Reprodução/Youtube
Não vou repetir dados e informações biográficas sobre
dom Paulo Evaristo Arns, que foram
divulgadas à exaustão hoje (ontem).
Quero apenas contar duas passagens de minha vida em que tive
a honra de, mesmo que rapidamente, trocar algumas palavras com esse grande
homem.
Uma foi em 2000, no dia da eleição que levou Marta Suplicy à
prefeitura de São Paulo. Chegávamos à PUC-SP, para votar. Quando passávamos
pela entrada da universidade, à rua Monte Alegre, um carro parou e dele desceu dom Paulo Evaristo Arns. Surpresos com a feliz coincidência (mas dizem que
coincidências não existem) dirigimo-nos a ele, dizendo algo como "veio
votar, Dom Paulo?", só para ter algo o que ouvir dele.
Com o olhar carismático e expressivo, e o falar calmo
característico dos homens que têm todas as coisas para dizer, e, sabedores
disso, sempre falam sem pressa, ele fixou os olhos nos olhos da Carmem e disse:
"chegou a hora das mulheres", com um sorriso convicto e alegre.
A outra ocasião foi ainda antes, cerca de um ano depois da
eleição de Luiza Erundina (1988). Era um evento no Tuca, o teatro da PUC de
tantas histórias, e eu, jornalista ainda muito jovem, me candidatei a fazer uma
pergunta ao arcebispo. Lembro que, diante daquela sumidade que tanto e sempre
respeitei, ao dirigir-me para pegar o microfone eu tremia. A insegurança de
jovem jornalista cresceu enormemente
naquele momento, naquela situação. É que a gente se sente pequeno às vezes,
quando está diante de alguém espiritualmente poderoso como ele.
Minha pergunta foi o que ele podia comentar sobre o papel decisivo
da Igreja, a qual ele comandava em São Paulo como arcebispo, na eleição de
Erundina. (No dia da eleição, a Folha de S. Paulo dera uma matéria de página
inteira, sob o título: "Igreja libera fiéis para voto em Erundina" --
cito o título de memória, que pode ser diferente em algum detalhe, mas era esse
essencialmente. Não há dúvida de que Dom Paulo foi decisivo naquela eleição.)
Hoje, 27 anos depois, não me lembro nem mesmo qual foi exatamente a
resposta de Dom Paulo. Mas foi uma resposta política, como se dissesse que o que tinha de ser feito já fora feito.
Enfim, dom Paulo Evaristo Arns, aos 95 anos, terminou sua
missão. Uma grande missão, cumprida com honra, serenidade e disposição para
ajudar a melhorar o mundo.
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