Algumas sementes vão virar árvores |
Comentei ontem no Facebook achar engraçado que, por ingenuidade ou falta do que falar, as pessoas perguntavam na semana passada, ironizando: “Cadê a Lava Jato?, cadê o Moro?, cadê, cadê???”
Para os incautos que parecem não compreender o que se passa
no país, a resposta veio ontem, com a denúncia do procurador Deltan Dallagnol contra
Lula, baseada em uma apresentação tosca de powerpoint que culminou com a já
histórica frase: “Não temos como provar, mas temos convicção”.
Como disse o Kiko Nogueira , parece que
definitivamente “transformaram o Brasil no Paraguai”.
A verdade é que não se pode mais prever aonde chegaremos na
história desta triste República de Bananas.
Mas, realmente, só os incautos (“que ou o que não revela
malícia; crédulo, ingênuo” – Michaelis) poderiam esperar algo diferente em
relação a nossas instituições. Na semana passada, o escritor Fernando Morais,
em entrevista, afirmou: “Só um idiota completo pode imaginar que Globo, Fiesp,
extrema direita, Folha, Estado, Editora Abril, Ministério Público, Policia
Federal vão fazer o que fizeram para entregar a presidência da República de
bandeja pro Lula de novo”.
No mesmo dia 31 em que o espetáculo farsesco do impeachment
no Senado derrubou Dilma Rousseff, conversei com o velho socialista Roberto
Amaral, que vaticinou: “para se precaver, no que for possível, tentarão
destruir o Lula. Destruir o Lula como imagem, como símbolo, até destruí-lo como
político, com essas tentativas de processá-lo para ver se até 2018 conseguem
uma condenação que o afaste do processo eleitoral. Isso é um jogo tão evidente,
as cartas estão tão claramente postas na mesa que eu não entendo que possa
haver qualquer dúvida”. A entrevista está neste link .
Outra figura que tem o estranho hábito de teimar em compreender a
conjuntura e interpretar os sinais é o
sociólogo Laymert Garcia dos Santos, de quem tive o privilégio de ser aluno na PUC-SP, lá se vão anos. Em novembro do ano passado, num evento na
Assembleia Legislativa, ele disse que a sociedade está “enfeitiçada” pela
manipulação da mídia. “Só as versões se tornam realidade, ao ponto de as pessoas não
saberem mais o que é real e o que não é.”
Em março (mais de um mês antes de o impeachment passar na
Câmara), em entrevista que fiz com ele, Laymert disse: “Não acho que o fascismo
vai vir, ele já está aqui”. Acrescentou: “Estamos vivendo uma espécie de
fascismo de rua, mas ele é concomitante com toda uma argumentação jurídica que
está sendo construída, que é ilegal e inconstitucional, uma ruptura com o
regime democrático e com os princípios da Constituição. Estamos vendo a
construção disso tudo, através das violências jurídicas e do estabelecimento de
uma nova jurisprudência, entre aspas, que lembra muito o tempo do fascismo” (a entrevista de março está aqui).
Precisamos deixar de ser crédulos. Eu deixei de clamar "Não vai ter golpe" em 17 de abril de 2016, quando daquele espetáculo dantesco na Câmara dos Deputados, que manchou a história do Brasil. O golpe foi ali, sob o comando de Eduardo Cunha, que só caiu quando não interessava mais.
É preciso reconhecer que a esquerda não está unida, como alguns fingem acreditar, e entender que é preciso bem mais do que a esquerda se unir pela democracia. É preciso a união de todos os democratas do país, de Jean Wyllys a Kátia Abreu, dos socialistas aos liberais progressistas. Não tem outra saída.
É preciso reconhecer que a esquerda não está unida, como alguns fingem acreditar, e entender que é preciso bem mais do que a esquerda se unir pela democracia. É preciso a união de todos os democratas do país, de Jean Wyllys a Kátia Abreu, dos socialistas aos liberais progressistas. Não tem outra saída.
Em 26 de agosto, no decorrer do espetáculo de teatro no Senado, a
senadora Gleisi Hoffmann, dirigindo-se ao presidente do STF que presidia a
sessão, Ricardo Lewandwski, manifestou a angústia que milhões de brasileiros
hoje sentem: “Não querem sequer que tenhamos direito à indignação? A quem vamos
recorrer? Será que vamos poder recorrer ao Supremo Tribunal Federal quando a
nossa Constituição é vilipendiada?”
O que se pode acrescentar a essa justa manifestação de
indignação de Gleisi?
Talvez só haja uma esperança, e ela está dentro de uma frase
que Lula disse hoje em seu discurso para se defender das acusações do
Ministério Público: "Essa meninada que evitou o Alckmin de fechar escolas,
que está vindo para as ruas para reivindicar democracia, essa meninada é o Lula
multiplicado por milhões”.
O amigo José Arrabal, da geração que, como Laymert, sofreu as mazelas do regime militar, também vê motivos de otimismo na geração que vem por aí, e acredita numa nação simbolizada "em Dilma e em Rafaela Silva, a
campeã olímpica da Cidade de Deus”, como disse no dia do golpe no Senado (aqui).
A esperança é essa: que as sementes (como o menino da foto deste post) deem frutos. “Para ver que algumas sementes chegam a
árvores”, como escreveu minha amiga Camila Claro em dedicatória que fez num
livro pra mim, em 2002, e lá se vão 14 anos.
2 comentários:
Muito bom o texto, Edu, é por aí, que as sementes deem frutos, a gente tem que pensar assim e não pode entregar tudo de mão beijada..a gente conquistou muita coisa e o que roubaram da gente, será reconquistado de novo. Essa meninada é o Lula multiplicado por milhões. Legal isso.
Sua linda foto enriquece muito o post, Alê. Vale mais que mil palavras.
Mas o que dá tristeza é que estão entregando a Petrobras. E isso não vai dar pra reconquistar. Realmente me deu muita tristeza hoje ao fazer essa matéria abaixo...
http://www.redebrasilatual.com.br/economia/2016/09/ataques-vem-de-todos-os-lados-de-forma-permanente-diz-dirigente-dos-petroleiros-6904.html
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