segunda-feira, 28 de maio de 2012

Com a velha receita de sempre, jornalismo marrom estilizado de Veja pauta a mídia brasileira


É a mesma receita de sempre: a revista Veja sai com uma denúncia para pôr fogo no circo, normalmente quando há algo relevante acontecendo no país ou algum interesse a ser preservado. Ou revelado, quase sempre a partir de fontes suspeitas e informações plantadas por gente como Carlinhos Cachoeira.

Por exemplo: em épocas de eleições, ou num momento em que uma CPI está instalada para supostamente apurar ligações muito sinistras entre certos políticos e o "empresário" Cachoeira e deste com um destacado jornalista da mesma revista semanal. Ligações, aliás, ignoradas por toda a "grande imprensa" que se une em favor de seus interesses cinicamente fantasiados de interesses nacionais.

No início do mês, chegamos ao paroxismo desse alinhamento, quando o jornal O Globo, em editorial, mergulhou no pântano para sair de lá enlameado em defesa da Veja, dizendo, entre outros disparates: "Blogs e veículos de imprensa chapa branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista Veja, na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta". Segundo o veículo dos Marinho, é uma "retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas".

Globo que, como se sabe, tem seu maior poder concentrado na televisão, a poderosa concessão pública sob cuja sombra construiu seu império. Mas, às favas com o interesse público que, segundo a Constituição, deveria prevalecer nos serviços de concessão de rádio e televisão. Não estamos na Argentina.

E a roda-viva continua. Esta semana, mais uma "reportagem" desse símbolo do jornalismo marrom estilizado. Desta vez, Gilmar Mendes, o ministro do STF, já fonte de Veja de outros carnavais, diz ter ouvido de Lula um pedido de adiamento do julgamento do mensalão... Pronto. Passamos a semana ouvindo a repercussão em homepages e portais, para os quais o verbo negar tem importância fundamental. "Lula nega", "Jobim nega" e assim por diante. O verbo negar, para o jornalismo, é um importante recurso de retórica de entrelinhas. De tanto ser repetido (Lula nega, Lula nega, Lula nega, Lula nega) o refrão acaba se tornando uma verdade reafirmada ao contrário.

No Brasil de Veja e de Globo, quem tem que provar não é quem acusa, mas quem é acusado. Uma total inversão de valores jurídicos.

Eu "brigo" com meus amigos que deixam o costumeiro lixo de Veja importunar-lhes o fígado. Não leio essa revista, e às vezes, quando sem querer clico em um link seu na web, saio rapidamente, me persigno e fico a lembrar que, infelizmente, apesar de seu jornalismo ser um lixo, sua capa é importante. Como escreveu o jornalista Flávio Gomes, num texto de 2010: "a capa da Veja, embora a revista seja uma droga indizível, tem importância, sim. Afinal, ela é vista por alguns milhões de pessoas, repousa amarrotada durante meses em mesinhas de consultórios médicos, dentistas e despachantes, e as pessoas a notam nas bancas de jornais, ao lado de mulheres peladas. E algumas pessoas ainda puxam assunto em mesas de bares e restaurantes dizendo 'li na Veja’, e tal. São os 'formadores de opinião'. Uau."

A verdade é que a minha parte eu faço. Não leio essa revista, nem para “saber o que eles dizem” (justificativa de que meu fígado discorda), embora isso contamine o Brasil incessantemente, e ninguém sabe até quando, se até a presidente Dilma Rousseff recentemente deu entrevista e foi capa da publicação. O que eu achei que a presidente poderia não ter feito. Mas fez, afinal o governo federal é um dos maiores anunciantes do país.

2 comentários:

Leandro disse...

O comentário do Bob Fernandes sobre esta "denúncia" levanta com bastante propriedade todas as incongruências que cercam este mais novo produto da nossa Imprensa Marrom em sua versão elite raivosa: http://www.youtube.com/watch?v=o2YpPs2mKvQ&feature=player_embedded

Eduardo Maretti disse...

Muito bom mesmo o comentário do Bob Fernandes, apesar de um pouco prolixo.

As "ligações perigosas" estão em todas as conexões.