sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Favoritos do cinema (11) De Volta para o Futuro


"Vocês podem não estar preparados pra isso...
mas seus filhos vão adorar."
(Marty McFly)



Fotos: Reprodução
Dr. Doc e Marty McFly

Por preconceito ou surpresa, já aconteceu de amigos meus admirarem, ou não entenderem, ou simplesmente brincarem com o fato de eu dizer que gosto muito do filme De Volta para o Futuro (1985). Eu, que gosto de cinema “cult”, de Nouvelle Vague, de Cinema Novo, Neorrealismo italiano, Pasolini, Luis Buñuel...?

Sim, acho De Volta para o Futuro um filme espetacular, genial, e muitas vezes me parece que admitir isso ofende a um certo senso moralista segundo o qual cinema tem de ser “engagée”, seja no sentido político, seja no sentido estético, ou em ambos. Para mim, cinema é cinema.

Várias vezes aconteceu de eu estar zapeando e me deparar com o filme sendo exibido, em algum canal. Resultado: não consigo mudar de canal (claro, isso se o filme não é dublado, porque assistir a filmes dublados para mim é inconcebível).

Mas a magia do filme dirigido por Robert Zemeckis e produzido pelo poderoso e genial Steven Spielberg, 30 anos depois, continua a mesma, ou quase a mesma. Esta semana, exatamente ontem (21), marcou a data em que os personagens Marty McFly e Doc Brown (interpretados por Michael J. Fox e Christopher Lloyd, respectivamente) chegaram ao futuro no segundo filme da trilogia. O futuro era 21 de outubro de 2015.

Mas essa façanha já faz parte do segundo filme da trilogia (de 1989), que é muito ruim e mal consegui assistir – e não é objeto deste post.

De Volta para o Futuro (“o filme”, como se diz hoje em dia, em que McFly vai para o passado) é mágico e inteligente. É ficção científica, sem vulgarizar a ciência ou tratar o público como uma horda de imbecis comendo pipoca “no escurinho do cinema”, como a enorme maioria dos filmes de “ficção científica”; é também comédia (gênero do qual aprecio muito poucos filmes) de qualidade; fala de pessoas medíocres (como as personagens do gênio Flaubert – e aqui peço perdão aos amigos intelectuais liberais, como diria Norman Mailer), mas pessoas medíocres levadas a um destino sobrenatural; trata de questões ou questiúnculas morais e psicológicas como as de todos (ou quase todos) os mortais; possui elementos psicanalíticos bastante marcantes – embora o filme seja dirigido a um público juvenil –, o que se revela principalmente na relação com a mãe, na viagem de McFly pelo tempo.

Além de tudo isso, De Volta para o Futuro é um daqueles filmes que nos (ou me) remete a um tempo em que éramos crianças ou adolescentes. Bons tempos!

Algumas cenas são memoráveis, e só uma espécie de ranzinzice intelectual-acadêmica pode negar isso. Como os diálogos de McFly com o paí, ambos com aproximadamente a mesma idade. Não por acaso, Fly é um trocadilho com o verbo to fly, voar.

Ou, por exemplo, ninguém jamais usou um skate como Marty McFly na sequência (sequência eterna!) em que ele foge dos bad boys liderados pelo brutamontes Biff (Thomas F. Wilson). Aliás, quem não teve um Biff na sua vida? Na minha época (e provavelmente em todas), havia vários Biffs, esse tipo de garoto arrogante, forte e brigão (o tipo cujas células cerebrais se deslocaram para os músculos) que, por qualquer motivo, queria te “pegar na saída” ou te cercava na rua da tua casa. Seja como for, apesar de ser muito magro e menor do que os Biffs da minha vida, em alguns momentos fui obrigado a enfrentá-los, ou por não ter outra opção (o escorpião cercado) ou pelo sentimento de amor-próprio sem o qual eu tinha consciência de que me tornaria um irremediável covarde!


O vilão Biff

Ah, Biff miserável, um dia você vai ver! Nada como saber pilotar um skate ou precisar “salvar” uma garota sendo “atacada” no carro por um Biff qualquer – ainda mais se essa garota é... sua mãe!

O filme, pois, é meio catártico, e não só devido aos temas (inclusive de ficção), mas também pela enorme qualidade técnica, o que é um traço comum em quase todos os filmes produzidos ou dirigidos por Spielberg.

O roteiro e a montagem são hollywoodianos clássicos (cronológicos: com começo, meio e fim bem delineados), mas mesmo assim permite a associação com os sonhos – sem querer comparar, mas só para lembrar, quem levou ao extremo a mistura da realidade com a imaginação foi Buñuel.

Bem, teria mais coisas a dizer sobre De Volta para o Futuro (o primeiro). Mas ainda há pessoas que conheço que não o viram. E detesto aquele tipo de crítico de cinema que, para mostrar que está acima de todos em sua sabedoria e conhecimento, se compraz em contar o filme ou passagens capitais dos filmes, o que, na verdade, só mostra uma espécie de perversidade enrustida – e acho então que preciso parar por aqui.

Seja como for, termino a postagem com a sensação de dever cumprido, já que – não posso negar – adoro De Volta para o Futuro (repito: o primeiro!).

Publicado originalmente em 22/10/15, às 21:52

*******

Leia também, da série Favoritos do cinema:

Paradise Now

Os Imperdoáveis

Meu nome não é Johnny








Nenhum comentário: