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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Hector Babenco (1946-2016), um diretor diferenciado


Reprodução/Wikipédia
São Paulo – O cineasta Hector Babenco morreu na noite de ontem (13), em São Paulo, de parada cardíaca, aos 70 anos. Ele era argentino (nascido em Mar del Plata) naturalizado brasileiro e radicado no Brasil há 50 anos.

O diretor tornou-se um dos principais diretores do cinema nacional. Dirigiu Pixote – a Lei do Mais Fraco (1982), O Beijo da Mulher Aranha (1985, indicado ao Oscar de Melhor Diretor), Carandiru (2003), Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia (1977), Ironweed (1987),  Brincando nos Campos do Senhor (1991) e Coração Iluminado (1998). O último longa de Babenco, Meu Amigo Hindu, foi lançado em 2015.

Eu não sou ufanista, do tipo que defende o cinema nacional por ser nacional, o que me parece uma miopia crítica. Pelo contrário, o cinema brasileiro muitas vezes me irrita, dadas a precariedade técnica de incontáveis filmes, a carga extremamente teatral das direções e interpretações, a exploração desmedida e ordinária do sexo, além do abuso de temas relacionados à violência.

Mas a competência de Babenco fazia dele um diretor diferenciado. Dois de seus principais filmes, Pixote e Lúcio Flávio, me marcaram justamente por tratar da violência com extrema lucidez. São cinema, e não teatro filmado. Abordam a violência sem exageros vulgares. Não vi Carandiru: na época (2003), como agora, estava cansado da estética da violência do cinema nacional e me parecia que Babeco tinha se rendido a um gênero de filme ("favela movie") que explorava a violência com objetivos comerciais então dominantes.

O cinema brasileiro perde um de seus expoentes.


segunda-feira, 18 de abril de 2011

O gênero "favela movie" está esgotado? Tomara, pelo bem do cinema brasileiro

O diretor André Klotzel (A Marvada Carne, Memórias Póstumas) afirmou o seguinte em entrevista ao jornal Visão Oeste, sobre o cinema rotulado de “favela movie”: “Acho que o gênero se esgotou, pode ser que consiga se renovar. Não tenho interesse em fazer”.

A favela como cenário e tema de filmes de violência explícita realmente já deu o que tinha que dar, se é que acrescentou algo à história do cinema brasileiro mais importante. Eu, particularmente, acho que esse “gênero” catalogado a partir do sucesso de Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002) não só não acrescentou nada como foi prejudicial. Já cansei de ouvir amigos reclamarem dessa cansativa insistência na estética da violência importada do cinema hollywoodiano. Insistência movida a lucro, diga-se.

Cidade de Deus: a estética da violência
Há um ano, falando de seu filme A Alegria (realizado com Marina Méliande), por ocasião de seu lançamento na Quinzena dos Realizadores, em Cannes, o diretor Felipe Bragança comentou em entrevista ao Uol: “Estou muito curioso para saber qual será a reação do público francês, porque é um filme que não fala de favela, violência, tráfico, que são assuntos comumente associados ao cinema brasileiro pelo público estrangeiro. Acho que vão se surpreender”.

Além de serem apelativos, violentos e visarem o lucro na esteira do fenômeno Cidade de Deus com estética do cinema norte-americano mais pobre, esses filmes, entre os quais Carandiru (Hector Babenco, 2003), Tropa de Elite (José Padilha, 2007) e Show de Bola (Alexander Pickl, 2008) criam uma imagem estereotipada não só das favelas, como se ali só existisse a violência, o tráfico e a morte, como também do cinema brasileiro, como notou educadamente o diretor Felipe Bragança na citação acima.

Sabatella e Santoro em
Não por Acaso: ótimo cinema

Se a violência é uma das matérias primas do cinema, isso não quer dizer que essas produções reducionistas e mercadológicas chamadas “favela movie” sejam positivas ao cinema nacional, que é mais do que capaz de realizações fortes, bons ou ótimos filmes, sem apelar para tiros e sangue jorrando. Não por Acaso (Philippe Barcinski – 2007) e Viajo porque Preciso, volto porque te Amo (Marcelo Gomes e Karim Aïnouz), que já resenhei aqui, entre tantos outros, são dois exemplos de como o cinema nacional pode ir longe sem os clichês da violência e tinta vermelha nas favelas.

E não se trata aqui de fazer um libelo contra a violência no cinema. Longe disso. Eu mesmo sou um amante do bom western, pelos motivos que já disse no blog ao escrever sobre Sérgio Leone, e de filmes magistrais em que a violência é tema, como Pulp Fiction, O Poderoso Chefão etc. Trata-se apenas de dizer que, se a moda “favela movie”, limitadora e movida a dólares, além de esteticamente ruim, está esgotada, já vai tarde. Como escreveu Yana Kaufmann no Observatório da Imprensa em 12/4/2011, "Esperamos assistir em breve a evolução do cinema nacional, feita de liberdade, possibilidades e novos universos temáticos".