Belchior é uma figura sem dúvida importante. Não vou me
estender sobre isso (a importância ou não do artista) porque a superexposição
do assunto Belchior/morte de Belchior se tornou uma histeria midiática tão
grande, nas redes, que não há mais o que se possa acrescentar.
A questão é: Belchior voluntariamente se retirou faz tempo.
Ele disse adeus a esse mundo de exposição e histeria, ao show
business. Não quis mais saber dessa busca obsessiva por mitos e heróis que é a razão de ser da máquina de moer gente e sentimentos
que é o showbiz.
É um paradoxo: apesar dessa atitude definitiva e irrevogável
(que se pode traduzir como: "deixem-me em paz"), o mundo insiste na
mitificação de Belchior (como de todos os mortos ilustres ou que um dia foram ilustres). Cada um a sua maneira, nas redes sociais, procura
algum argumento próximo ou distante para justificar por que ele é um deus (com
"d" minúsculo, claro, como diria Nietzsche).
Mas Belchior, conforme suas letras, nunca quis ser herói nem
deus. Só que é em herói e num efêmero deus pop post mortem que ele é transformado.
"Eu sou apenas um rapaz / Latino-Americano / Sem
dinheiro no banco / Sem parentes importantes", escreveu o compositor.
Tempos depois de escrever isso, Belchior se retirou. Sumiu.
E ninguém, ou quase ninguém (tampouco eu), notou sua falta. E depois morreu. E
agora que ele morreu, aparecem as demagogias de jornalistas 5 estrelas e os sentimentalismos
inconsoláveis, e as opiniões segundo as quais nada nem ninguém foi tão grande quanto Belchior no universo
terreno, nem Chico, nem Caetano, nem Rolling Stones ou Beatles.
Ora, creio que o próprio Belchior talvez achasse isso tudo ridículo, e dissesse: "menos, pessoal". Ao contrário de muitos heróis do
mundo pop, onde o que impera é o ego. Ele morreu
em silêncio. O resto é mídia e Freud explica.
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