"Não esperem de mim o obsequioso silêncio dos
covardes"
(Dilma Rousseff, 29 de agosto de 2016)
(Dilma Rousseff, 29 de agosto de 2016)
Marri Nogueira/Agência Senado
A defesa que a presidente Dilma Rousseff fez de si mesma no
espúrio processo de impeachment no Senado Federal no dia de hoje foi histórica.
O que não sou eu quem diz, mas pessoas como o jurista Luiz Moreira, para quem
Dilma deu uma “aula” no Congresso. Escolhi a foto acima, apesar de haver outras melhores, porque me parece simbólica da coragem dessa mulher no contexto grotesco a que chegou o país.
Seria demasiado cansativo, para mim que estou desde o início
da audiência de Dilma trabalhando, esmiuçar ou discorrer sobre o assunto. Chamou
minha atenção a resposta dela a uma questão colocada pelo senador Telmário Mota
(PDT-RR): “com quem a senhora vai governar (se voltar ao cargo)?”
Dilma lembrou o PMDB de Ulysses Guimarães para fazer uma
análise política sobre os danos causados ao país pelo esvaziamento do centro
democrático. Disse que o Brasil sempre teve um centro democrático que
congregou lideranças progressistas, mas esse centro se esfacelou, o que é simbolizado
pelas assombrações (termo meu) de Eduardo Cunha e Michel Temer.
“Esse PMDB, que teve no deputado Ulysses Guimarães a sua
maior força, mas não só, esse centro sofreu uma alteração profunda, deixando de
ser democrático.”
“O centro democrático perdeu a hegemonia dos progressistas e
passou a ter a mais retrógrada posição que o país já assistiu”, disse.
Respondendo a um senador que vai entrar para a história como
alguém que jogou sua biografia no lixo, Cristovam Buarque, que ardilosamente
quis saber por que ela escolheu Michel Temer duas vezes como vice de sua chapa
e hoje o chama de golpista, ela lembrou o diálogo entre o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) e o delator Sérgio Machado, que veio a público em maio, em que Jucá
afirma: “O Michel é Eduardo Cunha”.
Disse ainda: “Supúnhamos que (Temer) fosse desse centro
democrático progressista, transformador. Achamos que representava o que havia
de melhor no PMDB.”
“Quando (Jucá) disse que Michel é Cunha, quis dizer que
Temer integra o grupo de Eduardo Cunha. Quando o centro democrático deixa de
ser progressista e passa a ser golpista e conspirador, ele tem um líder. Michel
Temer é um coadjuvante. O líder é, ou era, Eduardo Cunha”, continuou.
Luiz Moreira, a quem entrevistei, explicou por que o discurso no Senado foi
histórico, entre outros motivos: “Ela responde com muita altivez essa onda
misógina, de dizerem que ela é frágil, que estaria justificada essa violência
por ser uma mulher e uma mulher frágil. Ela responde isso com muita
personalidade, muito domínio técnico e político da questão. Dilma hoje deixa
uma grande mensagem para o Brasil” (leia aqui)
Ela terminou a aula falando de economia, explicando à feroz
advogada Janaina Paschoal questões que você pode ler aqui.
O que me pareceu muito importante – mais do que isso, digno
de nota – foi a avaliação de que os atores políticos precisam de maturidade para
superar as mesquinhas disputas políticas e o malfadado “quanto pior, melhor”, e
a frase com que definiu essa necessidade: “Ou se entende esse processo ou
vamos continuar a fazer mal a nós mesmos”.
É inquestionável que, se havia dúvidas de que Dilma é uma
estadista, ela tratou de esclarecer que é. Se perder a votação, é porque o Brasil
merece a tragédia.
4 comentários:
A Dilma, ontem, deu um show. Show de conhecimento sobre política, ética e economia. Platão não deixaria escapar a oportunidade de aprovar sua retórica. Tenho até a impressão de que a advogada de acusação caiu em lágrimas sinceramente, pois não teve como não se render ao discurso carismático de Dilma Roussef. Ontem achei, depois de ouvi-la, que as coisas iriam se encaminhar. Mas hoje já me parece diferente. No Brasil, o fim do buraco não chega nunca. Afastar Dilma definitivamente é um suicídio, não político apenas, mas quase literal. Estamos perdendo, por muito tempo, ou para sempre, a oportunidade.
Paulo, tive a mesma impressão que você: Dilma deu um show. Mas hoje pareceu um dia normal. Mas o dia de hoje foi estúpido mesmo, porque teve um monte de trogloditas cagando pela boca. Mas o que importa é a votação. A própria Folha disse que o golpe tinha, ao início da sessão, 48 votos, 6 a menos do que o necessário. A ver. O problema é que o dia de hoje ofuscou o de ontem.
E pior, Gabriel, é vermos, depois da votação, que todos os próximos dias, no que diz respeito a esse impropério politico, virão ofuscar o de ontem.
Parei.
Só espero que a Lava Jato não pare por conta das mudanças no cenário político. Machado já jogou toda a verdade no ventilador, tudo que os corruptos tentam a todo custo encobrir. Queremos justiça!
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