“Você gosta de Jean-Luc Godard? (Se não está por fora).”
Lembrei desta frase
de Glauber Rocha hoje, vendo Film Socialisme (2010), de Godard. No estilo fragmentado e não linear característico,
uma discussão sobre a velha e triste Europa forjada por sangue e guerras, entre
os passageiros de um cruzeiro no Mediterrâneo, ou entre pessoas comuns que vão
aparecendo como se já fizessem parte da história desde sempre.
Uma discussão permeada pelos ventos do Oriente Médio.
A velha discussão francesa sobre liberdade, igualdade e
fraternidade. Uma discussão tão velha quanto hipócrita.
A Argélia sufocada pelo cruel colonialismo francês
Referências diretas ao Egito, Palestina, Odessa, Grécia, Nápoles
e Barcelona, todos, com exceção de Odessa (na Ucrânia), países ou regiões banhados pelas águas do
mar Mediterrâneo. Odessa, na história, é uma licença poética? Em se tratando de Godard, esta é uma das
possibilidades: na escadaria Richelieu
de Odessa é onde é filmada a antológica cena do massacre no filme O Encouraçado
Potemkin, de Serguei Eisenstein (1925), uma das cenas-símbolo da história do
cinema e que, em Film Socialism de Godard, como que amarra as referências fílmicas e históricas que dialeticamente se relacionam. A narrativa em
torno do preço que tantos povos pagaram pela liberdade.
"A Liberdade custa caro, mas não se pode comprá-la com ouro
nem com sangue, mas com covardia, prostituição e traição."
"Quando a lei não é justa, a justiça ultrapassa a lei" |
As mazelas e os sofrimentos que viveram Egito, Palestina,
Odessa, Hellas (Grécia), Nápoles e Barcelona é como o pano de fundo por trás das imagens
que vão se sucedendo como livre-associações, como poemas e versos em forma de
imagens.
As imagens falam: a futilidade dos valores ocidentais
contemporâneos, por exemplo.
O dinheiro: “o dinheiro foi inventado para que os homens não
se olhem nos olhos”.
Um símbolo da morte: tourada.
Um símbolo da majestade de tudo: o mar.
Um símbolo eterno do cinema: Godard.
Por isso faço minhas as palavras de Glauber: “Você gosta de
Jean-Luc Godard? (Se não está por fora)”.
Leia também: Favoritos do cinema (6): Acossado de Godard
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