domingo, 3 de agosto de 2014

Sininho e o dia seguinte na Terra do Nunca


Reproduzo aqui no blog pra registrar o que me parece ser a mais lúcida, cirúrgica e politicamente inteligente análise entre tudo o que li sobre a questão desde junho de 2013.


Fernando Frazão/ Agência Brasil (11/02/2014)



Sininho como representação e o desencanto de uma geração adultescente que acreditou na inconsequência como ação de transformação revolucionária da realidade.

Não há como não se enternecer, de alguma forma, com a figura da personagem Sininho. Traz em si a figura da filha adolescente, frágil e radical.

Até o codinome – Sininho – lhe cai apropriadamente bem. Uma personagem que saiu da “Terra do Nunca” da internet e inspira a tropa dos “meninos perdidos” na sua tentativa de alcançar a utopia pela destruição do mundo real.

Sintomático dos dias atuais é que há Sininho e há meninos perdidos, mas não há um Peter Pan. Sininho é a líder dos meninos perdidos.

Mas Sininho é uma ficção. Não é professora, não é sindicalista, não é bailarina, não é socialite. É qualificada ora como “ativista”, ora como “produtora cultural”.

Seu cavalo, Elisa Quadros Sanzi, no entanto, chegou à casa dos trinta, muito provavelmente com formação superior e tendo recebido da família a estrutura necessária para ser, hoje, uma jovem adulta de quem se espera a consequência nas ações.  E a consequência é o que se espera de adultos, mesmo, e talvez principalmente, em ações que busquem a transformação da realidade.

O oposto disso é a principal característica do que chama “movimento” – a inconsequência.

Quem forma esse movimento?

Anarquistas de internet, carbonários anacrônicos, incendiários saídos da Academia ou de histórias em quadrinhos, punheteiros imberbes, a criminalidade comum e os oportunistas de toda ordem.

Isso forma um movimento?

Lênin – Vladimir Ilitch Ulianov, já dizia que batatas dentro de um saco formam um saco de batatas, mas não formam uma organização.

Pena que Sininho e seus amigos não tenham lido “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”.

Teriam aprendido com um mestre revolucionário que a transformação do mundo se faz num passo-a-passo onde a revolução não é sequer o primeiro passo, quanto mais o último ou o fim.

A transformação do mundo não é nada divertida. Assemelha-se mais ao trabalho de operários.

Ao invés disso, Sininho e seus amigos retomaram o grito de “não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos”. E o que não queremos é o sistema – seja lá o que entendam como sendo “o sistema”.

Nada disso é novo. Quem empunhava essa bandeira aos dezoito anos hoje já está na terceira idade – é provavelmente um aposentado de 65 anos. Isso se sobreviveu a “sexo, drogas e rock and roll”.

Lutar contra o sistema traz em si um dilema a ser resolvido de antemão, quando não um paradoxo. Quando se destrói o sistema, algo deve ser colocado, ou se coloca por si próprio, em seu lugar. E, então, outro sistema se estabelece.

Essa é a lição de Lenin que Sininho e seus amigos não aprenderam.

Na Terra do Nunca não há dia seguinte, logo, não há um sistema a ser substituído por outro sistema. Mas Sininho e seus amigos não estão mais na Terra do Nunca, foram trazidos a força à terra dos homens.

Não admira que estejam todos sem chão diante da responsabilização judicial. O que esses “revolucionários” esperavam das forças da repressão, das forças do partido da ordem? Que se se limitassem a fazer a segurança do playground e os deixassem brincar em paz?

Interessante também é notar que essa geração é ingênua a ponto de não ter percebido o quanto a sua ilusão de transformação radical foi instrumentalizada pelo reacionarismo.

Serviram a quem interessava criar um ambiente de instabilidade que ajudasse a enfraquecer o governo da esquerda democrática para facilitar o retorno ao poder do conservadorismo.

Sininho e os meninos perdidos não são mais úteis a essas forças. Podem ser descartados.

Aprenderão da pior forma que o Judiciário é o lixeiro do sistema ao qual serviram pensando que o estavam combatendo.

2 comentários:

Gabriel Megracko disse...

Para não ser deselegante, vou dizer que cheguei no clímax. E veja essa camiseta que ela usa, tá escrito "favela não se cala"? É o protoestereótipo de uma estética que ela não entende, porque a estética que o governo representa não está nas camisetas, está na massa, e é por isso que a direita não fala disso e, ainda por cima, para mascarar o que é feito, dentre tantas outras estratégias sórdidas, se empenha em fisgar mentalmente pessoas como a Sininho e os seus meninos.
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Eduardo Maretti disse...


"A estética que o governo representa não está nas camisetas, está na massa"

Muito bom isso!