quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Sobre as eleições na cidade de São Paulo
Esta é uma das eleições mais esquisitas da história recente da cidade de São Paulo.
Celso Russomanno, de um partido insignificante como era o partido de Fernando Collor nas eleições presidenciais de 1989, se aproveitou do vácuo deixado pela briga PT x PSDB e se cacifou de tal forma que hoje os partidos de Lula e de FHC sem veem na iminência de sequer ir ao segundo turno, e deixar o terceiro maior orçamento do país (atrás apenas do Brasil e do Estado de SP) nas mãos de um aventureiro.
Um aventureiro descendente do malufismo. Não podemos esquecer que destruir o malufismo era uma obsessão do PSDB de Mário Covas, causa abraçada por vários setores da “grande” imprensa paulista, o grupo Estado à frente, nos anos 90.
O tempo passou, e houve o catastrófico duplo mandato de Fernando Henrique Cardoso, cujo maior e tenebroso símbolo foi a venda da Vale do Rio Doce (ou seja, da riqueza do subsolo brasileiro, dos minérios, da terra do país), sob financiamento do Estado, leia-se BNDES. E depois veio o incrivelmente bem sucedido duplo mandato de Lula, cujos feitos são inegáveis na história do Brasil (não é intenção deste post enumerá-los), e continuam sendo sob Dilma Rousseff.
Podemos fazer críticas, como as que consideram que, com toda a popularidade e o poder que esta acarreta, Lula/Dilma poderiam ter avançado mais na tentativa de democratizar os meios de comunicação. Continuamos reféns dos podres poderes das poucas famílias que detêm o controle da mídia (Globo, Folha, Estadão, Abril, fora o loteamento de frequências de rádio e tv), que manipulam informações a seu bel prazer, mas continuam contando com gordas verbas publicitárias federais. Entra aí o Supremo Tribunal Federal, com o espetáculo sórdido e anti-republicano do julgamento do “mensalão”. Não tivemos, como a Argentina teve, uma Ley de Medios. Porém, devemos também reconhecer que o Brasil é um país muito mais complexo do que o país de Cristina Kirchner. Ponto para nós.
E, em que pese tudo isso (mídia, STF etc), o Brasil avança. Só em São Paulo é que as coisas insistem em se manter tradicionais, em se manter TFP, truculentas. Aqui ainda continuam acreditando que a Revolução Constitucionalista de 1932 foi progressista, quando na verdade foi a manifestação dos arquétipos paulistanos mais arraigados, reacionários e egoístas, provenientes da sociedade dos barões do café.
E por causa da rejeição da elite paulistana à classe trabalhadora, do ódio de classe que aqui viceja contra Lula e o que ele representa, do ódio racista de São Paulo, mais uma vez a capital está à beira do abismo, que, na atual conjuntura, representa Celso Russomanno, uma espécie de fusão entre o janismo e o malufismo.
Fernando Haddad e José Serra estão supostamente cabeça a cabeça para ir ao segundo turno contra o candidato do neomalufismo. Isso é o que dizem as pesquisas. Mas até que ponto se pode crer nas pesquisas?
No seu afã de combater o PT, Rede Globo, Folha de S. Paulo, Estadão, STF, Veja etc. estão trabalhando por Serra contra Haddad. Ao que parece, Russomanno já está no segundo turno. Russomanno da Igreja Universal contra Serra da Globo. O "pior dos mundos". O problema para o grupo dos oligarcas ligados à Globo é que, se Serra for para o segundo turno, Russomanno será o prefeito. Não que com Serra seria melhor para São Paulo. A questão não é essa. A questão é que São Paulo, politicamente, com Serra ou Russomanno, continuará um lugar chato de se viver. Um lugar opressivo, "protofascista", como diz Marilena Chaui. E a oligarquia terá vencido aqui, mais uma vez.
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Um comentário:
Prefiro esperar mais quatro dias pra ter uma posição sobre os números das pesquisas em São Paulo. Não sei até que ponto são verdadeiros e até que ponto são mentirosos. O Russomano, supostamente, tinha 35% dez dias atrás, agora os três estão embolados, pois o cara caiu 10% em uma semana ou dez dias. Posso estar redondamente enganado, mas está me cheirando a treta. Será que, no início, o candidato pentecostal tinha mesmo tudo isso, ou terá sido estratégia (talvez até fracassada) das pesquisas pra angariar votos pro Serra (tipo: "se você repudia o mensalão, vote no Serra, ou o Russomano vai ganhar")? Pra quem já viu deixarem o julgamento no STF para o período de eleições não é estranho ver o "filé mignon" (José Dirceu e Genoíno) ser julgado e trazido a público quatro dias antes do pleito. O que fica claro, pra mim, é que esse modelo de democracia é falso, é apenas uma outra maneira de subordinar o povo ao poder do mercado e de seus donos. Bem, vamos aguardar o resultado das urnas eletrônicas. Acho muito possível que o Haddad ganhe as eleições. O PT está dando um trabalho desgraçado, certamente não contavam com essa.
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