado: “A periferia está organizada" |
O ator Wagner Moura apareceu em vídeo. Reconheceu que nunca
votou em Dilma Rousseff, mas observou que a democracia está sofrendo ataques.
“Tenho sido um crítico duro do governo Dilma. Eu nunca votei nela, mas 54
milhões de brasileiros o fizeram. Se nossa democracia não fosse frágil, não
estaria sendo atacada e correndo risco. Mas ela avançou, e isso graças aos
governos Lula e Dilma.”
2 comentários:
Isso aí, tô nessa
Parte da fatia da elite favorável ao golpe (como a Folha de S. Paulo) deve estar repensando a tentativa de impeachment depois de perceber que a vida talvez estivesse melhor antes dessa ideia. Pensaram que o processo fosse ser mais simples, mas acordaram um gigante que tem em Lula a maior liderança política e popular do mundo neste momento, e consegue reunir multidões em seus discursos de palanque, com uma oratória de dar inveja aos recursos plásticos da mídia. Quero crer que a elite não está satisfeita com a derrota nas urnas, prefere perder também no tapetão. Mas a cada dia as coisas mudam. Acho também que tudo isso pode ser apenas o começo de uma crise que perdeu os freios. Quando se chega ao ponto de um jornalista da Folha, Hélio Schwartsman, dizer que o impeachment de Dilma é mais civilizado que o assassinato, como afirma a Rede Brasil Atual, só se pode chegar à conclusão de que, se havia algum resto de civilidade nisso tudo, acabou. O Eduardo Cunha está fazendo o que quer neste país, um sujeito que mais se assemelha à terceira besta do que a qualquer outra coisa. E é candidato a tal. Teremos, domingo, eleições indiretas pra presidente via Eduardo Cunha rsrs. Não sei se rio ou se marejo.
Postar um comentário