Foto: Alexandre Maretti
Esta semana conversei com o cientista político Humberto
Dantas sobre a situação a que o país chegou, na minha opinião uma das maiores
crises de sua história desde a proclamação da República (1889), de dimensão
equivalente a 1932, 1954, 1964, e muito superior a 1989-1992.
Em 1992, com a queda de Collor, e Itamar Franco como seu
sucessor, finalmente o horizonte clareou e o país começou a sair das trevas de
então, após 21 anos de regime militar, sucedido por um governo "civil"
em 1985, presidido por José Sarney, justamente um dos líderes civis da ditadura
e um dos maiores representantes do fenômeno brasileiro conhecido como
coronelismo.
Bem, mas, voltando, Humberto Dantas fez uma
observação com a qual concordo absolutamente, a propósito da escolha de André Moura (PSC-SE), aliado
de Eduardo Cunha e acusado de uma série de crimes, para a liderança do governo
Temer na Câmara. Dantas avalia que esse fato simbólico deve ser analisado sob uma perspectiva mais profunda do que a
abordagem superficial, que já se tornou clichê, segundo a qual uma
reforma política serviria como panaceia para resolver a crise de representação
do sistema político. Diz Humberto Dantas:
“Mudar o sistema não é exatamente o meu passo. A minha reforma política é educar. Questiona-se como uma figura como essa é ministro, como aquela outra (André Moura) é líder do governo. Mas a questão é muito mais grave: como um fulano como esse é deputado federal? Que eleitores votam num sujeito acusado de homicídio? O que é o Legislativo para a sociedade brasileira?”
A questão colocada por Humberto me remete a uma análise de
André Singer, em seu fundamental Os sentidos do lulismo (Companhia das Letras).
Segundo Singer, a população que ascendeu socialmente, beneficiada pelos programas sociais e pela política
de inclusão dos governos do PT, não trouxe consigo,
nessa ascensão, os valores da solidariedade próprios da esquerda.
Por quê? Porque, penso eu (e pensam muitos), não houve um investimento (financeiro e
político) estruturante na educação (e na educação política) desde 2003, apesar
da gestão histórica de Fernando Haddad como ministro da Educação de Lula, um
ministro muito sofisticado para um país que trata a educação de maneira canalha. Se Haddad não tivesse feito nada no cargo de ministro (mas fez bastante), só o fato
de ter sido mentor do ProUni já justificaria seu trabalho.
Contudo, a população de dezenas de milhões de pessoas incluídas
por Lula e Dilma foi incentivada durante mais de uma década a comprar, comprar
e comprar. Comprar carro, geladeira, fogão, ar-condicionado, mais carro, mais
geladeira... Mas esses milhões de pessoas que descobriram o consumo não sabem nem
o que é pré-sal, Brics ou soberania, embora muitas delas tenham sido beneficiadas
pelo Bolsa Família e ProUni.
A falta de investimento financeiro e político (por meio de
reforma constitucional e/ou de reforma profunda e estruturante do Plano
Nacional de Educação), quando Lula ou Dilma tinham 80% de aprovação, se revelou
fatal no processo de mais de 13 anos iniciado em 2003.
Fui até xingado por amig@s, por ter criticado a inação de Lula/Dilma na Educação, apesar da grande gestão de Haddad. Mas esses amig@s não entenderam nada, nem mesmo a dialética.
Fui até xingado por amig@s, por ter criticado a inação de Lula/Dilma na Educação, apesar da grande gestão de Haddad. Mas esses amig@s não entenderam nada, nem mesmo a dialética.
Nenhum comentário:
Postar um comentário