O que mais me marcou no belíssimo ato político do Partido
dos Trabalhadores no Teatro da PUC de São Paulo, o Tuca, ontem dia 20, foi aquela multidão de
jovens com expressão forte e determinada, mas alegre e falando do futuro. Sem ódio, sem preconceitos, só mesmo querendo um mundo melhor.
ICHIRO GUERRA / DIVULGAÇÃO
Sou um “filho da PUC”, como se diz, onde me formei em
Comunicações em 1988, quatro anos depois das Diretas Já e um ano antes de
Fernando Collor de Mello ser eleito presidente do Brasil, o que obscureceu o
futuro de minha geração naquele momento.
Por isso, o evento no velho Tuca da PUC, onde aprendi coisas
e conheci pessoas fundamentais, teve também um significado afetivo. No período em que fui estudante de jornalismo na PUC, D. Paulo
Evaristo Arns era arcebispo de São Paulo e influenciava decisivamente a universidade
católica. Era uma época em que a PUC era barata e era um ambiente politicamente efervescente. Dom Paulo foi um dos responsáveis pela eleição de Luiza Erundina em
1988.
Fora o aspecto histórico-afetivo pessoal, o ato político no
Tuca desta reta final de campanha, que reuniu Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, teve um caráter político
ao mesmo tempo simbólico e concreto. No palco desse teatro emblemático de São
Paulo, estavam reunidas lideranças políticas como Fernando Haddad, o
ex-presidente do PSB Roberto Amaral, Gilberto Maringoni do PSOL, Michel Temer,
artistas e intelectuais como Alfredo Bosi, Zé Celso Martinez Corrêa e Raduan
Nassar, entre muitas outras figuras.
O grande jurista Celso Antonio Bandeira de Mello também
estava no Tuca. Disse ele, em seu discurso, que Aécio Neves é “uma folha em branco”.
No palco do Tuca, como escrevi na matéria para a RBA, a
escritora e artista plástica negra Raquel Trindade fez discurso emocionado, no
qual clamou pelo Estado laico, pela diversidade cultural e pelo direito de
culto. Ela contou que viveu um momento difícil quando da ascensão da
ex-candidata Marina Silva (PSB) nas pesquisas. “Entraram no meu quintal e
quebraram os assentos dos meus orixás. Todas as religiões têm de ser
respeitadas. Nós vivemos num país laico”, disse ela, que naquele
momento parecia uma mãe de santo.
O evento no Tuca me deixou otimista. Pelas notícias, Pernambuco
também registrou um evento importante nesta reta final, quando a militância
petista costuma decidir.
E a pesquisa Datafolha – que dá 4 pontos percentuais de
Dilma sobre Aécio, com crescimento da presidente entre mulheres, entre a
população de 2 a 5 salários mínimos e no Sudeste do país – já revela o que se divulgava
nos trackings na sexta-feira, dia 17.
Acredito que a única coisa que pode evitar a reeleição de
Dilma é o imponderável – inerente à política brasileira desde sempre.
Como se diz no futebol, "somos favoritos, mas ainda não ganhamos nada". No entanto, ao ver aquela multidão de jovens na rua Monte Alegre, pensei em Brecht, que escreveu:
Mas quem é o partido?
Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
Quem é ele?
Nós somos ele.
Você, eu, vocês — nós todos.
Ele veste sua roupa, camarada, e pensa com a sua cabeça
Onde moro é a casa dele, e quando você é atacado ele luta.
Mostre-nos o caminho que devemos seguir, e nós
o seguiremos como você, mas
não siga sem nós o caminho correto
Ele é sem nós
o mais errado.
Não se afaste de nós!
Podemos errar, e você pode ter razão, portanto
não se afaste de nós!
Que o caminho curto é melhor que o longo, ninguém nega
Mas quando alguém o conhece
e não é capaz de mostrá-lo a nós, de que nos serve sua sabedoria?
Seja sábio conosco!
Não se afaste de nós!
(Bertolt Brecht)
4 comentários:
Caro Eduardo e Leitores,
O evento ocorrido na PUC e vastamente comentado nas redes me remeteu à campanha de 89, segundo turno entre Lula e Collor. A atmosfera política era muito similar, contagiante, muito apreensiva e de resultados imprevisíveis, tal como agora.
Edu, quando eu vi,..lembrei destes tempos, e pensei no quanto vc deveria estar emocionado, ali!
Eu vi pelo Tijolaço, o Fernando enlouquece. Depois fui ao RBA e vi que era tu a cobrir a matéria, jóia.
Bão, mano felicidades, teu presente de aniversári será Dilma presidente de novo!
Saravá
Saravá!, mano, assim seja.
Acho que as semelhanças entre 89 e 2014 existem. Mas 25 anos atrás o povo brasileiro era muito mais manipulável. Ele amadureceu depois de tanto sofrer com Collor e FHC. É nessa maturidade que eu aposto.
Edu, só tenho a parafrasear a música "foi bonita a festa, pá". Foi divina, maravilhosas. Tanto do lado de fora quanto para quem conseguiu. Entrar. Até a vitória! Bjs vermelhos pra você e Carmen
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