sábado, 6 de agosto de 2011

Outra pequena jóia do cinema iraniano: "Procurando Elly"

Se você estiver na locadora e não souber que DVD alugar, escolha o belíssimo Procurando Elly, filme de 2009 do diretor iraniano Asghar Farhadi, ganhador do Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim.

Taraneh Alidoosti interpreta Elly

O enredo é banal. Um grupo de amigos está na estrada procurando o local onde passarão três dias à beira da praia. A casa que imaginavam não dá certo, e eles acabam arranjando outro lugar, uma casa velha e suja. Mas, bem humorados e dispostos, eles alugam o imóvel. Ahmad (Shahab Hosseini), que morou por anos na Alemanha, volta ao Irã. Sua amiga Sepideh leva uma conhecida para apresentar a ele. Essa amiga é Elly, professora da filha de Sepideh.

O evento do filme é o desaparecimento de Elly. Ela fugiu envergonhada pela situação constrangedora? (lembremos, eles estão no Irã, onde o adultério, como se sabe, pode levar uma mulher a ser executada a pedradas). Ela se suicidou? Descobre-se que Elly tinha um noivo. O sumiço da moça e essa descoberta chocante para os personagens dão o tom dramático que contrasta com a simplicidade do início.

O enredo banal poderia ser tedioso, se não estivéssemos falando de cinema iraniano, no qual é do cotidiano e das coisas mais simples que se extraem a beleza e a poesia. No caso de Procurando Elly, é marcante a exuberante paleta de cores que explode na película com a naturalidade mesma do cotidiano: os lenços e roupas das mulheres, por exemplo, muitas vezes em contraste com as cores da natureza, como o mar.

O peso terrível do Estado iraniano está presente no filme, mas sutilmente, nas entrelinhas dos diálogos. A terrível moral vige o tempo todo. Os filmes iranianos, mesmo no visceral A Caminho de Kandahar (2001, direção de Mohsen Makhmalbaf), não usam a violência como um artifício fácil. A violência é implícita, está ali, na atmosfera, mas para o espectador não se consuma. Você não vê.


A atriz Golshifteh Farahani no papel de Sepideh
 Um dos momentos mais bonitos de Procurando Elly é quando Sepideh (Golshifteh Farahani) vive um drama dilacerante antes de “depor” ao noivo da desaparecida. Sepideh está dividida entre sujar a honra da amiga Elly, que sumiu (lembremos novamente: é o Irã) e arriscar os amigos, apavorados com a possibilidade de o noivo saber que todos eles participaram de um plano para aproximar Elly e Ahmad. Na sociedade dos aiatolás, a flecha do cupido pode ser fatal.

A beleza não fica só nas cores e planos do filme de Asghar Farhadi, ou nas longas sequências que usam o silêncio ou o corriqueiro como matéria-prima da poesia. As mulheres são de uma beleza exótica, exuberante, não-hollywoodiana, com seus olhos amendoados que parecem guardar uma tristeza atávica dos milênios de onde surgiu o povo persa.

Em uma palavra: assista a Procurando Elly. Vale a pena.

PS: no título deste post eu uso a palavra "jóia", com acento. Desculpem, ainda não consegui assimilar a nova ortografia da Língua Portuguesa. Ela me irrita.

Um comentário:

Paulo M disse...

Não estou pronto pra falar do cinema iraniano. "A caminho de Kandahar" é um filme belíssimo. A ver esse "Procurando Elly". A atriz,... Golshifteh Farahani (melhor escrever o nome dela do que falar, rsrs) é uma graça, hein.