Foto: Edu Maretti
O Corinthians se despede do Pacaembu. Com
uma vitória sobre o coirmão carioca Flamengo (por 2 a 0), o “bando de loucos” disse adeus
ao estádio que se acostumou a chamar de casa. Tenho um grande carinho pelo
Pacaembu, não somente como corintiano, mas sobretudo como amante do futebol.
Creio que o Pacaembu é, ao lado do Maracanã e do Mineirão, um dos grandes
templos do futebol brasileiro. Poderíamos situar junto desses templos o Morumbi,
o Beira-Rio e o velho Olímpico Monumental, mas esses estádios estão por demais
carregados pela imagem e história de seus donos. Não são públicos, como os três primeiros, historicamente apropriados por
diversos times e diferentes comunidades de torcedores.
Particularmente, não sou um corintiano que
valoriza especialmente a “construção da casa própria”. Não penso que todo time
tem de ser detentor de um estádio para ser grande, ideia que, para mim, é
bastante são-paulina, uma vez que o Morumbi foi por muito tempo considerado o
maior estádio particular do mundo, motivo de orgulho e soberba para os
torcedores do SPFC. Tenho uma certa visão de que a ideia de que o Corinthians
deveria ser dono de um estádio foi de certa forma inoculada em nossa mente por
nossos rivais. Creio que seria possível resistir. Conquistamos a América e o
mundo sem “casa própria”.
Historicamente, uma
nova fase se inicia para o Corinthians. Seus
desdobramentos ainda são imprevisíveis, uma vez que o orçamento inicial (já
enorme) do novo estádio explodiu durante a construção e, ao contrário do que
muitos pensam, o clube terá, sim, de arcar com a maior parte dos recursos
captados para erguer a arena. Neste novo contexto, poderemos sentir mais
saudades do Pacaembu do que imaginamos.
Não só corintianos conhecem a energia desse
charmoso estádio, inaugurado há exatos 74 anos, também num dia 27 de abril, em
partida em que o Palmeiras goleou o Coritiba. Infelizmente, na noite em que eu
mais desejei entrar no bom e velho Paca, a noite enluarada do dia 4 de julho de
2012, não consegui. Cheguei a clicar sobre o ingresso no site do Fiel Torcedor,
mas depois o site caiu e, quando voltou, todos os ingressos estavam esgotados.
De todo modo, embora
tenha assistido a uma boa quinzena de jogos do Corinthians no estádio, a
memória mais emblemática que conservo dele é televisiva: o estádio inteiro
agitando bandeirinhas brancas para receber o time para o segundo tempo da final
da Libertadores, os 45 minutos em que o Corinthians despedaçou o poderoso Boca
Juniors e conquistou a América pela primeira vez. Por
isso, assisti com enorme tristeza a noite mórbida em que o time enfrentou o
Millonários com portões fechados (punição justa pela tragédia de Oruro, causada
por nossa torcida). Creio que esses dois episódios ilustram a intensidade da história
corintiana no estádio que, na simplicidade de sua arquitetura e de suas
instalações, recebeu com galhardia algumas das páginas mais significativas da
história do Sport Club Corinthians Paulista. A nação corintiana deve dizer obrigado.
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6 comentários:
Todo santo dia, de manhã, tomo um café na padaria Palmeiras. O nome da padaria se deve, segundo um funcionário me disse, certa vez, ao nome da rua onde ela se localiza: a rua das Palmeiras, na Santa Cecília, na estação Marechal Deodoro do Metrô. As paredes internas da padaria Palmeiras ostentam algumas fotos antigas da cidade de São Paulo em preto e branco. Adoro tomar café olhando as fotos. Uma delas mostra homens vestidos à maneira da época, de chapéu, tomando café em canecas fundas. Outra mostra um jogo não identificável no estádio do Pacaembu, provavelmente dos anos 50 ou 60, quando o estádio mais tradicional de São Paulo ainda não precisava da regalia burocrática do título de patrimônio tombado pelo poder público, o mesmo poder que hoje o relega a um mero elefante branco, idêntico às girafas do Pantanal e do Amazonas, onde não vivem girafas nem elefantes.
O que será do estádio Paulo Machado de Carvalho com sua arquitetura clássica e sua história quase secular? Nada. Vai simplesmente dar lugar à frieza de estádios de outro planeta, frios e funcionais, até que nem as paredes se lembrem mais dele.
Creio que o Pacaembu poderá encontrar outros usos, Paulo. Existem inúmeras atividades futebolísticas que não envolvem os times profissionais dos maiores clubes de São Paulo. Por exemplo, creio que a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, por decência e tradição, deve continuar a ser no Pacaembu. Outras atividades como essas poderão manter o estádio em pé, senão com o papel preponderante de antigamente, ou importante de hoje, ao menos vivo, como um patrimônio sim: considero os órgãos burocráticos de proteção do patrimônio, um projeto político que envolveu cabeças como Mario de Andrade e Carlos Drummond, muito importantes. O problema é que eles perderam muito de sua preponderância, e sofrem ataques violentos da especulação imobiliária e dos políticos sem escrúpulos.
O Santos, que vem jogando no estádio vez por outra, talvez aumente o número de partidas que manda no Pacaembu, que uma parte do clube entende ser importante para alegrar a grande torcida alvinegra em São Paulo.
Vira e mexe o Santos vem com uma história de o estádio Paulo Machado de Carvalho ser sua "segunda casa". Segundo o Estadão, voltou-se a falar disso dias atrás: "O Santos é o principal candidato a ser o novo inquilino. 'Se perguntarem: vocês querem o Pacaembu como segunda casa? A resposta será 'queremos sim'", disse o presidente do Santos Odílio Rodrigues.
Seja como for, sou totalmente contrário a privatizar o Pacaembu, seja para quem for.
Tá aqui: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,prefeitura-nao-revela-futuro-do-pacaembu,1158769,0.htm
É verdade, Edu. O Santos também tem uma história belíssima no Pacaembu que certamente vai continuar. É que volta e meia também rola uma história no Santos de construir uma nova arena, talvez em São Paulo, talvez em Santos. Pelo menos já vi isso uma ou duas vezes nos jornais esportivos por aí. E concordo plenamente: o Pacaembu deve continuar a ser público.
Acho, mesmo, que o Santos pode se tornar uma das soluções pro Pacaembu não começar a morrer lentamente. Até agora o digníssimo prefeito Haddad não emitiu opinião sobre o Pacaembu, um patrimônio inestimável da cidade.
O papo de o Santos construir uma arena acho inviável. O grupo neoliberal que comanda o SFC hoje, porém, pode ter ideias... Ideias que podem ser esquisitas. Sei não, acho que a mercantilização, financeirização (sic) do futebol, como acontece na Europa, de grandes grupos de capital global "intervirem" no futebol e comprarem clubes, fazerem arenas, tomarem conta de tudo, vai acabar chegando aqui, mais cedo ou mais tarde.
É uma digressão, espero estar enganado...
Sou a favor de que o Santos fique com o Pacaembu, sendo proprietário ou simplesmente dividindo com a prefeitura de São Paulo as rendas e despesas pertinentes, para que o estádio não morra. Mas deve haver muitas implicações de interesses de todas as partes que não ouso entender nem discutir. Talvez não seja viável ao Santos assumir a causa. Mas, Felipe, acho que a concorrência das arenas do Palmeiras e do Corinthians e o Morumbi podem fazer sucumbir o velho Pacaembu de vez, num futuro próximo, mesmo para atividades que não tenham nada a ver com o futebol profissional. Sua ideia da Copa São Paulo é muito procedente, mas ninguém sabe o que se passa pela cabeça dos carcamanos das federações de futebol no Brasil. Sei lá. Vejo um pouco essas grandezas do Itaquerão e da arena aliens como palcos de uma modernização por demais globalizada, mecânica, tecnológica e massificada. Não sei, não.
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