quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Sobre eleições e teorias da conspiração



Valter Campanato/Agência Brasil
Marina e Roberto Amaral, presidente do PSB

Raramente gosto de conversar quando surge qualquer teoria da conspiração. Acho um tipo de raciocínio anti-historicista. São sofismas, e sofismas simplistas.

Lembremos o que é sofisma, segundo o dicionário (Houaiss): “argumento ou raciocínio concebido com o objetivo de produzir a ilusão da verdade, que, embora simule um acordo com as regras da lógica, apresenta, na realidade, uma estrutura interna inconsistente, incorreta e deliberadamente enganosa”.

As teorias conspiratórias nascem sempre de fatos importantes. Em vez de raciocinar sobre causas e efeitos (políticos, esportivos, cotidianos ou cósmicos), a mente do teórico-conspiratório projeta uma explicação simplificada do que acha que serve a suas premissas (quase sempre falsas) e produz a tal ilusão. Quando se sentem incapazes de explicar alguma coisa, as pessoas tendem a procurar deuses, fantasias ou ilusões.

Todas as teorias conspiratórias me irritam. Seja na política, seja no futebol.

A tragédia da queda do avião de Eduardo Campos, que na minha opinião fez mal para o Brasil e, do ponto de vista político ou humano, foi muito triste, é a mais recente fonte de teorias do gênero.

Os atentados às Torres Gêmeas no 11 de setembro de 2001 foram uma das mais ricas fontes de inúmeras teorias do tipo.

É só a seleção brasileira de futebol perder, que lá vêm as teorias conspiratórias: perdeu de 3 a 0 da França em 1998 porque o time se vendeu, Ronaldo não teve convulsão nenhuma etc etc. Já em 2014, perdemos da Alemanha de 7 a 1 porque, na verdade, tudo fazia parte de um esquema para prejudicar a Dilma nas eleições etc etc. Os teóricos conspiratórios não enxergam que o time de Zidane em 98 era um grande time, muito superior ao medíocre Brasil de Zagalo; e que o time de Felipão de 2014 foi um dos piores da história do futebol brasileiro, senão o pior.

Outros, de espectro político oposto, diziam antes da Copa do Mundo deste ano que a Copa já estava comprada. “A Dilma e o PT já compraram, o Brasil vai ganhar a Copa, pode escrever”, me garantiu uma pessoa em meados de maio de 2014. Pois é.

E assim é.

Não estou conseguindo ver a eleição presidencial sob a ótica da teoria da conspiração. Embora alguns vejam, paranoicamente, até a CIA implicada no processo político brasileiro atual, as coisas estão caminhando de acordo com a evolução político-histórica do Brasil contemporâneo. O que quero dizer é que acho que existem conspirações, dos Estados Unidos inclusive, e que coisas estranhas acontecem, mas não são apenas as conspirações e as coisas estranhas que explicam os fatos históricos. Se dependesse dos EUA, Fidel Castro teria sido assassinado há décadas.

Acho que vai ter segundo turno nas eleições de outubro, mas não considero Aécio já derrotado, apesar de a mídia aparentemente já ter tomado a decisão de apoiar Marina. Marina é uma figura ambígua, e perigosa. Esse discurso contra a política tradicional de um (a) eventual presidente sem sustentação política ou facilmente manipulável – esse filme já vimos. Mas Marina não é apenas como que um produto projetado por George Soros e companhia, como querem alguns, como se projetar presidentes da República fosse como resolver uma operação algébrica simples. Pensar assim é ignorar a complexidade da política brasileira. Aécio Neves, que nem sabe se estará no segundo turno, já anunciou no debate da Band que seu ministro da Fazenda será Armínio Fraga, que é muito próximo de George Soros.

Pode ser que Marina seja uma bolha eleitoral, pode ser que não. As próximas semanas vão esclarecer.

Se acontecer uma possível derrota de Dilma Rousseff na eleição, não terá sido (pelo menos não apenas) decorrente de conspirações, mas de muitos fatores conjugados. No momento me parece improvável uma derrota de Dilma.

O que faltou a Dilma durante seu mandato, e agora está fazendo falta em votos, é a capacidade de conversar e negociar com as diferentes forças políticas, inclusive com o mercado financeiro. A capacidade de Lula. Faltam quase 40 dias para o primeiro turno, muita água vai passar debaixo da ponte.

Acho que Dilma ganha a eleição, mas no segundo turno e sem facilidade. Dilma está sendo bombardeada por todos os lados e nem o PMDB de Michel Temer está ajudando no combate. Isso é política. O resto é teoria da conspiração.



5 comentários:

Alexandre Maretti disse...

Será que o avião do Eduardo Campos não foi derrubado? hehehe...
depois desse fatídico episódio, vai ficar difícil de se saber o desfecho dessa eleição. Sei não, Marina Silva me parece algo bem sinistro.

Lourival Sakiyama disse...


Concordo! Conspiração é ficção, coisa de filme americano. Aqui é política pesada, jogo jogado e chute na canela!!!
Dilma tem q ser Brizola na alma, colocar o dedo na cara e partir pra cima. Despachar o Paulo "plim,plim" Bernardo lá pra campanha da mulher...e dizer pra Marina que o Chico Mendes era sindicalista e não ambientalista, portanto não misturá-lo com a tigrada que a cerca...

Eduardo Maretti disse...

O que parece sinistro em Marina, ALê, é a fraqueza política e de suas propostas, uma figura que parece que seria muito facilmente manipulada se ganhar. o que não acho que acontecerá...

E falta mesmo, Lourival, um lado Brizolista a Dilma (aliás, ela começou a vida partidária no pós-ditadura justamente com Brizola), e tb acho que tem de "dizer pra Marina que o Chico Mendes era sindicalista e não ambientalista"

Abraços

Anônimo disse...

vc e um coitado...

Eduardo Maretti disse...

E vc é um anônimo.
Nem coragem de se identificar tem.