Ligação da Linha 4-Amarela com a Linha 2-Verde do metrô |
Como jornalista, aprendi a tentar chegar o mais próximo da
verdade e ser imparcial o mais possível. Digo "o mais próximo" e
"o mais possível" porque, ao contrário do que aprendemos no banco da
faculdade, o jornalismo não é imparcial e nem está sempre em busca da verdade,
como qualquer um que tenha senso crítico percebe ao ler a "grande"
imprensa, principalmente os jornais paulistas, udenistas, Folha e Estadão. De resto, quem
me conhece e acompanha este blog sabe o que penso politicamente.
Ressalvas feitas, seguem aqui rápidas impressões sobre a
greve dos metroviários em São Paulo. Por mais que o governo Alckmin seja
violento e perverso, em relação ao movimento grevista, deflagrado pelo
sindicato comandado pelo PSTU, a decisão do
TRT-SP de declarar a greve abusiva é mais do que correta. A praxis política do PSTU tem aparência de esquerda, mas seus resultados são sempre favoráveis à direita, e isso á fato, independe da minha opinião.
A matemática não mente. Todos os índices que medem a
inflação mostram que os 8,7% a que o governo do estado de São Paulo chegou para
oferecer à categoria representam aumento real. São os seguintes os números que mostram a
inflação dos 12 meses (maio de 2013 a abril de 2014) medidos pelos principais
índices: IPCA (IBGE - 6,37%), INPC (IBGE
- 6,08%), (IPC-FIPE-5,36%), ICV (DIEESE-6,55%).
Mais do que isso. Como mostra matéria do R7, "os metroviários
têm conseguido aumentos salariais maiores que a inflação e que a média obtida
pelos empregados do setor de transportes. Enquanto os empregados do setor
tiveram 4,9% de aumento real entre 2011 e 2013, segundo o Dieese, os
metroviários tiveram 6,26%".
Se a questão matemática não vale, então recorro à questão
política. Para matéria que fiz pra RBA, falei com a cientista política Maria
Victoria Benevides, que, quem conhece sabe, é uma pensadora de esquerda. Diz
Maria Victoria sobre a greve dos metroviários: "Eu pessoalmente tenho uma
posição radical em relação à greve de transportes. Sou favorável ao direito de
greve, é um direito constitucional, mas acho que sempre existe um lado de
responsabilidade de quem faz greve que deveria ser cumprido, porque quem acaba
pagando o dano que a greve causa é o povo trabalhador. Não é o patrão nem o
capital (...) Acho que, como em outros países democráticos, a greve deve ser
decidida com o compromisso de manter serviços (...) O que mais me incomoda é
ver o povo todo abandonado, à noite, na chuva, no frio, com criança no colo,
gente doente, gente que se não aparecer no trabalho não ganha, criança que se
não for à escola não come."
Para terminar, ressalto que a justiça trabalhista, no
contexto geral do Judiciário do país, é a única que historicamente adota
posicionamento equilibrado e a favor do trabalhador, e quem tem alguma experiência (profissional ou pessoal) com a Justiça
do Trabalho sabe disso. De maneira que o TRT-SP ter declarado a greve dos
metroviários abusiva, na minha modesta opinião, deve ser respeitada, em
detrimento de teorias da conspiração juvenis.
Entre a Justiça do Trabalho e o PSTU, eu fico com a
primeira. O PSTU detesta negociar, não gosta da democracia e sua praxis é
estranhamente favorável à direita.
Fora tudo isso, tem uma ironia: a longo prazo e
politicamente, uma greve como essa favorece a política perversa do governo
Alckmin e/ou PSDB pela privatização das linhas do metrô. Por quê? Porque nos
últimos dias, enquanto milhões de pessoas (trabalhadores e na maioria gente
pobre) ficou no limbo, sem transporte, segundo a lógica perversa segundo a qual
o interesse de uma categoria tem de prevalecer diante do interesse, do trabalho
e da vida de milhões de pessoas, a Linha 4-Amarela, passível de muitas críticas, inclusive minhas, foi a que salvou as pessoas do caos deflagrado com a greve. Isso, é óbvio, explícita ou subliminarmente, mais cedo ou mais tarde vai ser usado pelos tucanos. Ponto.
Acho que está na hora de alguém ter coragem de dizer que o
direito à greve em serviços essenciais tem de ter limites muito bem delimitados, e que o direito de uma minoria (uma categoria) não pode prevalecer sobre o direito de milhões de pessoas. O termo democracia vem do grego antigo δημοκρατία
(dēmokratía) ou "governo do povo".
3 comentários:
Realmente muito bem argumentado. Gostaria de ouvir sua opinião sobre o novo decorrer dos fatos nessa segunda feira com as demissoes e a insistencia da greve. Um abraço
Bem, o sindicato decidiu suspender a greve até quarta-feira. Se o governo Alckmin não retroceder em relação às 60 demissões, os trens, a princípio, voltam a parar. A quinta, dia da abertura da Copa, virou o curinga do baralho. Cadê o MPL agora? Agora, a reivindicação dos sindicalistas é de que o governo do Estado readmita os demitidos. Na reunião de hoje, Jurandir Fernandes disse que não, não vai voltar atrás. Eu achei até que as demissões eram um blefe do Alckmin pra desviar o foco da reivindicação salarial e trazer a categoria novamente à mesa de negociações com outra abordagem, o que de fato forçaria (como forçou) os metroviários a aceitar os 8,7%. E com as readmissões estaria tudo resolvido. Embora perigoso, imaginava eu um Alckmin mais inteligente. Mas não. Deixou o sindicato tomar de novo as rédeas e está perdendo o jogo. Segundo o Uol, O PT disse que Alckmin foi intransigente hoje e que isso é preocupante porque o tempo está acabando. Escutando rádio, ouvi isso também (que o Alckmin é duro e intransigente) da boca de Oscar Ulisses (sim, Oscar Ulisses, locutor esportivo). Mas não há males que não venham para o bem. Ou há?
Intransigência de um lado, intransigência de outro. Alckmin x PSTU é um embate que não pode mesmo dar em boa coisa. Como eu escrevi no Facebook, juntou "a fome com a vontade de comer".
Eu nunca achei que Alckmin estivesse blefando, Paulo. No meio desse fogo cruzado, quem é que leva a pior? O povo, o trabalhador mais sofrido.
Precisa ver se o sindicato vai comprar a briga com o tribunal, que considerou a greve abusiva. Precisa ver também se a categoria vai estar disposta a encarar novas retaliações do governo e aprovar a continuidade da greve na assembleia de quarta-feira, sob a ameaça de mais demissões. Ou seja, precisa ver se toda a categoria está disposta a entrar no jogo político do grupo sectário que comanda o sindicato e, de outro lado, encarar a truculência política do governador.
Os metroviários estão numa encruzilhada braba.
É isso o que dá pra falar por enquanto, caro Overrune.
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