O que explica que Marina Silva, uma candidata sem partido
(hospedada temporariamente no PSB para não ficar de fora das eleições
presidenciais deste ano), com um discurso que alterna diletantismo e
conservadorismo, em crise com sua base política, alçada à condição de candidata
pelo acaso e ainda com propostas confusas para diversas áreas, possa aparecer
como uma opção viável de "terceira via" ou "nova política"?
Creio que, em parte, porque o massacre midiático anti-PT
atingiu níveis críticos e, neste ano, parte expressiva do eleitorado está mais
preocupada com quem vai sair do que com quem vai entrar, o que costuma ser uma opção
eleitoral suicida.
Por outro lado, o PSDB passa por uma séria crise (a não ser,
evidentemente, em seu feudo particular, o estado de São Paulo), e não se
apresenta mais, mesmo com o candidato que muitos chegaram a ver como o mais
promissor desde FHC, como opção de transformação. Esta mesma crise passará a
rondar o PT se o partido perder o governo federal e não perceber que é já hoje
um partido que carece de reformulação e da ascensão de novas lideranças, como
Fernando Haddad.
De todo modo, podemos dizer que, se há uma "imprensa de
oposição" (e há, embora alguns veículos assumam oficialmente, como o
próprio Estadão, e outros não), o tiro da campanha negativa anti-PT sairá pela
culatra: o preço será a promoção de uma incógnita, ao contrário do que seria a eleição de
Aécio Neves.
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Nos últimos dias temos ouvido falar da candidatura de Marina
Silva como "terceira via". Creio que este é um conceito maltratado,
muito mal utilizado e, com toda a certeza, boa parte do suposto eleitorado da
ex-petista não tem a menor ideia do que seja.
Em termos de pensamento político no pós-guerra fria,
terceira via significa sobretudo o meio termo entre o capitalismo liberal e
socialismo de Estado, este último supostamente morto com a queda do muro. No
caso, configurou-se na década de 1990 sobretudo como uma proposta socialdemocrata
– e, por isso, com muitas raízes fincadas na esquerda, no pensamento
progressista –, tendo Anthony Giddens como referência importante.
Ora, companheiros, não é preciso ser nenhum gênio para
compreender que o governo do PT configura-se como uma via entre o capitalismo
liberal desenfreado e o socialismo dirigista de Estado – tanto é que apanha
tanto da extrema-esquerda, que gostaria de ver um governo mais radical, quanto
da direita liberal por ser "muito estatista".
O que quero dizer é: um candidato que se assume como
"Terceira Via" deve, antes, dizer a qual conceito de terceira via se
refere. Se Marina Silva se refere ao conceito socialdemocrata de terceira via,
ela está obviamente perdida politicamente, não conseguindo enxergar que o
governo atual é, já, uma terceira via.
Se quer definir uma outra terceira via, deveria deixar claro
em que ela consiste; se se refere unicamente a uma terceira via enquanto
"mais uma opção além de PT-PSDB", está usando o conceito de forma
equivocada. Enfim, chame-se a candidata do que for, menos de "nova
política", e dificilmente de "terceira via".
3 comentários:
Lourival Sakiyama,
Meus caros! A "redemocracia" brasileira, em que pese os solavancos, se reconstrói com certa maturidade. Na década de 80/90 elegemos um candidato novo, com discurso "novo" e uma pseudo-visão de futuro. Deu no que deu!!
Alçamos um sociólogo para nos dirigir, homem de fino trato e curriculum acadêmico com idéias inovadoras de estado. Seus oito anos de governo provaram a indecência de uma política de estado mínimo perversa e concentradora.
Não obstante chegou a hora de um homem do povo de origem humilde e biografia inigualável. Oito anos lhe deram o Olimpo merecido e lugar de destaque na história moderna mundial.
consagramos em 2010 uma mulher, a primeira presidenta, de raro instinto de sobrevivência e corajosa por natureza. Em 2014 um fato inédito coroa nossa maturidade: duas mulheres disputarão em paridade o posto mais alta da política, salvo qualquer outro imprevisto!
E mais, duas senhoras herdeiras e crias da mesma pessoa, aquele do Olimpo!
Quem ganha? A ver! Seja qual for o resultado uma coisa é certa: nossa maturidade demonstra mais uma vez aquilo que não queremos.
Caro, acho que vai ser difícil falarmos em maturidade do cidadão brasileiro que vai às urnas votar, também conhecido como eleitor (rs), se esta senhora que se diz porta-voz da "nova política" ganhar a eleição. Vai ser a repetição do trágico fenômeno collorido de 1989.
Gostaria de saber o que tanto incomoda em Marina junto aos petistas, sendo que ela foi do partido até pouco tempo. É mais fácil ela continuar na linha petista domine passe para a direita !!
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