segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Film Socialisme de Godard: poesia e política


“Você gosta de Jean-Luc Godard? (Se não está por fora).”

Lembrei  desta frase de Glauber Rocha hoje, vendo Film Socialisme (2010), de Godard. No estilo fragmentado e não linear característico, uma discussão sobre a velha e triste Europa forjada por sangue e guerras, entre os passageiros de um cruzeiro no Mediterrâneo, ou entre pessoas comuns que vão aparecendo como se já fizessem parte da história desde sempre.



Uma discussão permeada pelos ventos do Oriente Médio.

A velha discussão francesa sobre liberdade, igualdade e fraternidade. Uma discussão tão velha quanto hipócrita.

A Argélia sufocada pelo cruel colonialismo francês

Referências diretas ao Egito, Palestina, Odessa, Grécia, Nápoles e Barcelona, todos, com exceção de Odessa (na Ucrânia), países ou regiões banhados pelas águas do mar Mediterrâneo. Odessa, na história, é uma licença poética?  Em se tratando de Godard, esta é uma das possibilidades:  na escadaria Richelieu de Odessa é onde é filmada a antológica cena do massacre no filme O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein (1925), uma das cenas-símbolo da história do cinema e que, em Film Socialism de Godard, como que amarra as referências fílmicas e históricas que dialeticamente se relacionam. A narrativa em torno do preço que tantos povos pagaram pela liberdade.

"A Liberdade custa caro, mas não se pode comprá-la com ouro nem com sangue, mas com covardia, prostituição e traição."

"Quando a lei não é justa, a justiça ultrapassa a lei"
As mazelas e os sofrimentos que viveram Egito, Palestina, Odessa, Hellas (Grécia), Nápoles e Barcelona é como o pano de fundo por trás das imagens que vão se sucedendo como livre-associações, como poemas e versos em forma de imagens.

As imagens falam: a futilidade dos valores ocidentais contemporâneos, por exemplo.

O dinheiro: “o dinheiro foi inventado para que os homens não se olhem nos olhos”.

Um símbolo da morte: tourada.

Um símbolo da majestade de tudo: o mar.

Um símbolo eterno do cinema: Godard.

Por isso faço minhas as palavras de Glauber: “Você gosta de Jean-Luc Godard? (Se não está por fora)”.

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