José Cruz/ABr
Desde o processo do golpe até seu desfecho e mesmo depois,
com esse governo de impostores, eu vinha dizendo a amigos mais próximos que meu
relativo otimismo se baseava na tradição brasileira de conciliação.
Por causa dessa tradição, acreditava que em algum momento os
representantes dos setores civilizados da política brasileira acabariam
entrando num acordo para, pelo menos, salvar a democracia e a Constituição.
Ontem, conversando com o velho e bom socialista Roberto
Amaral para uma matéria, ele fez a seguinte consideração sobre o cenário
sombrio da crise brasileira, agravada com a tal lista do Fachin: “A tradição da
política brasileira, lamentavelmente, é sempre a conciliação. Podemos estar
diante de uma grande crise ou de uma grande composição. Nenhuma das duas
hipóteses interessa à República”.
O professor, como eu o chamo, ex-presidente do PSB, falou
sobre as articulações que, pelo que se especula, estariam sendo conduzidas por Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa (de Lula), da Justiça (de FHC) e ex-presidente do STF. O que não é pouca coisa para uma biografia...
No fim de março, Jobim saiu-se com uma pregação de paz,
propondo que “os personagens de oposição
e os da situação” entrem num acordo para evitar o que ele chamou
de “um Trump caboclo”. Jobim também fez enfática defesa de Lula e condenou
veementemente a perseguição contra o ex-presidente para evitar que ele se candidate
e, possivelmente, venha a ser eleito. "Se nós o proibirmos de ser
candidato, estamos fazendo a mesma coisa que fizeram os militares. Contra nós!”,
exclamou.
Disse ainda: "Qualquer tipo de linha de proibição
[contra a candidatura de Lula], nós aguçamos a radicalização. Nós podemos
impedir, agora, que ele seja candidato? Por quê? Porque temos medo de que seja
eleito?"
O problema é que a criminalização da política está destruindo
o país, suas lideranças políticas, a economia, a Petrobras, que está sendo retalhada
e seu patrimônio entregue às petroleiras estrangeiras. O pré-sal, tesouro de
valoro incalculável, vendido a preço de banana. Apesar da indignação de setores
esclarecidos da sociedade, a sanha punitivista e denuncista levou o país a um
patamar tão baixo que é cabível perguntar se existe volta, se há possibilidade de isto aqui um
dia poder ser chamado da nação.
Hoje, “o sistema político brasileiro está absolutamente
prisioneiro do poder Judiciário e do Ministério Público", disse o deputado
Wadih Damous na mesma matéria acima citada. "Eles dão as cartas, são os senhores do
tempo (...) Ao manipular o tempo, se manipula a política.”
E, como nota o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, a lista de Fachin é o clímax de um processo que acaba com as lideranças políticas do país. “E liderança não é uma coisa que se produz em cada esquina, a toda hora. A lista abre caminho a uma nova era da democracia, muito mais sujeita ao voluntarismo, amadorismo e aventureiros.”
E, como nota o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, a lista de Fachin é o clímax de um processo que acaba com as lideranças políticas do país. “E liderança não é uma coisa que se produz em cada esquina, a toda hora. A lista abre caminho a uma nova era da democracia, muito mais sujeita ao voluntarismo, amadorismo e aventureiros.”
Nesse cenário de terra devastada, não sei se ainda cabe
algum otimismo. Mas é possível arriscar a especular que Nelson Jobim pode ser o
nome da conciliação. Ele pode ser o curinga e o Palácio do Planalto o seu
destino.
Leia também:
(de 18/junho/2017): Roberto Amaral: país está diante de golpe dentro do golpe, mas ruas apontam para democracia
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Post publicado originalmente em 15/04/2017 (15:44)
Atualizado em 19/05/2017
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