sexta-feira, 19 de maio de 2017

Jobim pode ser o curinga e o Palácio do Planalto seu destino?


José Cruz/ABr

Desde o processo do golpe até seu desfecho e mesmo depois, com esse governo de impostores, eu vinha dizendo a amigos mais próximos que meu relativo otimismo se baseava na tradição brasileira de conciliação.

Por causa dessa tradição, acreditava que em algum momento os representantes dos setores civilizados da política brasileira acabariam entrando num acordo para, pelo menos, salvar a democracia e a Constituição.

Ontem, conversando com o velho e bom socialista Roberto Amaral para uma matéria, ele fez a seguinte consideração sobre o cenário sombrio da crise brasileira, agravada com a tal lista do Fachin: “A tradição da política brasileira, lamentavelmente, é sempre a conciliação. Podemos estar diante de uma grande crise ou de uma grande composição. Nenhuma das duas hipóteses interessa à República”.

O professor, como eu o chamo, ex-presidente do PSB, falou sobre as articulações que, pelo que se especula, estariam sendo conduzidas por Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa (de Lula), da Justiça (de FHC) e ex-presidente  do STF. O que não é pouca coisa para uma biografia...

No fim de março, Jobim saiu-se com uma pregação de paz, propondo que “os personagens de oposição e os da situação” entrem num acordo para evitar o que ele chamou de “um Trump caboclo”. Jobim também fez enfática defesa de Lula e condenou veementemente a perseguição contra o ex-presidente para evitar que ele se candidate e, possivelmente, venha a ser eleito. "Se nós o proibirmos de ser candidato, estamos fazendo a mesma coisa que fizeram os militares. Contra nós!”, exclamou.

Disse ainda: "Qualquer tipo de linha de proibição [contra a candidatura de Lula], nós aguçamos a radicalização. Nós podemos impedir, agora, que ele seja candidato? Por quê? Porque temos medo de que seja eleito?"

O problema é que a criminalização da política está destruindo o país, suas lideranças políticas, a economia, a Petrobras, que está sendo retalhada e seu patrimônio entregue às petroleiras estrangeiras. O pré-sal, tesouro de valoro incalculável, vendido a preço de banana. Apesar da indignação de setores esclarecidos da sociedade, a sanha punitivista e denuncista levou o país a um patamar tão baixo que é cabível perguntar se existe volta, se há possibilidade de isto aqui um dia poder ser chamado da nação.

Hoje, “o sistema político brasileiro está absolutamente prisioneiro do poder Judiciário e do Ministério Público", disse o deputado Wadih Damous na mesma matéria acima citada. "Eles dão as cartas, são os senhores do tempo (...) Ao manipular o tempo, se manipula a política.”

E, como nota o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, a lista de Fachin é o clímax de um processo que acaba com as lideranças políticas do país. “E liderança não é uma coisa que se produz em cada esquina, a toda hora. A lista abre caminho a uma nova era da democracia, muito mais sujeita ao voluntarismo, amadorismo e aventureiros.”

Nesse cenário de terra devastada, não sei se ainda cabe algum otimismo. Mas é possível arriscar a especular que Nelson Jobim pode ser o nome da conciliação. Ele pode ser o curinga e o Palácio do Planalto o seu destino.

Leia também:

(de 18/junho/2017): Roberto Amaral: país está diante de golpe dentro do golpe, mas ruas apontam para democracia


Post publicado originalmente em 15/04/2017 (15:44)
Atualizado em 19/05/2017

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