Reproduzo aqui no blog pra registrar o que me parece ser a mais lúcida, cirúrgica e politicamente inteligente análise entre tudo o que li sobre a questão desde junho de 2013.
Fernando Frazão/ Agência Brasil (11/02/2014)
Sininho como representação e o desencanto de uma geração
adultescente que acreditou na inconsequência como ação de transformação
revolucionária da realidade.
Não há como não se enternecer, de alguma forma, com a figura
da personagem Sininho. Traz em si a figura da filha adolescente, frágil e
radical.
Até o codinome – Sininho – lhe cai apropriadamente bem. Uma
personagem que saiu da “Terra do Nunca” da internet e inspira a tropa dos
“meninos perdidos” na sua tentativa de alcançar a utopia pela destruição do
mundo real.
Sintomático dos dias atuais é que há Sininho e há meninos
perdidos, mas não há um Peter Pan. Sininho é a líder dos meninos perdidos.
Mas Sininho é uma ficção. Não é professora, não é
sindicalista, não é bailarina, não é socialite. É qualificada ora como
“ativista”, ora como “produtora cultural”.
Seu cavalo, Elisa Quadros Sanzi, no entanto, chegou à casa
dos trinta, muito provavelmente com formação superior e tendo recebido da
família a estrutura necessária para ser, hoje, uma jovem adulta de quem se
espera a consequência nas ações. E a
consequência é o que se espera de adultos, mesmo, e talvez principalmente, em
ações que busquem a transformação da realidade.
O oposto disso é a principal característica do que chama
“movimento” – a inconsequência.
Quem forma esse movimento?
Anarquistas de internet, carbonários anacrônicos,
incendiários saídos da Academia ou de histórias em quadrinhos, punheteiros
imberbes, a criminalidade comum e os oportunistas de toda ordem.
Isso forma um movimento?
Lênin – Vladimir Ilitch Ulianov, já dizia que batatas dentro
de um saco formam um saco de batatas, mas não formam uma organização.
Pena que Sininho e seus amigos não tenham lido “Esquerdismo,
doença infantil do comunismo”.
Teriam aprendido com um mestre revolucionário que a
transformação do mundo se faz num passo-a-passo onde a revolução não é sequer o
primeiro passo, quanto mais o último ou o fim.
A transformação do mundo não é nada divertida. Assemelha-se
mais ao trabalho de operários.
Ao invés disso, Sininho e seus amigos retomaram o grito de
“não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”. E o que não
queremos é o sistema – seja lá o que entendam como sendo “o sistema”.
Nada disso é novo. Quem empunhava essa bandeira aos dezoito
anos hoje já está na terceira idade – é provavelmente um aposentado de 65 anos.
Isso se sobreviveu a “sexo, drogas e rock and roll”.
Lutar contra o sistema traz em si um dilema a ser resolvido
de antemão, quando não um paradoxo. Quando se destrói o sistema, algo deve ser
colocado, ou se coloca por si próprio, em seu lugar. E, então, outro sistema se
estabelece.
Essa é a lição de Lenin que Sininho e seus amigos não
aprenderam.
Na Terra do Nunca não há dia seguinte, logo, não há um
sistema a ser substituído por outro sistema. Mas Sininho e seus amigos não
estão mais na Terra do Nunca, foram trazidos a força à terra dos homens.
Não admira que estejam todos sem chão diante da
responsabilização judicial. O que esses “revolucionários” esperavam das forças
da repressão, das forças do partido da ordem? Que se se limitassem a fazer a
segurança do playground e os deixassem brincar em paz?
Interessante também é notar que essa geração é ingênua a
ponto de não ter percebido o quanto a sua ilusão de transformação radical foi
instrumentalizada pelo reacionarismo.
Serviram a quem interessava criar um ambiente de
instabilidade que ajudasse a enfraquecer o governo da esquerda democrática para
facilitar o retorno ao poder do conservadorismo.
Sininho e os meninos perdidos não são mais úteis a essas
forças. Podem ser descartados.
Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que o estavam combatendo.
Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que o estavam combatendo.
2 comentários:
Para não ser deselegante, vou dizer que cheguei no clímax. E veja essa camiseta que ela usa, tá escrito "favela não se cala"? É o protoestereótipo de uma estética que ela não entende, porque a estética que o governo representa não está nas camisetas, está na massa, e é por isso que a direita não fala disso e, ainda por cima, para mascarar o que é feito, dentre tantas outras estratégias sórdidas, se empenha em fisgar mentalmente pessoas como a Sininho e os seus meninos.
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"A estética que o governo representa não está nas camisetas, está na massa"
Muito bom isso!
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