sexta-feira, 27 de maio de 2011

Nota sobre o “kit contra a homofobia”: Dilma Rousseff não precisa dos votos do PSOL

Existe uma enorme confusão, fruto de ignorância ou má-fé, em torno disso que ficou conhecido como “kit contra a homofobia”. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), por exemplo, agora deu para pregar, como um pastor de igreja, que os homossexuais não votem mais em Dilma, porque a presidente suspendeu o tal kit.

Sendo o deputado do partido da raivosa e ressentida Heloisa Helena, é uma postura natural, própria de quem pretende 15 minutos de fama mas pode cavar sua própria sepultura eleitoral.

O simplismo tosco de associar a decisão da presidente como mera troca de favores políticos relativos ao caso Palocci ou como capitulação “à chantagem dos inimigos da cidadania” é, francamente, algo que não passa de política estudantil, nobre deputado. Lembro que, quando trabalhava com jornalismo jurídico, ouvia pessoas bem-intencionadas e ignorantes bradarem sobre decisões do STF: "Mas essa sentença é política, que absurdo!" Ora, diz qualquer constitucionalista respeitável, mas o STF é constitucionalmente um órgão político! Queres o quê? As pessoas mal sabem o papel das instituições e saem por aí a berrar tolices com uma naturalidade atroz.

É curioso como "militantes" que se dizem de esquerda ecoam com tanta naturalidade as teses e informações surgidas nas páginas da Folha de S. Paulo, Estadão e TV Globo.

Nobre deputado Jean Wyllys, vossa senhoria deveria saber algumas coisas.

Que ao governo do Brasil cabe zelar e trabalhar por um Estado laico. Cabe disseminar e trabalhar concretamente pela igualdade e pela tolerância. Defender os preceitos da Constituição, cujo artigo 5°, até o advento do governo Lula, do qual o governo Dilma é a continuidade, nunca passou de letra morta.

Ao Estado cabe fomentar a educação de qualidade para que as pessoas possam se preparar para a vida e o trabalho. Ao governo cabe dotar o Estado de instrumentos para o desenvolvimento da cidadania, para que o pedestre não seja atropelado por uma besta que usa o automóvel como arma; para que o otário não jogue a lata de cerveja na rua, da janela de seu carro; para que as crianças desde cedo entendam que o mundo é feito de diversidade; para que assassinos potenciais com medo de sua própria sexualidade não saiam pelas ruas agredindo homossexuais; para que assassinos potenciais não saiam pelas ruas agredindo heterossexuais; para que pessoas não saiam pelas ruas agredindo pessoas; para que racistas doentes não saiam por aí espancando negros, brancos ou amarelos.

Os poderes da República têm de proporcionar o desenvolvimento científico da nação, como fez o tão criticado Supremo Tribunal Federal ao autorizar as pesquisas com células-tronco há exatos três anos; têm de proporcionar que as pessoas possam fazer suas escolhas (“O homem está condenado à liberdade” – Sartre).

Ao Estado não cabe “fazer propaganda de opções sexuais”, como disse a presidente Dilma Rousseff. (E parece que agora é proibido usar o termo “opção”, como se Dilma, eu ou você não soubéssemos que não se trata de opção, mas de ser. Ok, brother, sabemos, não encha o saco. Ou agora a Dilma é homofóbica porque usou o termo "opção"?).

Ao Estado não cabe censurar livros, que é uma das primeiras medidas das tiranias mais canalhas.

Ao Estado não cabe discriminar ou fomentar a discriminação e a intolerância, porque Hitler já nos ensinou o preço abominável dessa estrada.

O resto, meu chapa, o resto é blá blá blá de esquerdistas raivosos, que trabalham para as forças mais reacionárias da sociedade, só não descobri ainda se consciente ou inconscientemente.

Roland Barthes disse que as revoluções não acabam com a exploração do homem pelo homem porque ela não está nas relações políticas, mas na linguagem.

Por tudo isso é que eu acho que a esquerda e a direita raivosas caminham a passos largos, de mãos dadas, rumo ao limbo político que as espera num futuro que está logo ali. E não creio que Dilma Rousseff precise dos votos do PSOL.

3 comentários:

Victor disse...

Mandou bem de novo. Pelo que sei o kit gay, como foi chamado, não educava e sim fazia apologia, o que não condiz com a insenção que o estado deve ter nestes casos e também na religião. Tenho visitado algumas prefeituras petistas bem administradas que sofrem oposição, pasmem, do PSOL e PSTU por puro revanchismo em qualquer questão.

Felipe Lopes disse...

Análise pueril! Mesmo me abstendo de adentrar no mérito do kit contra a homofobia, me incomoda profundamente o cabresto vestido pelos que defendem o projeto petista, que somente lhes possibilita ver os fatos sob a seguinte ótica: se é contra nós, é a favor da direita.
Uma ressalva necessária: se encontrar a favor do PT não significa posicionar-se em prol das bandeiras da esquerda.
Enquanto a assimilação das críticas se reduzir ao simplório silogismo acima narrado, mesmo as reformas sociais-democratas continuaram distante do front.

Anônimo disse...

O kit anti-homofobia tem três vídeos. Segundo o MEC, o material seria exibido e debatido com alunos do ensino médio (15,16, 17 anos) e não crianças.

Achei bem estranho Dilma dizer que o material faz apologia.

Acho que vale a pena ver os vídeos antes de se formar uma opinião sobre o tema.

Vi dois dos três vídeos. Creio que não há nada disso de apologia de orientação sexual.

Os vídeos apenas mostram que as pessoas são diferentes, e devem ser respeitadas independentemente do que são.

"Encontrando Bianca", principalmente, pode levar a um belo bate-papo com os alunos sobre as diferenças, sejam quais forem, que devem ser respeitadas.

Não consigo enxergar apologia nenhuma nos vídeos.

E considero no mínimo canalha a postura da bancada religiosa, que usou de material que não tinha a ver com o "kit" para fazer alarde.