É impressionante a quantidade de análises afoitas (para não dizer tolas) que a
gente lê quando acontece uma tragédia da dimensão da que o mundo testemunhou
nesta sexta-feira 13, em Paris.
Do lado de lá, dos "analistas" conservadores ou
reacionários, o debate é resumido por questão colocada por um
"âncora" da Globo News: "como fica o combate ao terrorismo?"
Do lado de cá, "analistas" da esquerda sugerem que
os ataques a Paris teriam sido uma reação "imediata" do grupo
islâmico ISIS a derrotas por ele sofridas recentemente, como a propalada eliminação
do chamado “Jihadi John”, o degolador. Esta análise é muito superficial, já que
ignora ser impossível que um ataque coordenado nessas proporções, como o de
Paris, fosse planejado, organizado e executado em tão pouco tempo.
O que é certo é que o mundo não vai ser mais o mesmo depois
deste 13 de novembro de 2015.
Muitas publicações deram capas e manchetes sensacionalistas sobre os atentados
de Paris (o termo mais utilizado foi "massacre"), mas a imagem que ilustra este post, do jornal esportivo L'Equipe, me parece a mais sintética.
Seja como for, é muito triste.
2 comentários:
Não sei se o mesmo âncora da Globo News disse que Assad, lamentando o atentado em Paris, "esqueceu de assumir a própria culpa por ele". É cedo mesmo pra se chegar a conclusões, mas óbvio também que se trata de mais um capítulo da disputa Rússia/EUA-Europa/Estado Islâmico pela hegemonia na Síria e no sítio do petróleo. Esse grupo assumiu, dias atrás, o atentado que teria derrubado o avião russo. É muito possível, já que parece fato que o avião explodiu, faltando esclarecer a causa da explosão. Entendo que os russos têm motivo de sobra pra atacar o EI se seu argumento de que o grupo é apenas um álibi para o Ocidente derrubar o governo sírio for procedente, o que me parece evidente. Já a França não tinha motivo a não ser agradar a uma coalizão liderada pelos Estados Unidos e atender a interesses políticos que provavelmente nunca vão sair de trás das cortinas. É uma pena estarmos em uma democracia (ainda meio úmida) e vermos povos pagarem pelo que não escolheram, no caso do francês, desde ontem, sendo protagonista de uma guerra contra um ou tantos fantasmas e tendo depois que ruminar as condolências do presidente americano pelos mortos e pelas famílias dos mortos. Seja como for, não creio que se deva culpar Assad mais do que os interesses múltiplos que circundam o Oriente Médio. Esse EI surgiu como num passe de mágica, da noite para o dia, com muito mais poder do que a Al Qaeda, como uma versão clonada e aperfeiçoada. Se foi assim ou não, só Deus sabe, se é que sabe.
Interessante o discurso da Dilma hoje, na reunião dos Brics. Ela começou manifestando pesar pelas vítimas do terror, como era de se esperar. Mas mencionou antes as vítimas da Rússia, que morreram na explosão do avião; depois, falou de Paris.
Infelizmente, a França de Hollande exerce atualmente um papel de subserviência vergonhosa aos Estados Unidos. Parece claro que os EUA não estão fazendo o menor esforço para de fato combater o EI. Para eles e para a França a prioridade foi até agora a saída de Bashar Al Assad, o culpado de tudo, segundo a versão da Globo News. Mas o ataque a Paris teve uma dimensão que se pode comparar ao 11 de setembro de 2001. Vamos ver então quais vão ser as posturas francesa e, principalmente, americana após essa barbárie imperdoável, sem jamais esquecer a barbárie incessante e de proporções aterrorizadoras de que é vítima a população civil da Síria.
Só discordo de que "o EI surgiu como num passe de mágica, da noite para o dia". A menos que seja uma ironia. Na verdade o EI vem se formando e consolidando há tempos, inclusive a partir da própria Al Qaeda, como uma cultura de bactérias infecciosas, o que foi estimulado pelo ocaso e fragmentação de Iraque e Síria. Os ataques a Paris mostraram que o modus operandi da Al Qaeda foi aperfeiçoado pelo EI.
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