quinta-feira, 17 de junho de 2010

Copa da África encobre conflitos étnicos e desigualdade

Por Felipe Cabañas

Nada contra a Copa do Mundo. Nada contra o futebol, principalmente. Como grande parte da população brasileira, sou sensível ao que acontece dentro das quatro linhas, tenho um time do coração, gosto de jogar uma pelada com os amigos e cornetar o time alheio. Acho, também, que o futebol é um dado importante de compreensão da sociedade brasileira. Como afirma Gabriel Cohn, “Sociólogo no Brasil que não tiver os fundilhos das calças puídas pelas arquibancadas não entenderá este país”.

O estádio Soccer City, em Johannesburgo

Portanto, não quero cornetar a alegria popular. Mas sempre procuro vasculhar para ver o que acho por trás do espetáculo, o que fica encoberto pelo show publicitário e pelo discurso demagógico de união global que, em época de Copa, encontramos na propaganda e no “showrnalismo”.

Mais ou menos no meio do ano passado, os trabalhadores da construção civil da África do Sul entraram em greve e paralisaram as obras nos estádios da Copa. Há cerca de dois meses, foi a vez dos funcionários públicos sul-africanos entrarem em greve, aproveitando, com justa razão, os holofotes para se manifestarem por melhores condições de salários. Após o jogo Alemanha 4 x 0 Austrália, domingo, centenas de trabalhadores protestaram, desta vez contra a FIFA, por conta de atrasos nos pagamentos.

A África do Sul pós-apartheid continua uma nação dividida. Ainda há um movimento separatista africâner – os sul-africanos descendentes de holandeses –, cujo líder, Eugene Terreblanche, foi assassinado no início de abril, supostamente por dois empregados e por uma questão de dinheiro. Mas o governo acendeu o sinal amarelo e procurou imediatamente conter uma possível onda de ódio e conflitos raciais.

Brasil

Um pouco menos de show e um pouco mais de discussão política nesse período faria bem. Já temo que o Brasil comece a passar sua maquiagem para receber a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Se os dois eventos forem somente maquiagem e “showrnalismo”, temo que não nos farão nada bem do ponto de vista político e social.

Um comentário:

Eduardo Maretti disse...

Tenho sérias desconfianças de que, mais do que maquiagem e showrnalismo, as consequência da irresponsabilidade dos políticos brasileiros será mais uma vez catastrófica pós Copa 2014: o parque aquático Maria Lenk, que custou R$ 100 milhões aos cofres públicos, construído para os jogos pan-americanos, está abandonado. Diz uma matéria da Brasil de Fato: "A título de comparação com a herança trágica do evento - o Pan no RJ -, a capital de Cuba [ Havana] viveu experiência diferente. Sede do Pan 1991, Havana destinou aos trabalhadores que ergueram as vilas as próprias dependências que construíram".

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/foi-um-rio-que-passou-em-nossas-vidas