Mostrando postagens com marcador esquerda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador esquerda. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Caetano Veloso e o Brasil de Bolsonaros e linchadores


Reprodução/Youtube
Caetano em São Bernardo, sem poder cantar

Cansei de ver, nos últimos anos, gente de esquerda atacar Caetano Veloso. Agora Caetano virou herói, por conta da decisão absurda de uma juíza que impediu seu show em São Bernardo. Desse episódio, segue o seguinte:

1 - a esquerda brasileira nunca entendeu Caetano;

2 - a obra de Caetano é magnífica, está além de reducionismos e simplismos maniqueístas, e quem o atacou e agora o eleva a herói nunca entendeu nada. Nunca entendeu por exemplo que ser de esquerda não significa rezar cartilhas. A obra de Caetano Veloso é subversiva intrinsecamente;

3 - não é tão fácil entender Caetano, sua obra. Por isso, as pessoas costumam preferir Chico Buarque. Porque Chico (que eu adoro) é mais fácil de entender. Bem mais fácil;

4 - a esquerda brasileira precisa tratar sua bipolaridade. Ou entende Caetano ou não entende. Ou Caetano é vilão ou é herói.

***

No álbum Circuladô, de 1991, 26 anos atrás!, podemos ouvir, na canção "O Cu do Mundo":

"A mais triste nação
Na época mais podre
Compõe-se de possíveis
Grupos de linchadores"

Considerando o que é este horrível Brasil de 2017, alguém poderia dizer que Caetano foi profético na canção. Mas não se trata disso. Não existe profecia. Caetano apenas conhece profundamente a cultura e a alma deste pobre país de Bolsonaros e linchadores.


Ouça a canção O Cu do Mundo:

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Míriam Leitão, Reinaldo Azevedo, Sheherazade: esquerda brasileira precisa deitar no divã




"Detesto as vítimas quando elas respeitam seus carrascos" (Sartre)


O Kiko Nogueira escreveu o que, em linhas mais fragmentadas próprias à rede social, eu escrevi em postagens efêmeras no Facebook. Por isso economizo o trabalho de construir um texto e reproduzo abaixo. A ideia é: por que setores da esquerda brasileira fazem papel tão subserviente? Por que tanta solidariedade a gente como Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Míriam Leitão? Até o PT divulgou uma nota oficial sobre o caso do "ataque de violência verbal" contra a pobre jornalista da Globo! Na minha opinião, Freud explica. A esquerda brasileira precisa deitar no divã.


Por Kiko Nogueira, no DCM 

O caso do voo de Míriam Leitão jogou luz novamente sobre uma peculiaridade de certa esquerda brasileira: a solidariedade automática.

Imediatamente após a publicação da coluna da jornalista sobre um episódio de "violência verbal" de que teria sido vítima, perpetrada ao longo de mais de duas horas por "delegados petistas" e "representantes do partido", muita gente boa acorreu em sua defesa.

Foi covardia, canalhice, fascismo, machismo, intolerância, linchamento, estupidez, mata, esfola, desgraçados, assim não dá, é tudo igual, coitada da Míriam etc etc.

A questão é que Míriam mentiu.

A não ser que tenha na manga alguma evidência que não usou ainda — o que seria igualmente estranho —, os fatos simplesmente não ocorreram como ela contou depois de transcorridos dez dias.

Há pelo menos dois depoimentos de presentes a desmentindo em pontos chaves, além de um vídeo e da própria companhia aérea.

Toda a empatia a Míriam foi baseada em sua história manca. Seus defensores não se preocuparam em checar nada. Bastou enquadrar tudo num formato apriorístico e mandar bala.

Para ficar apenas num exemplo, o bom colunista Leonardo Sakamoto escreveu que "rasgamos o pacto que os membros da sociedade fizeram entre si para poderem conviver (minimamente) em harmonia".

"É um Fla-Flu, um nós contra eles cego, que utiliza técnica de desumanização de quem participa do debate público, transformando pessoas em coisas descartáveis", diz. Etc.

Noves fora o fato de que Sakamoto comprou a versão da colunista do Globo na maior, é preciso lembrar que o clichê idiota do "Fla-Flu" já expirou a data de validade há décadas.

Um lado, o Fla, bate. O outro, o Flu, apanha. Republicanamente.

Num excelente artigo sobre a polarização, o professor Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, anotou que "nas repúblicas democráticas bem constituídas não é o consenso, não é a paz dos cemitérios, não é a passividade que constroem bem estar e boas leis".

Essa é a hipocrisia nacional, aponta Fornazieri.

É evidente que não se advoga a porrada. Mas é preciso dar às coisas o nome que elas têm. 

Há uma certa noção equivocada de superioridade moral nessa esquerda, que acaba provocando reação desse tipo. A vaidade da falsa humildade. De quem se acha tão acima do adversário que o afaga, por mais criminoso que o outro seja. 

Quando Rachel Sheherazade foi "humilhada" por Silvio Santos, seu patrão e ídolo, a mesma grita se deu.

No dia seguinte, Sheherazade estava rindo das mulheres que a apoiaram incondicionalmente. Nossa colunista Nathalí Macedo comentou sobre essa sororidade.

Sheherazade e Míriam não precisam da sua imensurável bondade cristã porque têm as costas muito mais quentes que a sua e jogam o jogo.

"Detesto as vítimas quando elas respeitam seus carrascos", disse Sartre.

Míriam deseja denunciar o ódio que grassa no Brasil? Ódio mesmo? Ódio figadal?

Que tal, ao invés de falar de si mesma, apelando para seu passado contra a ditadura, meia dúzia de palavras sobre o fato de Sérgio Moro não absolver Marisa Letícia mesmo depois de morta? Sim: depois de morta.

Que tal um auto exame?

Se alguém merece desculpas, são os militantes retratados como uma turba ignóbil de stalinistas no texto — usarei um eufemismo — obscuro de Míriam Leitão, espancados à direita e à esquerda.

Monstros que cantaram "a verdade é dura, a rede Globo apoiou a ditadura".

Mas, com esses, ninguém gasta vela.


domingo, 18 de setembro de 2016

Por que votar em Fernando Haddad em poucas palavras





Indo direto ao ponto: por mais respeitável que seja o voto em Erundina, a divisão dos votos de esquerda em São Paulo pode levar a um cenário digno de desespero: Dória e Russomanno no segundo turno. A cidade será privatizada e se tornará o império da polícia definitivamente. Nem é o caso de falar aqui de políticas desenvolvidas por Fernando Haddad ou por erros políticos de sua gestão. A questão de por que votar no prefeito é mais séria do que isso.

A necessidade de autoafirmação de setores da esquerda brasileira é histórica e levou o país a diversas tragédias. Para ficar num exemplo: na eleição presidencial de 1989, o orgulho do PT e de Lula e sua falta de humildade auxiliaram enormemente o projeto da direita de eleger Fernando Collor. O único candidato capaz de derrotar Collor na época era Brizola. Lula, ainda um neófito em eleição presidencial, foi presa fácil para Collor e sua madrinha Rede Globo no segundo turno.

Hoje, na capital paulista, o Psol tem papel equivalente ao do PT na eleição nacional de 1989. Os votos da brava Erundina, com seus supostos 5% (segundo o Datafolha), seria capaz de decidir a ida de Haddad ao segundo turno. Acho até que Erundina tem mais do que 5%. Seja como for, uma pena que não fecharam acordo com o compromisso de governar juntos em caso de eventual vitória petista no segundo turno.

Mas já que Luiza vai manter a candidatura até o fim, já que o que vale são as vaidades e projetos individuais, não há opção a não ser o voto útil em Haddad.

Como me disse o cientista político Vitor Marchetti, da UFABC, hoje: “Não tem muito cabimento discutir se o voto útil deve ser admitido ou não. No processo, o eleitor raciocina e começa a avaliar, no cenário, quem tem mais chance. O voto útil é sempre uma estratégia válida.”

Esta semana, o escritor Fernando Morais pediu maturidade, ou seja, união de PT e Psol para evitar que dois candidatos de direita cheguem ao segundo turno em São Paulo. “Estamos correndo o risco de entregar as duas maiores cidades do país aos golpistas. Está na hora do PT e do Psol se entenderem”, disse, em referência também ao Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o PT não tem candidato e apoia Jandira Feghali, do PCdoB, que está na mesma situação de Erundina em São Paulo. Patina em cerca de 5%, mas seus votos seriam decisivos para levar Marcelo Freixo, do Psol, ao segundo turno. 

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Podemos da Espanha e as esquerdas


O partido espanhol de esquerda Podemos tem servido de inspiração, modelo e exemplo para várias pessoas, no Brasil inclusive. Pensando nisso, achei interessante o que disse hoje um de seus porta-vozes, o advogado Rafael Mayoral, sobre a questão da identidade, ou não, entre os movimentos de esquerda no mundo.




O dirigente disse o seguinte, ao ser instado a opinar sobre o “bolivarianismo” sul-americano, questão que pressupõe a comparação entre os exemplos venezuelano e espanhol como caminhos (paralelos ou não?) da esquerda: “Nós não copiamos ninguém. Podemos funciona porque é uma expressão política que responde às necessidades e às aspirações do nosso povo. Quando deixarmos de ser assim, deixaremos de funcionar. Se nos perguntarem o que se deve fazer, responderemos: que ninguém nos copie. Copiar é um erro.”

Membro da executiva do Podemos, o ativista concedeu coletiva a jornalistas na manhã/tarde desta quarta-feira no Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, em São Paulo, onde estive como repórter da RBA (a matéria aqui). 

Essa abordagem (“copiar é um erro") das idiossincrasias nacionais é interessante, e de certo modo nova, politicamente, apesar do tom que denota também o conhecido orgulho espanhol. Mas a posição manifestada pelo dirigente do Podemos é, como eu disse, interessante. 

Sou um dos muitos que cresceram sob a égide da luta ideológica entre facções esquerdistas, que, segundo as conveniências ou meros gostos pessoais (muitas vezes baseados no desconhecimento das Culturas nacionais – com C maiúsculo mesmo), adotam esta ou aquela “corrente”.

“Sou trotskista”; “sou stalinista”; “não, a revolução é maoista”; “sou leninista”, “sou castrista, viva Cuba”; “acredito no PCI”...

Em 1989 a esquerda brasileira se dividiu entre Brizola e Lula – e deu em Collor.

Reflexões.

Mayoral enfatizou (ou se esforçou para esclarecer) que o projeto do Podemos, segundo ele, tem como uma das bases um princípio jurídico, o que é importante: “Queremos um projeto alternativo que converta a Declaração dos Direitos Humanos em uma realidade para os povos. Defendemos a necessidade da tipificação de delitos econômicos de lesa-humanidade”. O aumento da mortalidade infantil na Grécia, “sendo submetida a um terrorismo econômico”, é um exemplo de violação dos direitos humanos, disse.

No Brasil ainda estamos falando em golpe, algo que supostamente a Constituição de 1988 tinha abolido.

A Constituição brasileira de 1988 incorpora, ainda que tardiamente, o próprio espírito da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas, que é do longínquo dia 10 de dezembro de 1948.

Diz a Declaração das Nações Unidas, por exemplo:

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.”

Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades  estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.”

A semelhança com os princípios inscritos no artigo 5° da nossa Constituição de 1988 não é mera coincidência. Mas esses princípios infelizmente ainda não vigoram no Brasil, nem em várias partes do mundo.