"Renegar a política é renegar a humanidade"
(Marco Ferreira, por e-mail)
(Marco Ferreira, por e-mail)
"Quem sabe estudando as razões pelas quais tanto se
matou por mera discordância ideológica possamos alcançar mais adiante um
estágio evolutivo, em que se discorde tolerantemente."
A frase não é sobre o Brasil de Michel Temer ou sobre alguma
ditadura latino-americana. É do livro Os Cátaros e a Heresia Católica, de
Hermínio C. Miranda, que estou lendo.
Cátaros (do grego καϑαρός - katharós - "puro" ou "limpo") são um povo cristão que, em torno do ano 1.200, principalmente no sul da França, foi perseguido e exterminado pela Igreja Católica e suas Cruzadas, sob todas as formas de massacres, torturas e execuções, incluindo fogueiras em que se queimavam dezenas de pessoas de todas as idades.
Acusados de hereges, os cátaros foram perseguidos por
pregarem um cristianismo não contaminado pela doutrina católico-romana,
corrupta, defensora dos interesses terrenos, que destruiu incalculável patrimônio
histórico e todo conhecimento (livros, culturas e povos) que de alguma forma
ameaçava seu império. O cristianismo dos cátaros seria uma
doutrina mais próxima de Cristo, personagem do qual, de resto, pouco se sabe.
Esse Cristo na realidade é uma entidade dual, contraditória
- considerando as diferentes versões ou interpretações. As histórias em torno
dele expressam posições antagônicas: ao mesmo tempo em que recomenda,
a quem levar uma bofetada, oferecer a outra face, ele declara, segundo Mateus
(10:34): "Não penseis que vim traz paz à Terra; não vim trazer paz, mas
espada".
Qual é o verdadeiro Jesus? O construído por Roma com certeza
não é o de Pier Paolo Pasolini, diretor do belíssimo Il Vangelo secondo Matteo (1964),
cujo Cristo veio trazer a espada.
Se, de acordo com a igreja romana, Jesus foi concebido por
uma mãe virgem, os relatos históricos a que se tem acesso (filtrados por 2 mil
anos e quase totalmente apagados pela genocida "Igreja de Pedro") dão
margem a interpretações bem menos fantasiosas. Por exemplo: Maria Madalena, mulher
reduzida a uma prostituta pela "Tradição", teria sido, na verdade,
companheira e amante de Jesus, e inclusive mãe de descendentes seus. Tomé, presumem
intérpretes, era irmão de Jesus. Ou, pelo menos, um outro, como diria Borges.
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Papa Gregório IX instituiu a "Santa Inquisição" |
"A campanha militar (contra os cátaros) encerrou-se
tecnicamente com a tomada de Montségur, em 1244, onde foram queimados vivos
mais de 200 cátaros, numa só fogueira gigantesca, que iluminou os céus com as
chamas do ódio e deixou espalhadas no chão da história 'as cinzas da
liberdade', na expressão que Michel Roquebert colocou no título de um de seus
livros", escreve Hermínio C. Miranda.
A "Santa Inquisição" foi instituída pelo "santo"
Papa Gregório IX, em 1233, ou seja, 11 anos antes do extermínio definitivo dos
cátaros.
Os Cátaros e a Heresia Católica é pois uma interessante
abordagem histórica. Como o autor é espírita, sua análise do tema passa por
associações que, segundo ele, estranhamente começaram a ser percebidas na
Europa, particularmente na Inglaterra, sete séculos depois do extermínio dos
cátaros, em meados do século XX. Essas associações apontariam para evidências
espiritualistas relacionadas à reencarnação.
Os cátaros também são conhecidos como albigenses, em
referência à cidade francesa de Albi, onde se considera que se originou esse
movimento.
Ao pesquisar questões relativas aos cátaros, é também muito
interessante saber que havia sinais de inegável familiaridade entre esse povo e
os Cavaleiros Templários, também perseguidos pela Inquisição de "tenebrosa
memória", como diz o autor do livro.
As pessoas fazem confusão entre Templários e Cruzados. É preciso
pesquisar um pouco. Suas histórias se imbricam, mas não se confundem.
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Todavia, as sombras do passado e as farsas da história
oficial dos séculos não me afastam da minha própria história. Eu quase poderia
dizer que prefiro ler Truman Capote, J. D. Salinger ou Graham Greene, que
são mais próximos do que eu sou, embora já estejam velhos. Mas acho melhor não
dizer. Nos tempos atuais, já não se sabe o que é velho ou o que é novo.
*Publicado originalmente em 26 de novembro de 2016, à 00:56
*Publicado originalmente em 26 de novembro de 2016, à 00:56